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domingo, 24 novembro, 2024

O papel do sexo e dos hormônios na abordagem clínica à covid-19

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A gravidade com que a covid-19 afeta homens e mulheres é díspar e está expressa na taxa de mortalidade de cada um dos sexos. Esse cenário, entretanto, não é exclusivo do novo coronavírus e se repete em diversas outras doenças respiratórias. Segundo pesquisadoras da Unesp e da Universidade de Laval, no Canadá, esse fato sugere que se pesquise a administração de hormônios como tratamento para pacientes da covid-19. Este é um dos apontamentos do artigo Let’s talk about sex in the context of covid-19, publicado no Journal Applied Physiology.

Luciane Gargaglioni é docente do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal no campus de Jaboticabal, onde há quase 20 anos pesquisa, entre outros temas, o dimorfismo sexual em doenças respiratórias. Danuzia Marques é egressa da Unesp e atualmente vinculada à Universidade de Laval, no Canadá, onde desenvolve pesquisas sobre influência de hormônios sexuais no processo respiratório. A revisão publicada em forma de artigo incluiu dezenas de artigos da literatura científica para analisar a influência que os hormônios sexuais exercem nas respostas ao vírus.

Assim como no restante do mundo, a covid-19 vem matando mais homens que mulheres no Estado de São Paulo. Até 7 de junho, 58% das 9.145 mortes causadas pelo novo coronavírus foram de homens – em números absolutos, morreram 5.288 homens e 3.857 mulheres em território paulista. Para contaminar uma célula e se multiplicar no corpo humano, a covid-19 precisa se ligar a um tipo específico de molécula, a enzima ACE2. A professora Luciane Gargaglioni aponta que o estradiol, principal hormônio sexual feminino, é fundamental na resistência do organismo à covid-19. “Já foi observado que esse hormônio pode inibir a produção da ACE2 em alguns órgãos específicos, como rins e pulmões, reduzindo a suscetibilidade para o vírus em mulheres na fase pré-menopausa” explica a professora da Unesp.

Na mesma linha, explica ela, o baixo nível de testosterona parece estar ligado à suscetibilidade a algumas doenças respiratórias como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, além de doenças cardiovasculares e diabetes, todas enquadradas como de risco para pacientes com covid-19. Em homens, o nível de testosterona cai quanto mais avançada é a idade, o que dialoga com o fato de os idosos serem o grupo mais afetado pela forma mais grave da doença – os óbitos em São Paulo, por exemplo, estão concentrados em pacientes com 60 anos ou mais – 73% das mortes.

Danuzia Marques lembra ainda que a asma é mais presente nos homens durante a infância que após a puberdade, porque nesse período há aumento da testosterona. “Esse é mais um caso de que muitos desses hormônios sexuais estão desde sempre modulando nossa sensibilidade às doenças respiratórias”.

No fim do ano passado, a dupla de pesquisadoras recebeu convite para escrever uma revisão cujo foco estava nas diferenças sexuais no controle da respiração. Em uma revisão que envolveu mais de 300 artigos, as pesquisadoras chegaram à conclusão de que essa diferença entre homens e mulheres está presente em diversas doenças respiratórias – foi esse trabalho que deu origem ao estudo focado no novo coronavírus (SARS-Co-2).

A pesquisadora brasileira no Canadá pondera que quando se fala em seres humanos, é complicado desvincular outros fatores como condição socioeconômica ou a etnia do índice de mortalidade, por exemplo. Mas Danuzia lembra que existem estudos com variações do SARS em ratos e ratas que, em laboratório, apontaram mortalidades muito maiores no sexo masculino.

Num momento em que nenhuma vacina está disponível para o controle da disseminação da covid-19 e ainda se buscam medicamentos para o tratamento da doença, as pesquisadoras argumentam que os hormônios sexuais devem ser estudados como potencial método terapêutico. “Acreditamos que o sexo e os níveis hormonais devam ser considerados como um fator para aumentar a eficácia e a segurança do uso de medicamentos e também ajudar a projetar intervenções translacionais eficazes para distúrbios sexualmente dimórficos”, afirma a professora Luciane Gargaglioni, do campus de Jaboticabal.

“A nossa proposta é que se avalie de formas diferentes homens e mulheres. Quando vamos desenvolver um medicamento, não podemos pensar em apenas um sexo e esperar que funcione da mesma forma. Nosso artigo trouxe a hipótese de um tratamento hormonal específico para cada sexo e ela deve ser estudada. Homens e mulheres são diferentes e o próprio índice de mortalidade mostra isso”, reforça Danuzia.

As pesquisadoras lembram que pesquisas sobre o tema já estão em andamento e citam o trabalho da norte-americana Sharon Nachman, da Stony Brook University, nos Estados Unidos. Esse estudo tem como objetivo avaliar se a reposição com estradiol por sete dias em pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19 pode reduzir a gravidade da doença. A hipótese é de que o estradiol reduziria os sintomas de gravidade em homens adultos e mulheres mais velhas, se administrados antes da intubação.

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