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quinta-feira, 25 abril, 2024

Café, a bebida que ameaça virar luxo na Europa

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Nos últimos meses, o preço do café vem subindo por toda a Europa. Apesar de muitas cafeterias de Berlim não terem aumentado os valores cobrados até agora, essa possibilidade não está descartada, já que a maioria delas tem visto suas margens de lucro encolherem ultimamente.

Eventos climáticos adversos e o aumento da demanda, juntamente com questões geopolíticas e logísticas relacionadas à pandemia, resultaram em preços de atacado mais altos, nos últimos dois anos. A disparada dos custos de energia e o aumento de 100% dos gastos com transporte nos últimos 12 meses aumentam a pressão inflacionária.

“O café chegou a ser comercializado a 1,90 dólar o quilo em maio de 2019, o nível mais baixo desde 2004. No fim do ano, subiu para 2,80 dólares”, compara Jordan Montgomery, gerente de Marketing da Fjord Coffee Roasters Berlin.

“No Brasil, principal produtor mundial, houve fortes geadas em julho de 2021, elevando o preço para 5,55 dólares o quilo. Em julho de 2022, o preço chegou a 5,80 dólares, antes de recuar para 4,80 dólares em agosto.” Os preços dos contratos a termo (futuros) e a venda de grãos de café arábica são ditados pela Bolsa Intercontinental (ICE), em Nova Iorque. Esse “preço C”, define os preços médios globais do café arábica.

Como o café é comercializado em dólar, o euro e o iene fracos poderiam prejudicar o consumo na Europa e no Japão, comentou à DW um comerciante de Londres, pedindo anonimato. As empresas localizadas na Alemanha também sofrem com impostos adicionais, escassez de mão de obra e aumento dos custos de seguro.

“Esses fatores nos obrigam a repassar alguns custos para nossos clientes e aceitar margens de lucro mais baixas para alguns produtos. O aumento médio nos últimos 12 meses tem sido de cerca de 6%”, afirma Jordan Montgomery.

Ele acrescenta que as empresas de torrefação conseguiram contornar os preços mais altos até agora, especialmente durante a pandemia, repassando o custo para consumidores que fazem pedidos online.

Uma saída que não se aplica às cafeterias. as quais seguem sendo as mais afetadas pela alta do café, também devido a custos maiores com aluguéis e pessoal. E em outubro o salário mínimo na Alemanha sobe para 12 euros por hora.

Especialistas sugerem que uma xícara de café numa cafeteria na Europa deveria custar entre 5 e 6 euros, especialmente na Alemanha, onde permanece em vigor um imposto do século 17 sobre grãos torrados. “De cada quilo de grãos torrados vendidos no mercado alemão, 2,19 euros vão para o Estado”, explica Montgomery. Além da Alemanha, só a Bélgica, Dinamarca, Grécia, Lituânia e Noruega cobram imposto semelhante no continente.

Nicole Battefeld, atual campeã dos baristas alemães café e concorrente no Campeonato Mundial do Café, em setembro, argumenta que o produto também deveria ser vendido mais caro nos supermercados, a pelo menos 20 euros o quilo.

“Na Alemanha, muitas vezes o preço por quilo não passa de 8 euros — estamos simplesmente usurpando os agricultores do dinheiro investido. É uma outra forma de colonialismo: nós nunca nos demos conta totalmente de quanto trabalho está envolvido.”

Battefeld observa que o café fair trade (produzido e comercializado segundo padrões de comércio justo), com contratos que oferecem aos fazendeiros 3 dólares por quilo, é apenas uma solução parcial. “O comércio justo ajuda a manter as condições de vida, mas muitas vezes falta a oportunidade para os produtores reinvestirem e modernizarem suas fazendas.”

“Ele ajuda os agricultores quando a colheita não é alta qualidade, mas não quando ela é, pois os prendem ao contrato e eles não obtêm valores mais altos.” Battefeld frisa que preços do comércio justo subiram míseros 10 centavos de euro ao longo dos últimos 20 anos.

Os altos preços da energia têm impactos diferentes sobre os agricultores, dependendo do contrato que têm e da variedade que produzem, explica Karl Wienhold, que pesquisa sobre o café e vive em Portugal.

“Para a maioria dos pequenos agricultores dos países produtores, a relação entre os preços dos contratos futuros e as receitas é forte, mas não de modo uniforme”: os custos trabalhistas aumentaram sobretudo para os agricultores da América Latina, devido à escassez de pessoal.

Em certas partes da Colômbia, terceira maior produtora de café do mundo, as despesas com mão de obra quase dobraram. “Já ouvi até falar de pequenos fazendeiros colombianos trabalhando como colhedores, em vez de administrarem os próprios campos”, comenta Wienhold. Por outro lado, as grandes fazendas é que serão as mais afetadas pela alta dos preços dos combustíveis, por serem altamente mecanizadas.

Segundo especialistas, muitos agricultores assinaram contratos a termo com multinacionais antes da pandemia, portanto não lucrarão com os preços mais altos atualmente adotados. Aqui trata-se de contratos derivativos não padronizados, definindo os preços de venda futuros.

Os fazendeiros também têm de arcar com outros aumentos dos custos de produção: o gás natural, por exemplo, é usado para produzir fertilizantes nitrogenados, dos quais a Rússia é a principal exportadora. “O pior receio, de que a Rússia sustaria as exportações, ainda não se materializou. Dados comerciais mostram uma interrupção mínima no fluxo de exportações russas para o Brasil”, informou o comerciante baseado em Londres.

O café só pode ser cultivado ao ar livre e muitas vezes não se usa irrigação. As duas principais variedades, arábica e robusta, têm preços diferentes, refletindo condições de cultivo diversas. O arábica, em geral considerado o café de melhor qualidade, só cresce em condições específicas, que estão cada vez mais ameaçadas por eventos climáticos extremos.

“Na maior parte da Colômbia, onde há duas florações e duas colheitas por ano, graças a duas estações chuvosas, períodos atípicos de chuva e sol vêm alterando os cronogramas de floração há alguns anos”, comenta Wienhold. “Às vezes isso atrasa a produção por meses, causando estresse financeiro aos produtores e trabalhadores, e ameaça a capacidade de cumprimento de contratos.”

A menor produção também se traduz em preços mais altos para as variedades de café de menor qualidade, desestimulando para os produtores de investirem em safras melhores, à medida que a diferença entre os preços diminui.

Especialistas concordam que as mudanças climáticas aumentarão a volatilidade dos preços e, eventualmente, exacerbarão o tradicional ciclo de alta e baixa que ocorre há anos, devido aos longos prazos necessários para ajustar os padrões de produção às alterações de demanda e preços.

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