Localizada a pouco mais de uma hora de distância da fronteira com o país vizinho, a Colômbia, San Cristóbal, capital do estado de Táchira, é a oitava região mais populosa da Venezuela (com aproximadamente 300 mil habitantes), além de ser a segunda área metropolitana com a menor taxa de pobreza no ranking nacional.
Reconhecida pela cordialidade de seu povo e sua qualidade em educação universitária, a cidade transfronteiriça viu nascer, mesmo em meio a uma crise sanitária mundial, a primeira Escola de Reciclagem da Venezuela.
Criada em maio de 2019, o projeto é da empresa privada Andes Plast Recicla e foi impulsionado por um grupo de três engenheiros e uma arquiteta. Em novembro de 2021 iniciaram um plano piloto em uma das principais avenidas da cidade, a Avenida Carabobo, e desde então têm estendido sua atuação por outros bairros e localidades.
Embora traga o nome “escola”, essa não é tradicional. São oferecidos cursos de duração aproximada de três semanas para interessados em aprender sobre reciclagem. Prestam também consultoria na área de reciclagem para outras cidades dentro e fora da Venezuela, desenvolvendo modelos de manejo e reaproveitamento dos recursos sólidos.
Com o objetivo principal de ensinar aos munícipes como separar o lixo que pode ser reciclado e/ou reutilizado, e assim gerar um impacto positivo para o meio ambiente e, consequentemente, beneficiar a cidade. O modelo proposto integra todos os setores de San Cristóbal em torno dos pressupostos da economia circular: privado, público (governo regional e municipal), universidades e comunidades.
“Quase todos os membros da diretoria são além de engenheiros, professores universitários, ou seja, é um grupo que acredita que pela educação podemos transformar as cidades em um grande ecossistema sustentável, começando pela nossa. Nosso principal horizonte é nunca subestimar a capacidade das pessoas de aprender, de mudar. E, por isso, somos, desde o nome, uma escola”, explica o engenheiro ambiental e diretor geral da Escola de Reciclagem Ronny Chacón.
“Não adiantava seguir importando modelos do exterior sem entender o nosso próprio perfil. O que constatamos é que as pessoas não sabiam nem empacotar corretamente seu lixo e nem separá-lo”, conta.
Por meio da análise conseguiram identificar que a coleta de lixo da prefeitura costumava demorar muito em cada localidade para conseguir fazer o recolhimento completo do lixo. Assim, a escola desenhou e desenvolveu suas próprias lixeiras – hoje são 90 contentores de lixo, 45 deles de reciclagem, espalhados pela cidade – e apostou em uma série de informativos bastante visuais sobre como empacotar o lixo de forma adequada.
Em seguida, o convênio com a prefeitura local selou a parceria em prol de tornar San Cristóbal uma cidade inovadora, limpa e sustentável. A prefeitura confiou nas ideias e dados apresentados pela Escola de Reciclagem e reformulou as rotas de coleta, reduzindo as viagens do caminhão de lixo de 18 para 4 por semana, sem que a cidade perdesse com isso.
Com o aval da prefeitura as ideias e dados apresentados pela Escola de Reciclagem foram reformulados e as rotas de coleta, reduzidas as viagens do caminhão de lixo de 18 para 4 por semana, sem que a cidade perdesse com isso.
Na usina de reciclagem da Escola, todo o processo de tratamento de plásticos é garantido – material no qual eles focam agora – para que garrafas e sacolas sejam coletadas, processadas e, assim, conseguem gerar matéria-prima para outros novos produtos.
A Escola recebe outros tipos de materiais, como papel, papelão, vidro e alumínio na rede de lixeiras que têm na cidade, mas apenas processam o plástico. Os outros materiais são encaminhados para outras empresas de reciclagem.
Para se ter ideia do tamanho das ações, só este ano, desde março, 131 toneladas de lixo foram coletadas e recicladas pela empresa.
Após a criação do projeto, o município até mudou seu slogan de “Cidade de Gente Gentil” para “San Cristóbal, Cidade Ecológica”, e ultrapassou a meta nacional de reciclagem da Venezuela.
A Escola de Reciclagem faz tanto sucesso que foi até mesmo procurada pelo órgão nacional para que o ajudasse a desenvolver os sistemas sustentáveis de reciclagem em outras cidades do país.
A iniciativa, que no primeiro mês de operação contava com oito pessoas na área de produção, atualmente gera emprego para 45 trabalhadores, conta com serviço de lavagem das lixeiras que é feito à moto, serviços de reparação e manutenção das mesmas e pretende ampliar em até cinco vezes mais os locais de depósito de lixo (chegando à 500 lixeiras), além de gerar mais integração entre os sistemas de coleta e melhorar o monitoramento e geração de dados com uso de tecnologia. (Fonte: UOL)