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sábado, 23 novembro, 2024

Pandemia faz número de transplantes de córnea desabar

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Queda em 2020 chegou a 210% até setembro em comparação ao mesmo período de 2019 e pode agravar este ano segundo estudo

O estrago na saúde decorrente da pandemia de coronavírus é maior do que se possa imaginar. Incapacitou milhares de jovens brasileiros em 2020. Isso porque, o relatório da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostra que até setembro de 2019 10.995 brasileiros passaram pela cirurgia. No mesmo período de 2020, último dado da associação, foram realizados 4.807 transplantes de córnea no País, uma redução de 210% em relação ao ano anterior. Pior: Segundo a ABTO até o mês de setembro a fila de espera saltou de 10.825 em 2019 para 14.433 em 2020.

O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), afirma que recentemente voltou a circular na imprensa uma prótese que exista há mais de 10 anos, mas não substitui o transplante por ser um dispositivo caro e não ser eficaz para todas as doenças na córnea. No Brasil, ressalta, o ceratocone responde por 70% dos transplantes. A doença em geral aparece na adolescência e progressivamente torna a córnea, lente externa do olho, mais fina e fraca, fazendo com que tome o formato de um cone.

Essa alteração compromete bastante a visão, explica, porque a luz penetra distorcida nos olhos e forma imagens desfocadas. Outros sintomas são: troca frequente do grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos irritados. “O problema é 85% de nossa interação com o meio ambiente depende da visão e no início o ceratocone pode ser confundido com astigmatismo por ter sintomas semelhantes”, afirma. Por isso, o especialista acredita que uma parcela maior da população pode estar com essa doença.

Para o especialista, a pandemia pode aumentar ainda mais a deficiência visual por conta da menor captação de córnea pelos bancos de olhos. “Um estudo divulgado no final de janeiro na publicação científica, Jama Ophthalmology da Associação Médica Americana mostra que em um grupo de 11 pessoas contaminadas pelo SARS-CoV-2 a córnea de 6 (55%) apresentou o RNA genômico do vírus. Quatro dessas mesmas córneas (67%) apresentaram RNA subgenômico”. Por isso, a recomendação é evitar a captação para transplante de pessoas com Covid ou recém contaminadas.

Queiroz Neto afirma que na criança a evolução do ceratocone é mais rápida. O diagnóstico precoce só pode ser feito por tomografia, exame de imagem que analisa a face interna e externa da córnea. A única terapia que interrompe a evolução é o crosslinking, mas só pode ser aplicado em córnea com espessura mínima de 400 micras. “Consiste na reticulação das fibras de colágeno que aumenta a resistência da córnea em até 3 vezes com aplicação de vitamina B2 (riboflavina), associada à radiação ultravioleta”, explica. Outro tratamento é o implante de anel intraestromal que aplana a curvatura da córnea e por isso facilita a adaptação da lente de contato.

O oftalmologista explica que quanto maior a protuberância da córnea, maior o desconforto para usar as lentes de contato, única forma de corrigir a refração nos casos moderados e avançados da doença. Para estas pessoas, é mais indicado o uso de lente escleral que invés de se apoiar na córnea se apoia na esclera, parte branca do olho, e por isso é bastante confortável.

Pesquisadores da Universidade de Loughborough, Reino Unido, acabam de anunciar o desenvolvimento de um laser portátil projetado para monitorar alterações biomecânicas sutis no inicio no ceratocone, como por exemplo o afinamento localizado da córnea. Ainda não há previsão de quando este dispositivo chega ao mercado, mas para Queiroz Neto a portabilidade pode viabilizar ações em locais distantes num país de dimensão continental como o Brasil.

Outra novidade foi apresentada no reunião anual da Academia Americana de Oftalmologia é a CTAK, adição de tecido estéril para ceratocone que é moldado à córnea com um laser ultra rápido de femtossegundo, numa técnica semelhante ao implante de anel intraestromal. “Por enquanto, resta aos especialistas brasileiros realizarem tratamentos com as ferramentas disponíveis que já demostraram eficácia e alertar a população para apostarem na prevenção com consulta médica periódica”, conclui.

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