Os “deepnudes”, uma derivação do termo “deepfakes” que refere-se a imagens ou vídeos que realistamente manipulam a voz, o corpo ou o rosto das pessoas por meio de inteligência artificial, estão emergindo como um desafio cada vez mais comum com a crescente popularização do uso dessa tecnologia.
Foi o que aconteceu com a surfista portuguesa Mariana Rocha Assis, de 26 anos. Ela usou suas redes sociais por pessoas que mandam imagens geradas por inteligência artificial (IA) nas quais ela aparece nua. Na publicação, a surfista afirmou que as imagens, embora apenas seu rosto não tenha sido manipulado, apresentam uma aparência surpreendentemente real.
Em 17 de novembro, ela relatou ter recebido fotos nuas de si mesma de um número desconhecido. No entanto, ela esclareceu que as imagens foram geradas por inteligência artificial e não a retratam de fato. A pessoa responsável pela abordagem exigiu um pagamento total de 5 mil reais, estabelecendo um prazo até o dia de hoje para a transferência do dinheiro. A surfista, no entanto, ressaltou que se recusou a efetuar o pagamento.
No Brasil, casos recentes destacam a disseminação do problema. A renomada atriz Ísis Valverde enfrentou uma situação semelhante no final de outubro, quando fotos nuas, falsamente atribuídas a ela, foram compartilhadas.
A defesa da atriz alega que as imagens foram retiradas de seu perfil no Instagram e posteriormente manipuladas por meio de programas de edição de imagem para criar a ilusão de nudez. Uma ocorrência foi registrada na Delegacia de Crimes de Informática para responsabilizar os provedores de internet que compartilharem as imagens fraudulentas.
O fenômeno não se limita a figuras públicas. Dois casos recentes envolvem alunas de escolas, uma no Colégio Santo Agostinho, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e outra no Colégio Marista São Luís, em Recife.
Nessas situações, estudantes foram vítimas de “deepnudes” criados por colegas. No Rio de Janeiro, mais de 20 vítimas foram identificadas, incluindo adolescentes alunas e não alunas da escola, com investigação em curso pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.
Em Recife, 18 alunas foram afetadas, levando à suspensão dos estudantes responsáveis e à proibição de matrícula no ano seguinte no colégio. Ambos os casos estão sob investigação, evidenciando a necessidade de abordagens mais eficazes diante do uso indevido da tecnologia.
A maioria é mulher
Segundo um estudo da Sensity AI, divulgado pelo The Washington Post, 96% das imagens geradas por meio de “deepfakes” produzido por inteligência artificial são pornográficas. E 99% das vítimas desse tipo de manipulação são mulheres.
Ainda segundo o The Washington Post, o número de nudes falsos nos 10 principais sites que hospedam fotos desse tipo geradas por IA aumentou mais de 290% desde 2018. Os dados são de Genevieve Oh, analista do setor.
Esses sites trazem fotos de atrizes famosas, políticas influentes e até de adolescentes comuns, muitas vezes menores de idade.