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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Justiça aceita denúncia do MP contra médico Bolívar Guerrero por tentativa de homicídio e decreta sua prisão preventiva

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Fonte: G1

O juiz Adriano Loureiro Binato de Castro, da 4ª Vara Criminal de Duque de Caxias, aceitou nesta sexta-feira (19) a denúncia do Ministério Público contra o médico equatoriano Bolívar Guerrero Silva e o tornou réu em um processo por tentativa de homicídio por motivo torpe.

Bolívar foi acusado inicialmente de manter a paciente Daiane Cavalcanti em cárcere privado no Hospital Santa Branca, mas essa situação não ficou comprovada na investigação feita pela Delegacia da Mulher de Duque de Caxias, e entregue à 3ª Promotoria de Investigação Penal daquele município.

O juiz também converteu a prisão temporária em preventiva do médico.

“Posto isso, recebo a denúncia. Cite(m)-se o(s) Réu(s). Na mesma peça, o Ministério Público requereu a prisão preventiva do acusado Bolívar ao qual se imputa o crime descrito na denúncia. O pedido tem amparo legal, ao ver deste Juízo, e merece ser acolhido”, escreveu o magistrado em sua decisão.

Assistente também foi denunciada

Na denúncia, feita pela promotora Cláudia Portocarrero, o nome de Kellen Queiroz, assistente de Bolívar, também aparece como uma das denunciadas pelo mesmo crime.

“A denunciada Kellen Queiroz, de maneira livre e consciente, unida em ações e desígnios ao executor, inclusive quanto à motivação do crime, participou da empreitada na medida em que convenceu Daiana a realizar a cirurgia do dia 01 de julho, a despeito das condições em que se encontrava a vítima, além de estar presente quando da realização do ato cirúrgico, acompanhando o primeiro denunciado, sem qualquer capacitação técnica para tanto”, diz trecho do documento do MP.

O juiz Adriano Loureiro também atendeu as medidas cautelares diversas da prisão que atingiam Kellen Queiroz. São elas:

  • proibição de acessar ou frequentar as dependências do Hospital Santa Branca;
  • proibição de contato com as testemunhas e vítimas;
  • proibição de exercer as funções de técnica de enfermagem.

O advogado Renato Darlan, que defende Kellen Queiroz, disse que pretende despachar com o juiz para discordar da decisão.

“Lendo a decisão, o que se percebe é que douto magistrado acolhe a todos os argumentos da promotora mesmo que a mesma não tenha apresentado nenhum elemento concreto ou prova mínima de autoria da minha assistida. No início da semana iremos despachar com o juiz e apresentar as razões que nos levam a discordar da decisão”, disse Darlan.

Ela contou ainda que a promotora titular da 3ª Promotoria de Investigação Penal assume o caso agora, e ela segue investigando os mais de 40 inquéritos que envolvem Bolívar e foram registrados na Deam de Caxias.

Casos impressionaram a promotora

Cláudia Portocarrero contou ainda que se impressionou com o número de denúncias contra Bolívar Guerrero quando o caso de Daiana veio à tona, e também com os processos que ele já tem.

“Ele não tem nenhum respeito pela vida humana. Usa a medicina única e simplesmente para ganhar dinheiro. Além dos registros, que já existem contra ele, há denúncias de que ele teria sido responsável por mortes. São casos de chocar. Queremos ir a fundo nessas investigações para que ele não saia impune. Aliás, ele mesmo dizia para as pacientes que não adiantava denunciar, que nada aconteceria com ele. Vamos mostrar que acontece, sim. Que tem Justiça”, diz.

Médico cobrava duas vezes

A promotora lembra que, entre as coisas absurdas que tomou conhecimento ao longo da investigação, está o fato de Bolívar Guerrero cobrar pelas cirurgias reparadoras dos erros que ele mesmo cometia.

“Dá para imaginar que ele cobrava duas vezes? Para operar a pessoa e para consertar o erro que ele mesmo cometeu. Foi assim com a Daiana Cavalcanti, que teve problema no seio, na primeira operação e, quando voltou nele, ele ’empurrou’ uma mamoplastia”, diz Cláudia.

‘Medicina era apenas um negócio’

Em outro caso, ao atender uma paciente, a promotora conta que Bolívar removeu um nódulo do seio de uma paciente, mas não mandou o material para a biopsia, para a investigação. O nódulo era um câncer, que evoluiu e a mulher perdeu a mama.

“Ele agia fazendo o que quisesse, como se fosse completamente imune, acreditando na ineficiência do Estado. Nunca teve nenhum comprometimento, e a medicina para ele era apenas um negócio”, diz.

Paciente vítima de suposto cárcere segue internada

A paciente Daiana Cavalcanti Chaves, que acusou o médico Bolívar Guerrero e o Hospital Santa Branca de cárcere privado, segue internada no Hospital Federal de Bonsucesso.

Ela se submeteu a quatro procedimentos para remoção de tecido necrosado da barriga e dos seios, e passou por uma mamoplastia para recostruir a mama.

Relembre o caso

Bolivar foi preso em 18 de julho, quando estava dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca, clínica da qual ele é sócio. O cirurgião foi acusado de manter Daiana Cavalcanti, de 36 anos, em cárcere privado na unidade de saúde.

A polícia apontou que a mulher estava em estado grave, com várias complicações após ter feito uma cirurgia plástica.

Daiana tentou ser transferida de hospital, mas segundo ela e testemunhas o cirurgião dificultou a transferência. Ela estava internada no Santa Branca desde junho deste ano.

Alguns dias após a prisão, Daiana conseguiu ser transferida para o Hospital Federal de Bonsucesso, onde se recupera.

Após a prisão, vários outros ex-pacientes de Bolívar denunciaram à imprensa problemas que tiveram com o médico. Alguns disseram que foram operados por uma técnica de enfermagem que atuava com o equatoriano.

Quase 20 processos e 1 prisão

Bolívar Guerrero Silva, segundo levantamento feito pelo g1, responde a pelo menos 19 processos na Justiça. Além das ações judiciais, Bolívar já foi preso, em 2010, na Operação Beleza Pura da Polícia Civil, que terminou com a detenção de oito médicos, entre eles o cirurgião equatoriano.

Na ocasião, ele foi acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa, além de usar outros produtos falsificados. Segundo as investigações, o produto falso era fabricado em Goiás e distribuído em clínicas de estética no Rio.

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