“Tem que torturar muito, ela não pode morrer rápido”; “eu vou matar essa velha desgraçada”; “vou marcar ela com ferro de gado”. Essas são algumas das frases que a professora Mara Cristina Gonçalves da Silva leu a seu respeito quando descobriu, em abril deste ano, a existência de um grupo de WhatsApp intitulado “Morte a Mara”, criado em 2018. Entre os participantes, alguns de seus alunos do ensino médio.
Mara é professora de história da Etec Dr. Emílio Hernandez Aguilar, em Franco da Rocha, e vem convivendo com ameaças desde então. Além das criticas e xingamentos pela internet, a professora notou que muros próximos à sua casa estavam sendo pichados pelo mesmo grupo. Os jovens são menores de idade e ainda têm aula com a professora.
Com medo de ser morta, Mara decidiu buscar ajuda na justiça. As advogadas que cuidam do seu caso entraram com um requerimento administrativo junto à escola e um requerimento na delegacia local, para apuração dos fatos. A docente foi orientada, inclusive, a não dar entrevistas.
Ex-aluna e amiga da educadora, Lucy Dias diz que Mara não foi amparada pela Etec. “Em 5 de agosto, a professora Mara fez o protocolo de sindicância administrativa com o pedido de transferência compulsória e apuração do envolvimento (dos alunos). A direção negou esse pedido e convocou uma reunião de pais para informar o que estava acontecendo. As únicas medidas tomadas pela direção foram advertências oral e escrita, que não têm nada de efetivas”, diz.
Em nota, a assessoria de comunicação do Centro Paula Souza, que administra as Etecs, confirma que a reunião com as famílias dos alunos e as advertências realmente ocorreram. Além disso, afirma que o “assunto foi discutido também em sessão do Conselho de Escola, formado por representantes da unidade, dos estudantes, familiares e do poder público, ocorrida na semana passada. O Conselho entendeu que as ações adotadas pela Etec de Franco da Rocha foram suficientes até o momento, tanto que, desde a tomada da primeira providência, nenhum outro fato relacionado foi verificado.”
Diferente do que afirma a escola, Lucy afirma que as ameaças continuam. “Alunos estão relatando que no ambiente escolar, aqueles que se posicionam contra (o grupo), estão sofrendo bullying, além de serem obrigados a estudar num clima de medo, agressões verbais e intimidação, ou seja, não só para a professora a situação segue péssima”, argumenta.
A representação legal de Mara não confirma a continuidade das ameaças e afirma que, por conta da “delicadeza da questão e o envolvimento de adolescentes, não poderemos transmitir mais informações ou emitir declarações relacionadas ao caso, a fim de preservá-los, em conformidade com a legislação e o Código de Ética da OAB.”