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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Após 12 tentativas, candidata de 49 anos é aprovada em Medicina, no sertão de PE

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Janecleia Martins é o retrato de muita luta e esperança. Mãe, esposa, dona de casa, vendedora de marmita, passadeira, e, agora, aos 49 anos, estudante de medicina. Após 12 anos de tentativas, a moradora de Petronilha, no Sertão de Pernambuco, acaba de ser aprovada no vestibular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador. 

Ser médica é o sonho de Janecleia desde os 11 anos de idade. “Queria curar as pessoas que tinham a mesma doença que minha avó, que morreu de câncer”, revela. Só que a vida tinha outros planos para ela. Casamento aos 16, nascimento da primeira filha aos 17, sete anos depois, a chegada do segundo filho. Foram anos de trabalho, mas sem deixar morrer a vontade de menina.

A chegada do curso de medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em Petrolina reacendeu em Janecleia o desejo de retomar os estudos. Ela, que terminou o Ensino Médio em 1994, em 2010 fez o Enem e vestibular pela primeira vez.

“Eu sempre quis ser médica, mas a família não tinha condições. Mas, ao longo do tempo foi amadurecendo essa ideia, até que a Universidade veio para cá [Petrolina] e reavivou ainda mais o meu sonho. E eu disse: agora eu vou, porque vou conseguir o que eu sempre quis”, destaca Jane, como é conhecida.

Sem frequentar uma sala de aulas há 16 anos, Jane foi em busca de qualificação. Oriunda de escola pública, ela concorria a vaga de bolsistas em cursinhos preparatórios da região. “Não tinha condições nenhuma de pagar um cursinho pré-vestibular”, diz. “Durante muitos anos foi assim que me preparei. Como tinha parado os estudos em 1994, comecei do zero em 2010”, completa a estudante.

O curso de medicina costuma ser o mais concorrido nas universidades. Se para quem tem toda a estrutura, a aprovação é difícil, para Janecleia, que encara uma jornada tripla, a persistência foi a principal arma. “Comecei do zero, até quando consegui ir aumentando minha nota, até chegar onde cheguei hoje, graças a Deus”.

Aprovada e devidamente matriculada, Janecleia vai começar a estudar na próxima segunda-feira (13). Graças ao dinheiro arrecadado por uma vaquinha virtual feita pela filha, ela conseguiu o suficiente para se manter na cidade pelos próximos três meses. Neste tempo, vai procurar os serviços de assistência da Universidade e não descarta aceitar trabalhos extra para manter a renda. “Passo até roupa, se for preciso”, afirma.

Jane não vê a medicina como um meio apenas para ganhar dinheiro. “Vai ser medicina por amor mesmo. Se fosse só para ganhar dinheiro, continuava vendendo marmita”, afirma.

“A minha pretensão daqui pra frente é fazer o melhor do melhor que eu puder, me qualificar o máximo possível, ser o mais humana possível na profissão, porque realmente vai ser por amor”, diz a futura cirurgiã.

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