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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Um harém para Gilson

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A cidade não era das maiores, mas também não era tão pequena. Sua maior loja – e naquele tempo não havia shopping – empregava 12 mulheres. Era de um senhor na casa dos 78 anos, viúvo e devoto de uma turma de santos. Como a idade pesava, resolveu contratar um gerente. De todos, Gilson, um rapaz de 24 anos, bem apresentável e com algum estudo, foi quem lhe chamou a atenção. Gilson foi contratado e passou a comandar as 12 funcionárias.

Meses depois, o negócio ia de bom pra melhor, e o velho resolveu ficar em casa. Gilson daria conta de tudo. Como ele tinha uma tendência enorme a admirar coxas, seios e traseiros, logo engatou um caso com Marluce, uma mocinha de seus 18 anos, que frequentava a escola de datilografia. Caso, porque ele deixou claro que não era namoro. Na semana seguinte, Marluce passou a frequentar a cama de Gilson, que morava sozinho uma casa de quatro cômodos, bem ajeitada, e com carro na garagem.

Na loja, Marluce tratou de fazer propaganda das virtudes de Gilson. Que ele era um cara bom de casa, educado, gentil, atencioso e que vez ou outra até lhe dava um presente. As amigas ouviu com atenção e imaginavam suas aventuras. Já naquela época se dizia que mulher não tem amigas – tem concorrentes. Não deu outra. Gislaine ficou interessadíssima pela história e deu mole para Gilson, que não demorou a engatar um segundo caso.

Quinta era para Marluce. Sábado para Gislaine, que, esperta, guardou segredo. Mas havia outras interessadas. Logo foi a vez de Cidinha, a mais antiga das funcionárias, beirando os 38 anos, solteira e sem namorado, dar mole para Gilson. Cidinha passou a ser a amiga de cama das terças-feiras. Uma parecia não saber das outras, mas na loja o comentário corria solto. Gilson não parou por aí. Reservou os domingos para a Rita, uma morena e tanto, cheia de curvas, e que prometia ser um furacão na cama. Gilson não se enganou. Com a semana praticamente ocupada, resolveu que devia parar com as conquistas.

Mas já era tarde. Os comentários saíram da loja e ganharam as ruas, até que chegou aos ouvidos do dono do negócio, que não gostou muito do que ouviu. Chamou Gilson e exigiu uma atitude. Daí em diante teria de ser mais profissional. Nada de casos ou namoricos. GIlson prometeu se comportar. O velho só não o dispensou porque a loja, nas mãos do rapaz, dava muito lucro, e tudo funcionava direitinho.

Direitinho até certo ponto. Exatamente até o ponto em que Cidinha apareceu com um atestado médico – ela estava grávida. O pai só poderia ser o Gilson. As amigas já pensavam em fazer vaquinha pra Cidinha comprar enxoval quando Marluce anunciou sua gravidez. Agora eram duas as grávidas, e o pai também só poderia ser o Gilson. Ele até pensou em pedir as contas, abandonar tudo e sumir da cidade, mas havia espaço para outras conquistas – com duas grávidas, havia duas vagas em sua semana. Tratou de cantar a Mazé, loira, filha de pastor evangélico mas que preferia dar ouvido às tentações de Satanás.
Dois meses depois foi a vez de Mazé anunciar sua gravidez. Aí o ambiente na loja foi pras cucuias. As grávidas passaram a brigar. As outras as reprimiam por não terem tomado cuidado. Na rua onde ficava a loja, todo mundo sabia das histórias. Falava-se que Gilson tinha passado o rodo, comido as 12. Passou a ser conhecido como Pistolinha de Ouro.

Com as barrigas crescendo, não havia como esconder as coisas, e o velho, mesmo acamado, tomou conhecimento do estrago. Chamou Gilson para uma conversa de homem pra homem, e ele apareceu com o livro de contabilidade. Nem deu chance do velho falar. Mostrou os lucros, cada vez maiores, e até falou em abrir uma filial na cidade vizinha. Quando o velho morreu, meses depois, a víuva quis que ele continuasse à frente dos negócios.

Um ano e pouco depois a situação era outra. Gilson mudou-se para outra casa, maior, e lá acomodou as mães de seus filhos. Vieram outras amigas para ajudar, e Gilson não perdoou as amigas. Formou um harém em casa. Tinha mulher todo dia, desde que o choro de crianças não atrapalhassem o clima dominante de erotismo e sacanagem. Ninguém tinha ciúme – Gilson dava conta de todas.

Gilson morreu quatro anos depois. De tanto fazer sexo, diziam. Comovida com o desamparo de suas mães funcionárias e das amantes de Gilson, a viúva, que tinha casas de aluguel e estava cansada de se preocupar com a vida, resolveu doar a loja para as funcionárias. Mudaram o nome da loja para Casa das Meninas Encantadas. Mas na cidade todos conheciam a loja como Viúvas do Gilson. Em tempo: das 12, só escapou a Sônia, que se confessava egoísta e possessiva, afirmando “não vou dividir pinto com ninguém”. Morreu virgem.

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