A pediatra intensivista Cinara Carneiro relatou ao G1 como é a rotina de uma UTI pediatrica pública que atende crianças e adolescentes com Covid-19.
Cinara conta que a visita de parentes em UTIs de Covid-19 foi proibida em grande parte dos hospitais lotados do país por causa do cenário de descontrole de infecções.
“A interação com a criança estando de máscara e paramentada é algo que gera sofrimento na gente. Na nossa unidade, a gente não tem permitido a presença dos familiares, como se permitia antes, pelo risco de contaminação, porque a gente não tem EPI (equipamento de proteção individual) suficiente para disponibilizar para os pais”, contou Cinara Carneiro à BBC News Brasil.
Casos graves de Covid-19 em crianças são raros e, segundo a pediatra, a maioria das que acabam precisando de internação na UTI se recupera. Mas pacientes com problemas crônicos de saúde e comorbidades correm mais risco. E, ainda que seja minoria, há casos de morte por covid-19 de crianças que não se enquadram nesse perfil.
Um dos momentos mais sensíveis da internação de um paciente de Covid é a intubação. Uma conversa com um adolescente de 14 anos, momentos antes de ele ser sedado, ficou gravada na memória de Cinara Carneiro.
Enquanto o nível de saturação caía, ele não parava de repetir: “Não quero que minha mãe sofra, não quero que minha mãe sofra”.
“Eu falei: ‘Você está precisando de ajuda para respirar. Eu vou tentar te ajudar nesse momento, mas você vai receber medicação para dormir, para não sentir dor. E a gente vai estar aqui conversando quando você acordar'”, relata a pediatra.
Mas o menino, que não tinha nenhuma comorbidade quando se infectou pelo coronavírus, nunca mais acordou.