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domingo, 28 abril, 2024

Editorial: Não é obrigação. É direito

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É comum ouvir de muitas pessoas as lamúrias sobre a obrigação de votar. Também é comum se ouvir que isso é coisa pra políticos. Entende-se, de certa forma, a desilusão que a maioria tem com os políticos – desilusão alimentada pelos escândalos em larga escala, pela corrupção que crassa em quase todos os meios, e pela impunidade de figuras que, num país mais sério, já estariam condenadas a anos de trabalho forçado.
Mas uma eleição é a única chance de mudar uma situação vexatória. É a hora de todos darem sua opinião, escolhendo quem quer para governar. Ficar alheio a isso é concordar. E sem direito de reclamar ou criticar. Chance de escolher tem – só não aproveita quem não quer ou dela desdenha.
Um exemplo típico são as reuniões de condomínio, onde uma minoria decide e a maioria reclama. Mas a maioria não aparece nas reuniões. Alega não ter tempo a perder ou que o síndico tem sua panela. Não é assim.
Num condomínio de Jundiaí convocou-se uma assembléia para decidir se pintava ou não os prédios – eram quatro torres. O custo da pintura é altíssimo, e envolve muita coisa. Nâo pode ser contratado um pintor qualquer. Há necessidade de equipamentos de segurança, de acompanhamento profissional e de ter ciência que o condomínio é co-responsável pela segurança dos pintores.
Dos mais de 200 condôminos com direito a voto, oito apareceram na assembléia. E foram esses oito que decidiram pelos demais. Decisão tomada – os prédios serão pintados – começou a fase das reclamações. Que ficaram quase insuportáveis quando chegou o comunicado sobre o custo da pintura.
Eleição é exatamente isso. Quem não vota não tem direito de reclamar. Teve oportunidade e a descartou. Reclama que é obrigado votar, e afirma nos bares da vida que sai mais barato pagar a multa eleitoral.
O direito ao voto foi conquistado aos poucos. No Brasil Império, só podiam votar os que tinham um mínimo de estudo e determinada renda. Na República, os critérios ficaram mais brandos, mas mulheres não podiam votar. Eram consideradas incapazes de escolher alguém para ocupar qualquer cargo, dizia-se.
O voto feminino passou a ser aceito no começo do século passado, depois de muita briga. E devido à cultura reinante, de achar que voto é coisa pra político, o mesmo se tornou obrigatório. Não fosse assim, metade dos eleitores prefeririam – dentro de sua santa ignorância – passar o dia na praia ou no churrasco.
Há muitos países onde o voto é facultativo – vota quem quer. Mas são países que têm outra cultura, outra formação, outra consciência. São países onde não é preciso chicote para alguém trabalhar; onde não há traficantes e outros bandidos mandando mais que policiais; onde nem é preciso ter jornaleiro nas bancas – cada um pega seu jornal ou revista e paga corretamente.
Infelizmente, aqui as coisas são diferentes. Aqui se entende que Neymar, Ivete Sangalo e Faustão são melhores que professores; que canalhas como Renan Calheiros devem ser tratados como autoridades.
O voto é obrigatório por lei, mas deve ser visto não como obrigação, e sim como um direito conquistado – o direito de escolher. E quem não vota não tem o mínimo direito de reclamar ou criticar.

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