As máscaras vêm sendo vendidas sob o argumento que ‘não atrapalham na beleza, e dão liberdade para respirar’.
Máscaras M85: Esse é o nome dado por vendedores brasileiros a um produto transparente feito com policarbonato. As máscaras vêm sendo vendidas sob o argumento que não atrapalham na beleza, são inquebráveis e dão liberdade para respirar.
Neste produto há espaços grandes que permitem a entrada e saída de ar sem nenhum tipo de filtragem. Portanto, não são eficazes para reduzir os riscos de contaminação por covid-19, segundo infectologistas.
A explicação, segundo eles, está em dois pontos: o primeiro é que o material não é capaz de filtrar o ar inspirado ou expirado. O segundo é que não há uma boa adesão ao rosto – característica que se faz essencial para garantir proteção.
“Essa máscara de vinil, transparente, isso não tem função nenhuma de máscara, não tem elemento filtrante absolutamente nenhum. Isso não deveria nem se chamar de máscara, e sim protetor facial. Máscaras mesmo, que temos hoje disponíveis, são de tecido, cirúrgica e PFF2 ou N95”, diz o infectologista Antônio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Produto está em uso
Apesar de garantir que não funciona para prevenir o vírus, as máscaras têm sido usadas pela população “Um dia desses entrei na academia em que faço exercício físico, uma pessoa com isso, eu fui lá dizer para o dono da academia que não se pode permitir que alguém faça atividade física com um negócio desse. É gritante o vácuo de informação nessa área. Muita confusão.”
Raquel Stucchi, professora da Unicamp que também é infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, recebeu alguns modelos dessas máscaras para avaliar e disse que nenhum deles é adequado, destacando a falta de adesão ao rosto: “Não cumpre a função que esperamos de uma máscara para proteção contra a covid.”
A situação piora quando pessoas públicas fazem utilização
Segundo especialistas, a situação é agravada quando figuras públicas aparecem usando o produto. Duas pessoas públicas foram vistas usando máscaras transparentes: Celso Russomanno e Joice Hasselmann, candidatos à prefeitura de São Paulo em 2020.
Para Raquel, esse tipo de comportamento deseduca e colabora para que a população fique mais confusa.
“A população está procurando alternativas para não usar máscara, para usar algo mais confortável ou para poder se aglomerar. A partir do momento que pessoas públicas e autoridades fazem isso, elas passam a informação para a população de que essas máscaras protegem, sim. Isso só aumenta a dificuldade de controlar minimamente a pandemia”, diz a infectologista.
Anvisa e Ministério da saúde
A página da Anvisa que contém recomendações sobre o uso de máscaras não cita esse tipo de material transparente para proteção contra o covid-19.
Procurado, o ministério da saúde informou que “a Anvisa deve ser procurada para falar deste tema”. Em resposta, a Anvisa disse que “não regulamenta e não tem recomendações sobre o uso das máscaras de vinil ou similares”.
Antônio Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que existe grande carência de posicionamento: “Como alguém coloca um protetor facial transparente, chama isso de máscara, e as autoridades, como Anvisa e Ministério da Saúde, não se posicionam sobre isso, especialmente para apontar que isso não é máscara?”