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quinta-feira, 21 novembro, 2024

Brasileiros enfrentam desafios de saúde mental pós-pandemia

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Ainda estamos longe de recuperar o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde emocional global, e o Brasil se destaca como um dos países mais afetados, conforme um relatório do Global Mind Project, que anualmente apresenta dados sobre o bem-estar mundial. O projeto tem como objetivo mapear a situação, identificar tendências e sugerir medidas preventivas.

O relatório foi elaborado com base em pesquisas realizadas com 420 mil pessoas em 71 países, utilizando 13 idiomas. Ele empregou um índice de saúde mental que avalia habilidades cognitivas e emocionais, como a capacidade de lidar com o estresse e funcionar de maneira produtiva. De acordo com os autores, esse índice não se traduz necessariamente em felicidade ou satisfação, já que uma pessoa pode enfrentar momentos difíceis ou tristes e ainda assim ter habilidades para lidar bem com eles.

A pontuação média de bem-estar mental em todos os países permaneceu inalterada nos níveis da pandemia, sem mudanças nos índices de 2021 e 2022. República Dominicana, Sri Lanka e Tanzânia apresentam as melhores pontuações. No entanto, o Brasil, junto com a África do Sul e o Reino Unido, está na última posição. Do total de entrevistados, 38% relatam estar “melhorando”, enquanto 27% se sentem “angustiados” e “lutando”. No Brasil, a proporção de pessoas angustiadas é ainda maior (34%). Os jovens com menos de 35 anos são os mais afetados.

A pandemia de Covid-19 teve um impacto significativo na saúde mental devido a uma série de fatores estressantes, como o isolamento social, preocupações com a saúde, incertezas econômicas e perda de entes queridos”, avalia o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein. “O Brasil foi particularmente afetado, com altas taxas de infecção, mortalidade e impacto econômico. O prolongado impacto da pandemia pode ter contribuído para o desenvolvimento de estresse crônico e ansiedade, prejudicando a saúde mental da população.”

Segundo o estudo, a persistência dos baixos índices de saúde mental pode indicar que as novas dinâmicas trazidas pela pandemia, como o trabalho remoto, hiperconectividade e mudanças no estilo de vida, podem estar dificultando o retorno aos níveis anteriores de bem-estar emocional.

“Embora o trabalho remoto ofereça flexibilidade e conveniência para muitas pessoas, também pode resultar em uma sobreposição entre vida pessoal e profissional, dificultando a desconexão e a definição de limites saudáveis”, explica o especialista. “Temos visto muitos relatos de jornadas de trabalho mais longas e menos tempo para intervalos, como almoço ou café, em comparação com o período pré-pandemia. Além disso, a falta de interação social no ambiente de trabalho pode levar à solidão e ao isolamento, afetando negativamente a saúde mental.”

Fatores desencadeadores

A pesquisa também identificou que fatores como o acesso precoce ao primeiro smartphone, uma dieta frequente de alimentos ultraprocessados e a ausência de relações familiares e amizades estão associados a uma piora na saúde mental. “O uso excessivo de smartphones, especialmente em idades mais jovens, pode estar relacionado a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e solidão. O acesso constante à tecnologia pode levar à dependência digital, piorar a qualidade do sono e reduzir o contato direto e a interação com outras pessoas, o que pode ter um impacto negativo no bem-estar emocional”, explica Kanomata.

Os alimentos ultraprocessados, por sua vez, são geralmente ricos em gorduras saturadas, açúcares refinados e aditivos, e diversos estudos sugerem que a qualidade da dieta pode afetar a saúde mental. O relatório apontou que mais da metade das pessoas que consomem ultraprocessados diariamente estão na categoria “angustiados” ou “lutando”, em comparação com apenas 18% daqueles que raramente consomem esse tipo de alimento.

Além disso, as relações sociais e familiares desempenham um papel crucial na saúde mental das pessoas. “Um ambiente familiar positivo, com apoio emocional, comunicação aberta e relacionamentos saudáveis, promove o bem-estar emocional e ajuda a proteger contra problemas de saúde mental. Por outro lado, conflitos familiares, falta de apoio e disfunção familiar podem aumentar o risco de desenvolver problemas de saúde mental”, lembra o psiquiatra do Einstein. Para o especialista, é importante reconhecer esses desafios e implementar estratégias eficazes de autocuidado e suporte emocional para lidar com eles.

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