Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 39,5% das brasileiras entre 40 e 65 anos sentem algum tipo de dor ou incômodo na relação sexual, seja durante ou depois. Além disso, o American College of Obstetricians and Gynecologists estima que 3 em cada 4 mulheres sentirão dores e/ou desconfortos associados ao sexo em algum momento da vida.
“Uma das principais queixas no consultório é a perda do interesse sexual. O sofrimento pode ser tão intenso que a mulher chega a evitar o sexo por completo”, conta Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana).
Segundo ela, para agravar o cenário, é muito comum a mulher hesitar em buscar ajuda. “Há um misto de medo, vergonha e até sentimento de culpa e fracasso, seja por falta de informação ou mesmo pelos tabus de sempre que, aliás, só reforçam a crença de que dor no sexo é normal”, pontua a especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).
Fatores anatômicos podem explicar dores na relação sexual: mulheres com alterações na área genital, como pequenos lábios assimétricos ou excessivamente grandes, podem sentir fricção ou dor não apenas no sexo, mas também ao usar roupas justas, ou mesmo ao realizar atividades físicas. Quando descobrem a origem do problema, muitas vão em busca das intervenções cirúrgicas.
Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), o Brasil lidera o número de cirurgias íntimas, em especial, a ninfoplastia (ou labioplastia), procedimento realizado na genitália feminina com o objetivo de diminuir o tamanho dos pequenos lábios vaginais, corrigir assimetrias ou frouxidões no local.
Em 2019 foram 30.356 cirurgias (18,43%), em comparação com 12.006 (7,29%) nos Estados Unidos, considerando o total de 164.667 cirurgias realizadas no mundo. Na maioria dos casos, as ninfoplastias foram realizadas por um especialista em cirurgia plástica (73,3%).
De acordo com o cirurgião plástico Luís Maatz, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), apesar de muitas mulheres buscarem a ninfoplastia por questões estéticas, sua principal função é a reparadora.
“Ela é realizada em pacientes com quadros crônicos de dor e incômodo que dificultam desde atividades rotineiras até relações sexuais”, explica Maatz, que também é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).