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quinta-feira, 28 março, 2024

Preconceito e desinformação sobravam na epidemia de meningite de 1974

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Governo censurava noticias sobre crise sanitária; população vivia com medo, mas faltava o essencial: informação

Em 1974, a população conviveu simultaneamente com duas epidemias de meningite, dos tipos A e C. Enquanto na atual pandemia provocada pelo novo coronavírus os dados epidemiológicos ainda podem ser divulgados, com a epidemia de 1974 a história foi diferente. O Brasil vivia sob o regime militar e ele faz todo esforço para escondê-la da população, não deixando que os meios de imprensa falassem sobre o problema sanitário.

Mas a doença se impôs à realidade e acabou vindo à tona. Os registros da época contam que a população se desesperou quando soube da epidemia. Na cidade de São Paulo o Hospital Emílio Ribas era o único que atendia casos de meningite. Com medo de contágio, as pessoas evitavam passar em frente ao hospital. Como hoje, não havia remédios nem vacinas. No desespero, a cânfora passou a ser a opção milagrosa.

O jornal Opinião, de 15 de julho de 1974, que integra o Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa – Cemar/Interludiun, e compõe a coleção de jornais alternativos do Cedem da Unesp, publicou matéria intitulada Meningite, endereço certo, na qual retratava a situação da doença em São Paulo.

O texto começava informando sobre a ocorrência da enfermidade. “[…] Os casos de meningite que até 1971 eram de apenas 70 ou 80 por ano, pularam para 1.500 em 1973 e para 1.200 nos primeiros cinco meses deste ano […]”. E o texto prossegue: “[…] Em 1971 ocorreram 400 casos, sem que houvesse maior movimentação em torno do assunto, já que o surto se circunscreveu à periferia da cidade. Em 1972, porém, a doença começou a ameaçar a população infantil de bairros mais centrais, especificamente de classe média, e o alarme foi dado […]”.

Ainda segundo o texto: “[…] O maior número de casos está ocorrendo em áreas como Osasco. Que concentra uma elevada população com baixo nível de renda. Apenas em Osasco registram-se 35 casos por mês.

sse fato é explicável: o contágio se faz por intermédio de contato pessoal; para evitá-lo, as pessoas, principalmente crianças, deveriam cuidar bem da higiene pessoal e evitar aglomeração em ônibus, trens, enfim, lugares onde não haja ventilação suficiente. E essas condições são as mais difíceis de serem evitadas por moradores de áreas como Osasco. Além disso, os pacientes dessas áreas são os que encontram maiores dificuldades para receber o tratamento urgente necessário para evitar a evolução da doença de forma que ela não se torne fatal. Só existe um hospital de isolamento para doenças transmissíveis em São Paulo, o Emílio Ribas, que estava superlotado em princípio de julho exclusivamente devido a casos de meningite. Some-se a isso, ainda, a ignorância da população sobre a doença. Segundo um técnico da secretaria de saúde de São Paulo, geralmente quando chega ao hospital, o doente que vem da periferia já está depauperado […]”.

A epidemia também afetava as relações internacionais. A edição de Opinião de 19 de agosto de 1974 trazia a noticia de que a Feira Industrial Britânica corria o risco de não acontecer pelo risco de cidadãos britânicos contraírem a doença. Assim, entre preconceito e desinformação, a população conviveu com a doença e o medo de contraí-la. Somente em 1975, quando a vacina já estava disponível, o governo começou a divulgar os números da enfermidade para estimular a adesão à campanha de vacinação.

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