Até ficar tudo redondinho, como registrar candidatura e fazer campanha, interessados têm problemas a resolver
Até outubro, quando estão marcadas as eleições para presidente, governador, senador e deputados, muita gente interessada nos cargos precisa resolver seus problemas. Para alguns, as disputas internas nos partidos. Para outros, a barragem criada pela Lei da Ficha Limpa. Para outros ainda, a falta de apoio financeiro e pendências na Justiça.
Em 2015 aconteceu uma mudança na lei eleitoral, que reduziu de um ano para seis meses o prazo para filiação partidária a quem quer disputar uma eleição. O que significa que o prazo de filiação vai até 7 de abril. O registro deverá ser feito até 15 de agosto.
Há pelo menos 19 interessados na Presidência da República. Alguns se candidatam só para fazer nome, outros para negociar possível apoio num provável segundo turno. E há ainda partidos que lançam nomes para atrapalhar concorrentes.
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Aí vem o tempo na TV. 90% dele serão distribuídos proporcionalmente ao número de deputados federais eleitos em 2014. Os outros 10% serão divididos irmanamente. Outro problema: para participar de debates na TV, o candidato precisa estar num partido que tenha no mínimo cinco congressistas. A aposta é a “janela” de 30 dias que será aberta em março. Nesse prazo, troca de partido quem quiser, sem risco de perder o mandato.
Caso Lula
Segundo pesquisas (algumas suspeitas), Lula teria a preferência do eleitorado para ser o novo presidente. O problema é que ele tem uma condenação na Lava Jato, confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (segunda instância). Nesse caso, pode ser impedido de disputar a eleição com base na Lei da Ficha Limpa.
Mas aí entram os advogados com recursos e liminares, e onde há Gilmar Mendes tudo é possível. Lula tem ainda outras seis ações penais, acusado de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça.
Lula também tem muita rejeição do eleitorado. Segundo o Data Folha, em novembro eram 39% de eleitores afirmando que não votariam nele nem sob tortura. Lula só perdia para Michel Temer, com 71% de rejeição.
Caso Bolsonaro
O deputado Jair Bolsonaro aparece em segundo nas pesquisas. Mas precisa arrumar um partido antes, ou disputar pelo PSC, que quer lançar Paulo Rabello de Castro, seu presidente. Bolsonaro chegou a assinar com PEN, que deve mudar para Pariota. Pode também ir para o PSL.
Primeiro problema: tanto o PEN quanto o PSL têm só três congressistas. Bolsonaro só poderia participar de debates se ele e o filho, também deputado, se filiassem a um dos partidos. Mais problemas: dinheiro para campanha é um deles. Como o Tribunal Superior Eleitoral autorizou a vaquinha virtual pela Internet, seus apoiadores acreditam que isso vai resolver.
Bolsonaro também tem pouco tempo de propaganda no rádio ou TV. A estimativa é que tanto PEN quanto PSL não tenham mais do que 15 segundos em cada bloco. Bolsonaro é militar da reserva e professor de Educação Física. Tem sete mandatos por cinco partidos diferentes.
Caso Alckmin
O governador Geraldo Alckmin assumiu a presidência do PSDB em dezembro para apaziguar suas correntes, depois do escândalo Aécio Neves. O maior problema é a disputa interna pela candidatura. João Dória, prefeito da Capital, queimou a largada e hoje não é visto como um forte concorrente.
Mas tem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso atrapalhando. FHC vive conversando com outros possíveis candidatos – chegou a sondar Luciano Huck. Alckmin também não tem certeza se o DEM estará com ele. Se estiver, o tempo de propaganda na TV fica de bom tamanho.
Formado em Medicina, Alckmin foi eleito vereador e depois prefeito em Pindamonhamgaba. Em 1994 foi eleito vice-governador. Assumiu o governo em 2001 com agravamento da saúde de Mário Covas. Em 2008, perdeu a prefeitura da Capital por uma trairagem de José Serra, então governador, que resolveu apoiar Gilberto Kassab. Eleito novamente governador em 2010 e reeleito em 2014. Em 2006, disputou a Presidência e a perdeu para Lula no segundo turno.
Caso Marina
Marina Silva, hoje na Rede, já disputou duas eleições presidenciais – uma pelo PV e outra pelo PSB. Sua origem é o PT. Lançou-se candidata em dezembro. Seu maior problema é o tempo de propaganda – calcula-se que serão somente 12 segundos.
Ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, é criticada por sua omissão em momentos de disputas políticas. Pesa também a declaração de seu voto em Aécio Neves em 2014. Marina é avessa a debates.
Caso Ciro Gomes
Candidato “irreversível”, segundo o presidente do PDT Carlos Lupi, Ciro Gomes precisa de aliados para levar em frente sua campanha. No momento, há conversas com o PSB e o PCdoB. Ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro passou por sete partidos em 37 anos de vida pública. Foi candidato à Presidência em 1998 e em 2002.
Segundo o Datafolha, tem entre 6 e 10% de preferência do eleitorado. Sua rejeição é de 22%. Sua fama é de ter rompantes agressivos e falar o que pensa.
Caso Manuela
O PCdoB anunciou que a deputada estadual gaúcha Manuela D´Avila será candidata à Presidência, acabando com a possibilidade do partido se aliar a Lula. Manuela tem 36 anos e já foi deputada federal duas vezes. Praticamente desconhecida fora do Rio Grande do Sul.
Jornalista de formação, foi a vereadora mais jovem de Porto Alegre – foi eleita aos 23 anos. Já concorreu à prefeitura gaúcha duas vezes, sem sucesso. Maior problema é desvincular sua imagem de Dilma Roussef – o PCdoB foi contra o impeachment da ex-presidente. Terá 20 segundos na TV.
Caso Álvaro Dias
Ex-tucano, o senador Álvaro Dias ganhou fama por criticar acidamente as gestões petistas e por ser ativo nas CPIs do Senado. Precisa se tornar mais conhecido fora do Paraná – atualmente teria só 4% das intenções de voto. Está no Podemos. Tempo de propaganda na TV deverá ser de 12 segundos.
Formado em História, já foi vereador, deputado estadual, deputado federal e governador do Paraná.
Caso João Almoedo
No partido Novo, criado em 2015, João Almoedo é quase um ilustre desconhecido. Tem feito palestras em todo o país tentando ficar mais popular. Novato em eleições, o partido Novo conta com apoio de profissionais liberais, de economistas que ocuparam bons cargos no governo de FHC e algumas personalidades esportivas.
João é formado em Engenharia Civil e Administração. Começou sua carreira profissional trabalhando em bancos, e atual é sócio do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças.
Caso PSOL
O partido, em termos de candidato, está um balaio de gatos – há cinco interessados. O partido avalia que será difícil cumprir a cláusula de barreira, que exige 1,5% dos votos em nove estados para que continue recebendo o fundo partidário e possa fazer propaganda no rádio e TV.
O partido poderá participar de debates por ter seis congressistas. No horário eleitoral, terá somente 13 segundos.
Caso Paulo Rabello
O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro se filiou ao PSC há pouco tempo. Em novembro passado foi apresentado como candidato. Seu maior problema é que é um desconhecido do público.
Além disso, o PSC vai precisar conter a evasão de sua bancada para outros partidos. Formado em Economia e em Direito, é fundador da primeira empresa brasileira de classificação de riscos de crédito do país.
Caso Henrique Meirelles
O atual ministro da Fazenda é a opção do PSD e anda em busca de apoio no PMDB, no PP e no PR para se tornar viável. No fim do ano tinha 2% das intenções de voto. Se a economia melhorar pode melhorar sua situação.
Caso Fernando Collor
O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello está no PTC desde 2016. Sua candidatura à Presidência foi lançada em Arapiraca, no interior de Alagoas. Com a soberba de sempre, afirmou que tem vantagem por ser conhecido do público. É um dos mais rejeitados.
Outros casos
Além desses candidatos, também estão cotados o senador Cristóvam Buarque, do PPS, que foi candidato em 2006, o filho do ex-presidente João Goulart, João Vicente, do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, que se tornou conhecido no julgamento do Mensalão, o dr. Rey, médico especializado em cirurgia plástica, e ainda a apresentadora do Fantástico Valéria Monteiro.