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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Preso por entrar no Brasil com documento falso, filho de condenada por caso Evandro foge de penitenciária em MS

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Fonte: G1

Luccas Abagge, de 32 anos, fugiu da penitenciária estadual de Dourados, em Mato Grosso do Sul, na madrugada deste sábado (3). Segundo a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), ele utilizou uma corda artesanal, chamada de “tereza” para escapar da unidade penal, que é considerada de segurança máxima. A entidade abrirá uma investigação para apurar as circunstâncias da fuga.

Luccas Abagge é filho de Beatriz Abagge, uma das condenadas pela morte do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba (PR). Ele foi preso em Mato Grosso do Sul no dia 18 de junho deste ano, ao entrar no Brasil por Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, utilizando documentos falsos com o nome de Evandro Oliveira Ribeiro.

Ele foi preso ao atravessar a fronteira com o Paraguai e adentrar em Mato Grosso do Sul em um veículo com os faróis apagados. O comportamento chamou a atenção de uma equipe da Polícia Militar (PM) que abordou o motorista.

No veículo, Lucas estava na companhia da esposa. Ele apresentou uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com o nome de Evandro Oliveira Ribeiro. Porém, quando as autoridades consultaram o documento na Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), apareceu a foto de outro condutor.

Ao checarem o sistema do Paraná, os policiais constataram que o motorista era Luccas Abagge, filho de Beatriz Abagge, uma das condenadas pela morte do menino Evandro Caetano. Conforme o Ministério Público do Paraná (MP-PR), o crime ocorreu em 1992, em Guaratuba, no litoral do estado.

Foi identificado que havia um mandado de prisão de Luccas em aberto no Paraná. Ele foi condenado, em julho de 2019, a 32 anos de prisão por homicídio qualificado e tentativa de homicídio por matar um adolescente a tiros e ferir outro, em Curitiba, em 2015.

Em janeiro de 2019, ele foi condenado a 54 anos por outro homicídio, que aconteceu em julho de 2016.

Após a identificação de Luccas, ele foi encaminhado para a 1ª Delegacia de Polícia de Ponta Porã. De acordo com o registro policial, foi necessário usar algemas para garantir a segurança do mesmo e dos policiais, pois o homem estava “muito agressivo e nervoso”.

Para a polícia, a esposa de Luccas disse desconhecer que o marido era procurado pela justiça e que o conhecia apenas por Evandro. Ela foi encaminhada para a delegacia como testemunha e após ser ouvida, liberada.

Depois da prisão, Luccas Abagge foi transferido para o presídio Ricardo Brandão, em Ponta Porã, e em seguida para a penitenciária estadual de Dourados.

O caso Evandro

Evandro Ramos Caetano, na época com seis anos, desapareceu no trajeto entre a casa e a escola, em Guaratuba — Foto: Reprodução/RPC

A história de uma criança assassinada, sete acusados e um ritual macabro que ganhou notoriedade por todo o país. Há quase 30 anos, Evandro Ramos Caetano, na época com seis anos, desapareceu no trajeto entre a casa e a escola, em Guaratuba, no litoral do Paraná.

Cinco dias depois, um corpo foi encontrado em um matagal sem os órgãos e com mãos e dedos dos pés cortados. À época, a cidade ainda vivia a comoção pelo desaparecimento de outro menino, Leandro Bossi, que havia sumido dois meses antes e nunca mais foi encontrado.

Celina e Beatriz Abagge, esposa e filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge, que foram as principais acusadas de encomendar a morte de Evandro em um ritual religioso. Por causa disso, o caso também ficou popularmente conhecido como “As Bruxas de Guaratuba”.

Elas chegaram a confessar o crime, mas depois alegaram que tinham sido torturadas pela polícia para admitir o ritual.

Desaparecimento

O menino Evandro desapareceu em 6 de abril de 1992. Ele estava com a mãe, Maria Caetano, funcionária de uma escola municipal de Guaratuba, e disse a ela que iria voltar para casa após perceber que havia esquecido o mini-game. Contudo, a espera se tornou interminável, pois ele nunca mais voltou.

A década de 90 foi marcada por uma espécie de “surto” de crianças desaparecidas na região e, com mais esse garoto sumido e depois supostamente encontrado morto, o medo se instaurou na cidade e em todo o estado.

Após um corpo ser encontrado em um matagal do dia 11 de abril de 1992, o pai de Evandro, Ademir Caetano, afirmou à época no Instituto Médico-Legal (IML) de Paranaguá ter reconhecido o filho, por meio de uma pequena marca de nascença nas costas.

O corpo foi encontrado por lenhadores que passavam pela região e perceberam a presença de urubus. Conforme informações da época, ele estava sem o couro cabeludo, olhos, pele do rosto, partes dos dedos dos pés, mãos, com o ventre aberto e sem os órgãos internos.

Próximo ao corpo, foram encontradas as chaves de casa do menino. Alguns dias depois, próximo ao local onde esse corpo foi localizado, as equipes encontraram um par de chinelos quase limpos, possivelmente do garoto. Porém, um dos chinelos foi perdido durante o colhimento das provas.

Investigação paralela

Na época, o grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre) da Polícia Civil foi enviado para Guaratuba.

Um primo de Evandro, Diógenes Caetano dos Santos Filho, começou a fazer investigações paralelas. Ele havia trabalhado por um ano como policial militar e dez anos como investigador da Polícia Civil.

O pai dele, Diógenes Caetano dos Santos, foi prefeito de Guaratuba entre 1973 e 1976 e era rival político de Aldo Abagge. Durante muito tempo, Diógenes foi porta-voz da família Caetano na imprensa e era chamado como “tio” do garoto.

Dois meses depois do crime, Diógenes Caetano apresentou ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) o dossiê de “magia negra”, acusando, entre outros, o pai de santo Osvaldo Marcineiro e a então primeira dama Celina Abagge.

À época, acreditava-se que o ritual tinha sido feito com o objetivo “abrir os caminhos” da fortuna e da política para a família Abagge.

Sete acusados

A Polícia Militar (PM) entrou no caso com a Ação de Grupo Unido de Inteligência e Ataque, chamado Grupo Águia, ou P2. Em um mês de investigações, eles apontaram sete culpados:

  • Celina Abagge, então primeira dama do município;
  • Beatriz Abagge, filha do prefeito;
  • Osvaldo Marcineiro, jogador de búzios, pai de santo;
  • Vicente de Paula Ferreira, colega/ajudante de Marcineiro;
  • Davi dos Santos Soares, artesão de Guaratuba;
  • Francisco Sergio Cristofolini, vizinho e dono do imóvel onde Marcineiro morava;
  • Airton Bardelli, funcionário da serraria da família Abagge.

Cinco deles confessaram o crime – Beatriz, Celina, Osvaldo, Vicente e Davi – alguns em fitas de áudio, outros em vídeo. Essas fitas, editadas, embasaram o processo do caso.

Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos foram presos em 1º de julho de 1992. Celina, Beatriz e Vicente de Paula, no dia seguinte. Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli, que sempre negaram estarem envolvidos, foram presos no dia 3 de julho.

Quem determinou as prisões foi a então juíza de Guaratuba, Anésia Edith Kowalski, e quem realizou essas prisões não foi o Grupo Tigre, responsável pelo caso, e sim o Grupo Águia – comandado pelo então capitão da PM, Valdir Copetti Neves.

A casa da família do prefeito Aldo Abagge chegou a ser apedrejada pela população, que estava revoltada com a confissão do crime bárbaro. A imprensa de todo o país acompanhava cada etapa nova sobre o caso.

Confissões sob tortura

Tempo depois houve uma reviravolta na história, quando os acusados alegaram que tinham sido torturados pela Polícia Militar para confessar o ritual contra o menino Evandro. Beatriz e Celina contaram que foram levadas, encapuzadas, de carro para uma casa.

Julgamentos

Desde os anos 1990, caso teve cinco julgamentos diferentes. Um dos tribunais do júri, realizado em 1998, foi o mais longo da história do judiciário brasileiro, com 34 dias.

Na época, as Beatriz e Celina Abagge, mãe dela, foram inocentadas porque não houve a comprovação de que o corpo encontrado era do menino Evandro.

O Ministério Público recorreu e um novo júri foi realizado em 2011. Beatriz, a filha, foi condenada a 21 anos de prisão. A mãe não foi julgada porque, como ela tinha mais de 70 anos, o crime já tinha prescrito.

Os pais de santo, Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula, também foram condenados, na época, pelo sequestro e homicídio do garoto.

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