Infelizmente o maior problema do Brasil ainda é a precariedade na educação. É dessa fraqueza que surgem todos os outros problemas sociais. Quando eu falo em educação, não me refiro às aulas de matérias técnicas apenas, mas principalmente da conscientização dos jovens a respeito do que os espera como sociedade num breve futuro. Vou explicar melhor:
No Brasil, por falta de educação devida, segrega-se patrão e empregado como se cada um deles quisesse uma coisa diferente. Os incendiários do descontentamento, presentes em todos os setores da sociedade, só colaboram para que cada pessoa tenha desconfiança e raiva da outra, como se eles fossem inimigos por essência, como cães e gatos. Classificam os empresários (não importando o tamanho dele) como exploradores da mão de obra alheia e o funcionário como um sujeito descomprometido em busca de salário e benefícios sem oferecer nada em troca. Para desmistificar isso, vamos contar um caso:
Recentemente um colega muito talentoso do segmento artístico me confrontou na internet, depois de um comentário meu sobre quanto o excesso de direitos trabalhistas desestimula a geração de empregos. Ele dizia que “a realidade ainda é o empresário com mais de um carro de luxo na garagem e casa própria em bairro valorizado, enquanto o funcionário se locomove de ônibus e paga aluguel pra morar”. Ele ainda citava uma interessante fala do ator Pedro Cardoso (o Augustinho de A Grande Família) salientando que “o rico não se importa de comprar um carro de R$ 600.000,00, mas acha um absurdo pagar 2.000,00 para um mecânico consertá-lo”.
Não sou de debater na internet, mas acho fundamental expor os dois lados da moeda. Fui empregado de empresas entre os meus 14 até os 29 anos. Foi nessa idade que, por falta de emprego me lancei a empreender. Descobri que há uma grande diferença entre “empresário” e “empreendedor”, embora uma pessoa possa ser as duas coisas ao mesmo tempo. Mas empresário é aquele que é dono ou dirigente de uma empresa ou que opera no agenciamento de negócios. Empreendedor é aquele que decide realizar (tarefa difícil e trabalhosa) ou “tentar” realizar uma travessia arriscada. Empresários e empreendedores podem existir em diversos tamanhos, desde o industrial fabricante de um carro de luxo, um comerciante que vende o carro ou um mecânico que o conserta. A honestidade deste indivíduo é algo que nada tem a ver com seu ramo ou tamanho.
Quando leio que professores universitários são contra a iniciativa de ensinar empreendedorismo nas faculdades, eu me pergunto como eles podem não considerar o fato de que mais de 50% dos empregos formais no Brasil são gerados a partir das pequenas empresas, aquelas que nascem diante de um desejo empreendedor de alguém. Se ninguém tivesse a iniciativa de empreender, não haveria trabalho para quem não quer fazê-lo. O Estado não é nem eficiente e muito menos capaz de empregar a todos.
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Quanto ao fato de empresários andarem em carros de luxo (depende do tamanho do seu negócio) enquanto os empregados andam de ônibus (depende do tamanho de seus salários), se dá por algumas razões: a primeira delas é pelo risco que correm: enquanto um funcionário CLT, ao perder o seu emprego, recebe uma série de direitos, multas, benefícios e seguro desemprego, o empresário quando perde sua empresa (por falência) não recebe nada e ainda fica responsável por saudar as dívidas (principalmente as trabalhistas). Não é injusto isso, afinal foi decisão dele seguir essa profissão e é responsabilidade do mesmo a administração do negócio. Porém, para haver emprego, empresa e empresário, é necessário também haver motivos que compensem este risco..
Outro fator é o tempo, já que muitos empresários que tem carro de luxo hoje, o fizeram depois de muitos anos de trabalho duro. A maioria andava de ônibus também no início de suas carreiras. O estereótipo do empresário é o que não trabalha e passa a vida só chicoteando os demais foi criado por alguns que se beneficiam desse errôneo entendimento e, ainda que existam empresários assim, vale lembrar que o bom ou mau-caratismo existe em qualquer profissão.
E o terceiro fator é a atitude, pois a maioria dos empresários tinham ao seu lado no bairro, colégio ou faculdade, colegas que não conquistaram os mesmos patamares.
Ao meu colega citado, dou o direito de não concordar comigo. Porém sugiro que, se ele realmente acredita que ser empresário é tão bom assim, que inicie também uma empresa, pois então, segundo a sua teoria, também terá carrão e morará em um imóvel próprio num bairro nobre. E que assim seja!!!