Cerca de 17 horas após seu discurso no palco do evento do 1º de Maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda mostrava sinais de irritação na manhã seguinte com a atmosfera melancólica do ato organizado pelas centrais sindicais.
Na manhã anterior, enquanto estava a bordo do avião presidencial a caminho do Rio Grande do Sul, Lula compartilhou seus sentimentos com os ministros que o acompanhavam na viagem.
A pessoa que conversou com o presidente resume o sentimento: deveria ter sido como nos velhos tempos. Deveria ter havido mais participantes. Muitos parlamentares faltaram. Faltou o entusiasmo da militância.
No entanto, os auxiliares de Lula fizeram questão de ressaltar que os tempos mudaram. O 1º de Maio era diferente antigamente. Havia shows de duplas sertanejas, sorteios de prêmios, e até carros eram sorteados.
Um ministro que esteve com Lula descreveu o presidente como “visivelmente irritado”. Para esse auxiliar, não poderia ser diferente.
O próprio ministro relatou ter dito a Lula que considera o evento do 1º de maio das centrais sindicais “uma agenda antiga, obsoleta”. Ele até brincou, sugerindo que um show de Gusttavo Lima certamente atrairia uma multidão ao Itaquerão.
A percepção de que o formato do evento não se encaixa mais permeou outros aspectos. Desde o boné da CUT na cabeça de Geraldo Alckmin até o pedido de votos de Lula em favor de Guilherme Boulos, tudo ali parecia desalinhado. Integrantes da campanha de Boulos imediatamente falaram em “risco calculado”, como demonstrou o blog logo após o evento.
No entanto, após algumas horas, até aliados de longa data do presidente começaram a questionar até que ponto os resultados desse movimento justificam o desgaste político.
Nos dias que antecederam ao evento da última quarta-feira, o blog estava em contato com um petista que milita ao lado do presidente há décadas. Os assuntos eram diferentes.
Especificamente, a conversa girava em torno das tensões com o MST, outro movimento que faz parte da base histórica de Lula e que tem se desentendido com o governo.
As declarações desse amigo do presidente se encaixam perfeitamente em uma análise sobre o 1º de maio.
Para essa fonte, o governo não tem apenas um problema de comunicação, mas também de coordenação e organização. E Lula, segundo esse amigo de longa data, insiste em não fazer mudanças no governo.
Ele lembra que, nos primeiros mandatos, a primeira reforma ministerial já teria ocorrido a essa altura. E avalia que será difícil para o presidente manter a atual configuração da Esplanada por muito mais tempo.