Inspirado nas tradições da cultura yoruba difundidas no Brasil, o espetáculo perpassa pelas diversas facetas de Oxóssi, orixá da caça, que vive nas florestas e é rei da nação Keto. A trama cênica entrelaça seu perfil, seus rituais com questões sociais, ecológicas e políticas contemporâneas, algo bastante característico das montagens da Cia Treme Terra.
O espetáculo denuncia o desmatamento que culmina no genocídio de comunidades que se alimenta das floresta. Partindo de uma analogia poética à Oxóssi enquanto caçador urbano, o Diretor Coreográfico e Musical João Nascimento afirma que “ Floresta de Odé aborda as/os trabalhadores submetidos às condições de violência, exploração e opressões que formam o alicerce da sociedade brasileira oriundo da colonização”.
Como afirma Nascimento, as coreografias são esculpidas no “corpo flecha”, costurando crônicas inspiradas em situações do cotidiano, criando alegorias urbanas de vidas repletas de sonhos, porém marcadas por histórias que em busca do sustento se aventuram na “selva de pedra”. “Queremos refletir sobre a rigidez, a frieza e a ausência de flexibilidade, que molda corpos vulneráveis e resilientes, que lutam para se manter vivos”, diz o diretor.
A riqueza do novo espetáculo está no resultado de uma pesquisa estética corporal que tem como base o corpo negro em diáspora, trazendo elementos de uma memória ancestral que se reelabora s partir dos desafios da vida contidiana atual, o que reforça uma ideia de uma cultura viva e em constante transformação.
“Floresta de Odé” é o sexto espetáculo da Cia Treme Terra, resultado de 17 anos de pesquisa de linguagem coreográfica. Para Nascimento, “Partindo desta experiência, a Cia vem formulando o conceito de ‘Dança Negra Contemporânea’ como uma dança que se organiza de modo transcultural e transdisciplinar, configurando-se como uma ‘Cultura de Resistência’”, conclui.
O espetáculo estreia neste final de semana com apresentações na 6ª-feira, dia 8 de março, no Sesc Jundiaí e, em breve, chegará na capital paulista.