Pra quem não lembra, Mandiopã era um salgadinho muito popular nos anos 80, a base de mandioca e que tomava forma ao ser mergulhado no óleo quente. Nessa mesma época, o livro “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, fazia sucesso entre os jovens por ser um dos primeiros a serem liberados pela censura militar trazendo palavrões e passagens mais picantes. Este livro e o “Eu, Cristiane F., 13 anos, drogada e prostituída” eram a grande febre da molecada da minha idade.
Mas eu falei do livro do Marcelo porque uma das frases mais marcantes desse livro era justamente sobre o tal salgadinho. O autor contava a sua própria história, de quando estava internado num hospital de Campinas após um acidente traumático em que havia perdido os movimentos das pernas. Nesse hospital, ele era cuidado por um enfermeiro enorme e bonachão, que todas as manhãs chegava bem humorado dizendo aos pacientes: “Não esquenta a cabeça senão caspa vira mandiopã”. E eu guardei essa frase desde então e a repito em muitos momentos, pois acho que foi um grande ensinamento que tive.
É bem verdade que em muitas passagens da minha vida e até por longos períodos eu sofri de uma certa amnésia e me esqueci disso. O resultado foi desastroso e eu ainda pago o preço disso através de algumas prestações no meu “carnezinho do stress”. Durante um período eu esquentava tanto a cabeça que sofria por antecipação. Só de pensar que alguma coisa ruim poderia acontecer que eu já agia como se aquilo fosse iminente ou como se já tivesse acontecido. Quando virei empresário, principalmente, eu me tornei “o estressado”, bem daquele jeito que a gente vê na televisão, nas novelas e filmes, quando o empresário é sempre o estressado que não dorme à noite e fica pensando na queda da bolsa.
Então depois de ter dores lombares, problemas de coluna, queda de cabelos e labirintite, fui aconselhado por um grande amigo que é médico a não esquentar mais a cabeça. Ele me disse pra parar de pensar nos problemas, principalmente antes de dormir. Até então era exatamente isso que eu fazia, ia pra cama pensando em todos os pepinos que poderiam surgir no dia seguinte além daqueles que eu já sabia que iria ter que descascar. Isso me fazia ficar horas acordado e comprometer a energia do dia seguinte. E como disse outro amigo fisioterapeuta, “chega uma hora que o corpo não agüenta e aí começamos a ter problemas”.
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Não sei quem dizia essa frase legal, que “o homem passa a vida inteira perdendo saúde em nome do enriquecimento financeiro, para depois gastar todo o dinheiro que ganhou tentando recuperar a saúde”. Eu achava que isso era balela, mas percebi que não é não. Então creio que valha sim a pena trabalharmos bastante, quantas horas forem necessárias para podermos atingir nossos objetivos, mas manter a mente sadia é fundamental. A minha dica a você, leitor, é que trabalhe intensamente, mas quando for dormir, deixe os problemas do trabalho e da vida para resolver no dia seguinte.
Uma pessoa estressada, além de se matar por dentro, também se torna agressiva e chata. Perde o sorriso e deixa de ser interessante ao convívio dos demais. Normalmente começa a descontar toda a sua raiva nos outros e isso o afasta dos amigos. Sugiro ainda que você não sofra por antecipação, pois a gente tem “mania de bidú” e fica tentando prever o futuro. Pior que isso é que, em momentos de stress, quase sempre nossa previsão é pessimista. Então, como dizia o velho enfermeiro bonachão do livro do Marcelo Rubens Paiva, não esquenta a cabeça, senão caspa vira Mandiopã.