Uma criança de 1 ano e 3 meses, residente em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, foi vítima de uma rara meningoencefalite amebiana, causada pela Naegleria fowleri, conhecida como “ameba comedora de cérebro”. O óbito foi registrado em 19 de setembro de 2024, apenas sete dias após o surgimento dos primeiros sintomas.
A confirmação do caso foi feita nesta terça-feira (10) pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual da Saúde do Ceará, que continuam monitorando a situação na região.
Em entrevista, o secretário executivo de Vigilância em Saúde da Secretaria da Saúde do Ceará e doutor em saúde coletiva, Antonio Lima Neto (Tanta), detalhou que a confirmação do caso foi feita com base em análises técnicas.
“O laudo laboratorial concluiu que o quadro é compatível com o diagnóstico, levando em consideração os aspectos laboratoriais, clínicos e epidemiológicos dos exames realizados”, afirmou o especialista.
Segundo o Ministério da Saúde, o único caso registrado na literatura científica de meningoencefalite amebiana em humanos, causada pela Naegleria fowleri, ocorreu em 1975, no estado de São Paulo.
Com a confirmação do caso, Antonio Lima Neto explicou que o registro de Caucaia foi enviado ao Ministério da Saúde.
“Os laudos do Laboratório de Referência da Água (que fez a classificação da espécie) e do bebê (que incluiu a classificação da espécie e o sequenciamento genômico) já confirmaram o diagnóstico. Além disso, o estudo histológico das lâminas de tecido encefálico também atestou o fato”, detalhou o especialista.
De acordo com o secretário executivo, o diagnóstico só foi possível graças à autorização da família para a análise da necropsia da criança.
A investigação contou com a colaboração de vários órgãos da Secretaria de Vigilância em Saúde, incluindo o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (LACEN-CE), e as Vigilâncias Epidemiológica, Ambiental e Sanitária. Além disso, o Instituto Adolfo Lutz, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP), também participou do processo.
Investigação
Em 12 de setembro, a criança foi atendida em um posto de saúde de Caucaia e, em seguida, encaminhada para uma UPA da região. Inicialmente, o caso foi tratado como uma infecção viral comum, mas a evolução rápida para sintomas neurológicos graves fez com que os médicos suspeitassem de meningoencefalite amebiana.
A análise da necropsia e os exames histopatológicos confirmaram que a causa da infecção era a Naegleria fowleri, o que foi posteriormente verificado por exames laboratoriais realizados no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
Segundo o Ministério da Saúde, a infecção ocorre por via nasal e é mais comum durante mergulhos. Globalmente, os casos geralmente envolvem pessoas expostas a lagos, lagoas e outros corpos d’água.
No caso de Caucaia, a suspeita é de que a criança tenha sido infectada durante um banho em casa.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, assim que a suspeita foi levantada, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Ceará (CIEVS/CE) realizou reuniões com o líder do assentamento, que não possui rede de esgoto, e com a comunidade local para fornecer orientações e recomendar a desinfecção do reservatório de água que abastece a área.
“O abastecimento de água foi modificado, e a cloração e filtragem foram aprimoradas”, destacou o secretário executivo.
Para tranquilizar a população, Antonio Lima Neto esclareceu que se trata de um evento inusitado de saúde, ou seja, um caso raro para a ciência.
“Parece ser um caso isolado. Provavelmente, a água que passou pelo reservatório aqueceu naturalmente devido à exposição ao sol, o que pode ter favorecido a reprodução da ameba”, explicou.