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sábado, 23 novembro, 2024

Consumo de carne bovina deverá ser menor neste ano

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A perspectiva é que o preço da carne continue subindo por causa das exportações. Mas o consumo deverá voltar aos níveis de décadas passadas

Em meio a alta de 18% no preço das carnes em 2020, o consumo de carne bovina pelos brasileiros caiu no ano passado ao menor nível em mais de duas décadas. A perspectiva para 2021 é de que os preços da carne de boi continuem em alta, como resultado da oferta pequena de gado no país e forte demanda da China. Isso num cenário de menor disponibilidade de renda dos brasileiros, com desemprego recorde, avanço da pandemia e fim do auxílio emergencial. Diante desse quadro, a expectativa de analistas é de uma nova queda no consumo interno de carne bovina esse ano, o que deve levar o acesso ao prato preferido dos brasileiros a níveis anteriores à década de 1990.

Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o consumo brasileiro de carne bovina foi de 29,3 quilos por pessoa em 2020, queda de 5% em relação aos 30,7 quilos por habitante de 2019, ano em que o consumo já havia diminuído 9%. Isso representa uma redução de 13,5 quilos por habitante em relação ao ponto máximo da série, de 42,8 quilos por habitante em 2006.

A Conab mede o chamado consumo aparente ou disponibilidade interna per capita, que é o volume produzido, descontadas as exportações e somadas as importações. O número para 2020 é uma estimativa, já que ainda não há dados fechados para a produção pecuária no ano passado. Os dados da Conab consideram apenas a carne bovina fiscalizada. Mas, considerando a produção informal, a tendência é a mesma. Segundo estimativa da consultoria Agrifatto, levando em conta a produção formal e informal, o consumo de carne bovina teria caído 11% em 2020, para 34 quilos por habitante, contra 38,2 quilos por habitante em 2019.

No ano passado, o preço das carnes subiu 17,97%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acima da alta de 4,52% da inflação em geral. Dos cortes bovinos analisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas o filé-mignon teve queda de preço em 2020, de 6,28%. A picanha (17,01%), o contrafilé (12,71%) e a alcatra (5,39%) ficaram mais caros no ano passado. As carnes de segunda, mais consumidas pela população de baixa renda, cujos rendimentos foram impulsionados pelo auxílio emergencial em 2020, foram as que mais subiram, com alta de 29,74% da costela, 27,67% do músculo e 26,79% e 20,75%, respectivamente, do cupim e do acém. A alta das carnes nos supermercados acompanhou o aumento do preço do boi no campo. A alta das carnes nos supermercados acompanhou o aumento do preço do boi no campo.

A arroba do boi gordo fechou 2020 em R$ 267,15, alta de 29% em relação ao final de 2019, segundo o Cepea da Esalq/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo). Somente nos primeiros 15 dias de 2021, o preço do boi gordo já subiu 7,77%.

“Há uma combinação de fatores que explica a alta no preço do boi, diz Lygia Pimentel, diretora-executiva da Agrifatto. O mais determinante é o ciclo pecuário: entre 2016 e 2018, nós abatemos muitas fêmeas no Brasil, com isso, o preço do bezerro subiu muito e diminuiu a oferta de gado pronto para entregar”. Desde o final de 2019, com o preço dos chamados animais de reposição (bezerro, boi magro e garrote) em alta, os produtores passaram a reter as fêmeas nas fazendas para produzir novos animais. Com menos fêmeas indo para o abate, a oferta de gado ficou reduzida no ano passado e a tendência é que a retenção de fêmeas continue durante este ano, já que o preço do bezerro segue nas alturas.

“O segundo fator importante foi a China, porque nos outros mercados compradores de carne brasileira — Egito, Rússia, Chile, Estados Unidos —, houve retração”, continua Lygia, explicando ainda o papel da alta do dólar nesse impulso às exportações para a China, o que reduz a oferta de carne no mercado interno, levando à alta de preços.

Segundo os analistas, a alta de preços do boi gordo tem impacto distintos na cadeia pecuária. Os pecuaristas que trabalham com engorda e recria chegaram a perder margem no ano passado, já que o farelo de soja subiu 100%, o milho 70% e o bezerro mais de 80% dependendo da categoria. “Por mais que o boi tenha subido de preço, os custos de produção variaram acima”, observa Lygia. Segundo ela, pecuaristas que trabalham com o ciclo completo — produzindo o bezerro, engordando e vendendo o boi dois anos depois – tiveram margens melhores, porque seu estoque se valorizou.

Entre os frigoríficos, a diferença está entre os pequenos dedicados ao mercado interno e os maiores, com certificação para exportar. “O frigorífico que trabalha exclusivamente com o mercado doméstico foi muito prejudicado em 2020, porque o preço do boi gordo subiu muito e o preço da carne no atacado não acompanhou na mesma medida, então ele perdeu margem”, afirma Paulo Bellincanta, presidente do Sindifrigo-MT (Sindicato das Indústrias de Frigoríficos de Mato Grosso). Segundo ele, foram muitos os frigoríficos que precisaram fazer ajustes para sobreviver no ano passado.

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