Garimpeiros, com apoio de políticos, tentaram impedir uma operação da Polícia Federal e do Ibama contra o garimpo ilegal em terras indígenas no sudoeste do Pará. Horas depois, um grupo incendiou casas de uma aldeia.
No início da manhã desta quarta-feira (26), um carro de som convocava a população de Jacareacanga para participar do protesto contra a operação de combate ao garimpo ilegal: “Estamos convidando você, meu amigo, você, minha amiga, toda população, para participar de uma grande manifestação pacífica”.
A manifestação em favor de uma atividade proibida nas terras indígenas também teve o apoio do vice-prefeito de Jacareacanga, Valmar Kaba Munduruku.
“Agora que é o momento de se articular. Cadê o pessoal que gosta de fazer movimento, tomar a frente do movimento, agora que é a hora? De minha parte, eu topo. Fechar restaurante, todo comércio que vende alimento”, afirmou o vice-prefeito em áudio.
O grupo interditou o principal acesso ao município.
Um dos homens atirou um objeto em direção à polícia. O agente reagiu com uma bomba de efeito moral, dispersando o grupo.
Outro homem aponta um arco para o helicóptero dos agentes.
Segundo a Polícia Federal, o grupo também tentou invadir a base da operação para destruir equipamentos.
Segundo a polícia, dez manifestantes ficaram feridos sem gravidade e foram levados para o Hospital Municipal de Jacareacanga.
Desde terça-feira (25), uma operação com 134 agentes da Polícia Federal, do Ibama e da Força Nacional, combate o garimpo ilegal nas terras indígenas Munduruku e Sai Cinza, no sudoeste do Pará.
A operação atende a uma determinação do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que exigiu do governo federal a adoção de medidas urgentes para proteger a vida, a segurança e a saúde dos indígenas da região.
A articulação dos povos indígenas do Brasil e outras organizações denunciaram o ataque de garimpeiros a uma aldeia Munduruku, no início da tarde desta quarta-feira, como forma de retaliação à operação policial.
No local, vivem lideranças que se mobilizam para combater a extração ilegal de ouro na terra indígena.
Várias casas foram incendiadas na aldeia, que fica no alto Rio Tapajós. Uma das indígenas gravou mensagens de áudio relatando o desespero.
“Chegando com combustível para queimar. Estão todos aqui, armados”, contou a indígena.
“Está dando tiro em todo lugar”, continuou. “Está dando tiro, por favor, me ajuda!”
O garimpo ilegal nas terras Munduruku tem o apoio de um pequeno grupo de indígenas, que permite o acesso de garimpeiros em troca de uma porcentagem na venda de ouro.
Neste ano, garimpeiros têm atacado e ameaçado lideranças que não concordam com a mineração ilegal.
Segundo dados do Inpe, entre 2018 e 2020, a destruição em terras Munduruku triplicou. Nesse período, o garimpo devastou uma área do tamanho de mais de 4 mil campos de futebol.
O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta quarta que os órgãos que combatem o garimpo ilegal e o desmatamento têm equipes reduzidas e uma área enorme para cobrir e que, em razão disso, o governo precisa recorrer às Forças Armadas em ações na Amazônia.