Bananas, bananadas e bananices

Não há quem não conheça a banana, um fruto partenocárpico, comum em regiões tropicais, consumido pela maioria dos brasileiros pelo preço (sempre acessível) e pelo sabor. Dá em pencas, e sem a casca, torna-se mole. Talvez seja por isso que o vulgo adotou o adjetivo banana para pessoas indecisas, à espera de decisões alheias.
Se não há quem não conheça a banana, o fruto, também não quem não conheça pelo menos um banana. Normalmente o banana é apático, insignificante, não representando perigo aos demais a não ser por sua eterna letargia. Quando um banana é impelido, é obrigado a não parecer o banana que é, tomar alguma decisão, aí sim acontecem as bananices, que produzem as bananadas.
Chineses referem-se aos bananas com desdém. Consideram-nos falsos, dissimulados, traidores da própria raça. Na definição dos chineses, são bananas porque são amarelos por fora e brancos por dentro, tal qual o fruto.
Nas feiras-livres e supermercados as bananas são facilmente identificáveis. São expostas em cachos, ou pencas, e seu amarelo dão um colorido às gôndolas e bancas. Possuem vários tipos, como a nanica, a maçã, a prata. Já o banana é mais oculto – o próprio banana não se expõe tanto. Não por timidez, mas por covardia ou medo dos abacaxis.
O banana só é identificado com o tempo. Aos poucos os que o rodeiam percebem que é um sujeito indeciso, incapaz de dar rumo à própria vida – o que dirá na vida dos outros! O banana emite sinais de sua situação mesmo sem querer. Parece transpirar bananices dia e noite.
As bananas, assim como os bananas, estão presente nos carnavais, na música e nas comemorações mais ruidosas. Carmem Miranda eternizou uma fantasia com frutas na cabeça – e nela não faltavam as bananas. Os bailes do Havaí que acontecem em todos os lugares sempre têm bananas. Bananas frutas e bananas pessoas.
A banana (fruta) pode ser consumida em natura ou em doces, como a bananada, a torta de banana (acompanhada de canela) e recentemente, até em sorvetes. Recomenda-se o consumo de banana a pessoas que tenham necessidade mais potássio no organismo.
O banana não pode ser consumido. É intragável no aspecto, nos gestos e nas palavras. Tudo soa falso. Tudo soa uma cena, um teatro, uma dissimulação. Bananas enganam durante algum tempo, nunca durante todo o tempo. A casca logo sai e sua indolência, sua moleza, se expõe tal qual o pavão para sua fêmea.
O mundo não está livre nem das bananas, nem dos bananas. Tanto ela quanto ele apodrecem muito depressa. Basta estarem expostos. Com o passar dos dias, a casca vai se tornando escura, fétida. Os mosquitos aparecem, e então são descartados. A vida dos bananas e das bananas é muito curta.
O bom é que quando morre uma banana logo haverá outro cacho, outra penca. O ruim é que quando um banana cai de maduro, de podre, logo haverá outro banana em seu lugar, com as mesmas histórias, o mesmo teatro, a mesma dissimulação. Um dia, num futuro não muito distante, talvez fiquemos livres dos bananas.