São Paulo, a maior e mais influente cidade da América Latina, sempre foi um palco de disputas políticas intensas e de grandes responsabilidades. A escolha de quem irá ocupar a cadeira de prefeito não é apenas uma decisão local, mas um sinal do rumo que a cidade, e muitas vezes o país, podem tomar. É nesse contexto que a candidatura de Pablo Marçal surge, trazendo à tona um debate profundo sobre a natureza da liderança que desejamos para nossa metrópole.
Pablo Marçal se apresenta como um outsider da política tradicional, prometendo um governo mais próximo das massas e das demandas populares. Sua retórica carismática e sua capacidade de mobilizar grandes grupos de pessoas fazem dele um candidato popular entre os que buscam uma ruptura com o status quo. No entanto, essa popularidade levanta preocupações sobre a qualidade e a direção dessa liderança. Marçal é visto por muitos como um representante da oclocracia, onde o poder é movido pela emoção e pela pressão popular, em vez de ser guiado por princípios racionais e de longo prazo.
A oclocracia, como definida por Políbio, é uma degeneração da democracia, onde o poder cai nas mãos de uma multidão desorganizada e muitas vezes volúvel. A multidão, movida por impulsos e por líderes que sabem manipulá-los, pode facilmente ignorar as normas legais e os direitos das minorias. A candidatura de Marçal, com seu apelo direto ao sentimento popular, pode estar fomentando esse tipo de governança. Suas propostas, muitas vezes simplistas e baseadas em slogans fáceis, agradam à massa, mas carecem da profundidade e da análise crítica necessárias para lidar com os complexos problemas de uma cidade como São Paulo.
O perigo de seguir esse caminho é que, ao abrir as portas para uma oclocracia, corremos o risco de dar um passo ainda maior rumo a uma idiocracia. Uma vez que a governança baseada no clamor popular, desprovida de reflexão e análise, se instala, o próximo passo é a ascensão de líderes cada vez menos qualificados e preparados para lidar com as responsabilidades do poder. A história e a cultura popular nos alertam para esse perigo. Quando os menos aptos começam a dominar as esferas de decisão, o resultado é um governo disfuncional, onde a incompetência reina e o progresso estagna.
Se não nos atentarmos, a candidatura de Marçal pode ser um prenúncio de tempos sombrios para São Paulo. A popularidade momentânea não pode ser o único critério para escolher um líder. Precisamos de governantes que entendam a complexidade de uma cidade global, que sejam capazes de pensar além do imediatismo e que possuam a competência necessária para tomar decisões que afetarão milhões de vidas.
Portanto, ao considerarmos as opções para a próxima eleição, devemos refletir seriamente sobre o tipo de liderança que queremos para São Paulo. A escolha entre uma cidade governada pela razão ou pelo impulso está diante de nós. E a responsabilidade por evitar que a oclocracia se transforme em idiocracia recai sobre todos nós.