Editorial: A malandragem não para

No finalzinho do ano, enrolado em problemas até a alma, o governo anunciou uma medida populesca – um aumento de cem reais no salário mínimo. O aumento, que antes valia a partir de 1º de maio, agora vale a partir de 1º de janeiro (e isso há alguns anos), e soa como música a ouvidos incautos.
É pura malandragem. Primeiro, que quem vai pagar esse novo salário mínimo não é o governo, e sim o empresariado ou a dona de casa que ainda consegue ter uma empregada doméstica. E o governo vai somente ganhar mais com isso.
Um exemplo: o dono de uma fábrica de macarrão vai pagar mais ao seu funcionário. Esse aumento vai ser repassado ao produto, que será comprado pelo próprio funcionário. E esse produto, antes de chegar ao supermercado, vai passar por distribuidores. Ou seja, vai aumentar o preço várias vezes.
Junto com o salário mínimo, há outros aumentos, como o da energia elétrica, ou o dos combustíveis. Resumo da história – tudo vai cair na lomba do funcionário. O governo vai arrecadar mais. O INSS, descontado em folha, é maior; o ICMS fica maior; o único beneficiado é o governo.
Mesmo assim, há gente aplaudindo. Há gente rotulando os aumentos de salário mínimo como “conquista social”; e isso certamente será usado em épocas eleitoreiras, nos programas nojentos dos partidos na TV, nas ditas reuniões onde se discute o “avanço” do país.
Espera-se que esse aumento de arrecadação sirva para cobrir os rombos da incompetência e da roubalheira, e não para alimentar mais ainda os desvios já conhecidos. Mas é só uma esperança. Talvez mais uma no ano que começa, e nada mais.
As redes sociais estão empesteadas de posts com a presidente e seus recados irônicos. Mamãe Dilma é o mais comum. Mãe dos pobre e trabalhadores para muitos. E é sempre bom lembrar que quando Getúlio Vargas criou o salário mínimo em 1930, também era chamado de pai dos pobres. Mais tarde descobriu-se que para os pobres era um pai, e para os ricos, uma mãe. Não há populismo que resista a tanta malandragem.