Filha de agricultores, Joana d’Arc lutou na França contra invasão inglesa na Guerra dos 100 Anos, que durou de 1337 a 1453. Ela dizia ser guiada por vozes de mensageiros de Deus
Em maio de 1920, 489 anos depois de ser queimada viva numa fogueira pela Inquisição, Joana D´Arc foi reconhecida como santa pela Igtreja Católica. O documento que a elevou à categoria dos mais próximos de Deus foi assinado pelo papa Bento XV. Ironicamente, Joana havia sido condenada pela própria Igreja Católica, classificada como herege.
No documento de sua canonização, Bento XV lembrou que a guerreira “despertou a admiração de todos no momento de sua execução, a ponto de até seus inimigos ficarem muito assustados e o próprio carrasco ter declarado que Joana havia sido condenada à morte de forma iníqua, e que ele temia muito por si mesmo pois havia queimado uma mulher santa”.
No mesmo documento, o papa credita a Deus a vitória dos franceses, quando os ingleses foram expulsos e obrigados a voltar para sua ilha. E há até um quê de vingança no documento do papa: “Todos os responsáveis pelo martírio de Joana morreram de uma morte muito ruim”.
A encrenca entre França e Inglaterra começou logo depois da morte do rei Carlos IV, em 1328. Como o rei não tinha herdeiros, seus parentes ingleses se acharam no direito de mandar na França. E aí foi declarada a guerra, conhecida como Guerra dos 100 anos, que na realidade durou 116. A história de Joana se mistura à guerra em pouco tempo.
Joana nasceu em Domrémy, uma aldeia francesa, e aos 13 anos dizia ouvir vozes. Ela acreditava ser interlocutora de São Miguel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia. Essas vozes lhe conferiram algumas missões, entre as quais expulsar os ingleses de Paris e libertar os franceses do cerco em Orleans. O rei Carlos VII ainda não havia sido coroado quando a recebeu, em Chinon.
Carlos VII lhe deu uma espada, um estandarte e permissão para Joana se juntar aos soldados franceses. Incorporada ao exército, vestiu-se como homem e participou de batalhas em toda a França, o que lhe deu certa fama. E fama, como se sabe, atrai amigos e inimigos.
Principalmente inimigos. Muita gente a considerou esquisita – mulher, guerreando como homem, vestida de homem e ainda ouvindo vozes?
Isso chamou a atenção do Tribunal do Santo Ofício, do Vaticano, que era conhecido como Santa Inquisição. Não demorou para Joana D´Arc ser enquadrada como herege, acusada de feitiçaria. Seu julgamento durou um mês e teve cem pessoas a acusá-la. Acabou condenada por dois motivos: usar roupas de homem não era coisa para mulher normal, e as vozes não seriam de Deus, e sim do próprio Satanás. Até hoje seu processo é discutido por juristas, pois é polêmico demais.
No dia 30 de maio de 1431, Joana, vestida de branco, foi levada à praça velha do Mercado de Rouen e foi queimada viva. Tinha 19 anos. Hoje, Joana D´Arc é a padroeira da França.