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segunda-feira, 29 abril, 2024

Mais que flores e bombons, um dia de luta

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Mulheres já são maioria da população, segundo o IBGE, mas enfrentam discriminação em todos os setores
Na quarta-feira (8) foi celebrado em diversos países o Dia Internacional da Mulher. A data vai muito além do que hoje acaba desempenhando, como ocasião para presentear as mulheres com flores e bombons.
O dia tem como propósito relembrar as lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres ao longo da história e de propor uma reflexão sobre a atual condição da mulher.
Para a cientista social e professora Mônica Bueno, é fundamental transcender a idéia do consumo para alcançar o real significado do dia. “Se sairmos do lugar comum, veremos que a data tem mais valor simbólico do que material. O 8 de março deve servir como um momento de contestação de que as mulheres produzem, trabalham, lutam, transformam e são agentes sociais ativas tanto na produção quanto na geração de renda nos mais variados setores da economia”, afirma.
A idéia de instituir um dia para comemorar a trajetória das mulheres surgiu no início do século 20, em meio a uma sociedade urbano-industrial  e que necessitava cada vez mais da mão-de-obra feminina. No entanto, como lembra Bueno, desde o início do século XVIII já havia discussões sobre a condição social da mulher, uma vez que a Declaração dos Homem e do Cidadão excluía as mulheres.
“Sempre houve luta, e muitas dessas mulheres que lutaram no passado foram guilhotinadas e punidas das mais diversas maneiras. Tudo no universo feminino se remete a uma palavra, portanto a simbologia desse 8 de março deve ser sempre essa: luta”, afirma.
Do século 18 para cá, é inegável que diversas conquistas foram alcançadas pelas mulheres, como melhores condições de trabalho, direito ao voto e maior participação na sociedade. Porém, ainda é necessário a valorização da atuação e o reconhecimento da importância do papel da mulher na sociedade.
Apesar de serem maioria na população – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) 51,4% da população são do sexo feminino – de acordo com o estudo sobre o perfil de gênero nas empresas brasileiras divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) as mulheres ocupam apenas 13,6% dos cargos executivos das maiores empresas brasileiras.
A pesquisa ainda constatou que a grande maioria das empresas nem sequer possui ações afirmativas. Das 500 companhias estudadas, apenas 3,9% têm alguma forma de ação afirmativa para afrodescendentes e 11% contam com este tipo de política para ampliar a presença de mulheres.
Cenário não muito diferente no âmbito político. No ranking mundial sobre a representação feminina na política, o Brasil ocupa apenas a 121ª posição. Após o resultado das eleições do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou que mulheres em cargos eletivos municipais se limitam a apenas 11% de prefeitas e 12% de vereadoras. Ocorrência que acaba produzindo uma representação também pequena em Brasília, em que as mulheres são 44 deputadas entre 513 representantes e 13 entre 81 senadores.
Para a socióloga, a falta de representatividade feminina nos diversos setores se remete à forma como a sociedade entende pelo “ser mulher”, por isso é necessário repensar como é transferida de geração para geração a idéia da condição feminina e vencer essas barreiras históricas que, segundo Bueno, não são nada simples.
“Antes de tudo é preciso ultrapassar estereótipos do que é ‘ser mulher’. Essa visão deturpada só serve para a indústria. Nós mulheres, somos mais que uma estação de ano, um dia, uma saia, um batom, uma calça, uma bota. Somos pessoas, cidadãs, atuantes, ativistas diárias nas nossas casas, no nosso trabalho, com nossos amigos, somos geradoras de opinião, não precisamos ter mais ou menos poder que os homens, só precisamos de igualdade, só precisamos de respeito, só precisamos de voz”, afirma Mônica Bueno e que observa.
“Não precisamos negar nossas diferenças. Não precisamos deixar o batom, a saia, o penteado de lado, isso também faz parte de nós. Mas não é a nossa aparência que nos torna fundamentais para a sociedade, o que nos torna essenciais é quem somos e o que produzimos diariamente em todo mundo”.
 
Igualdade de gênero
De acordo com a socióloga Mônica Bueno, o conceito de igualdade de gênero é definido pela equivalência social entre homens e mulheres. Ou seja, mesmos direitos, deveres, privilégios e oportunidades de desenvolvimento para ambos. No entanto, isso não significa, ao contrário do que a expressão dá a entender, que homens e mulheres devem ser sempre tratados como iguais ou terem o mesmo comportamento.
Pelo contrário, como explica ela: “A igualdade só pode ser mesmo alcançada se olharmos com atenção e respeito para as características e necessidades de cada um, reconhecendo e respeitando as diferenças”.
Um possível caminho à equivalência, como indica a cientista social, seria a mudança de pequenas ações e atitudes diárias que acabam perpetuando opiniões e visões estereotipadas do papel de cada pessoa na construção da sociedade, como: evitar xingamentos que se referem a gêneros, cuidados com piadas e opiniões sexistas, conversas nos lares sobre valorizar o ser humano independente do gênero, permitir que as crianças sejam livres para se desenvolverem livremente independente das “preferências” pré-determinadas (exemplo rosa para meninas e azul para meninos), refletir e dialogar com os filhos sobre pornografia e banalização do sexo e da mulher.  “Se socialmente cada cidadão fizer sua parte com pequenas ações, em pouco tempo podemos criar uma sociedade muito menos desigual. Eu acredito”, diz Bueno.
 
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Dados sobre a mulher na sociedade brasileira
No Brasil as mulheres já representam a maioria da população. De acordo com os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE, no país há 103,5 milhões de mulheres – o equivalente a 51,4% da população.
Além de ser a maior parcela da população, a pesquisa também revelou que as mulheres brasileiras passaram a viver mais, têm tido menos filhos, ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, atualmente, são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias.

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