Para evitar que casos da covid-19 se tronem graves, a farmacêutica norte-americana Pfizer desenvolveu o remédio Paxlovid. No formato de comprimido, o antiviral impede que a infecção do coronavírus SARS-CoV-2 evolua. No entanto, começam a surgir raros relatos de que a medicação pode causar um efeito rebote. Em outras apalavras, após o tratamento e aparente recuperação do paciente, a doença pode voltar.
Até agora, são poucos os relatos de caso sobre o efeito rebote do remédio da Pfizer, mas a situação acende um sinal de alerta e aponta para a necessidade de novas pesquisas e análises sobre a medicação contra covid-19. Eventualmente, o protocolo da medicação, como os dias de uso, pode ser revisto para alguns pacientes.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o medicamento da Pfizer no final de março deste ano. No mundo, países como Estados Unidos, Canadá e China também concederam autorização de uso para esta pílula.
Relato sobre o efeito rebote do Paxlovid
Publicado na plataforma Research Square, um preprint — estudo sem revisão por pares — trouxe um relato de caso sobre o efeito rebote do medicamento Paxlovid. A pesquisa é liderada pelo médico Michael Charness, chefe de equipe do VA Boston Healthcare System, nos EUA.
“Nossos achados sugerem que a replicação viral e os sintomas da covid-19 podem voltar após tratamento muito precoce com NM/R [o medicamento, composto pela combinação do nirmatrelvir com o ritonavir] antes que a imunidade natural seja suficiente para eliminar completamente SARS-CoV-2”, afirmam os autores do estudo. Por causa disso, a doença pode “voltar” alguns dias depois.
Entenda a pesquisa
Segundo os médicos responsáveis pelo caso, um paciente de 71 anos foi “curado” da covid-19, após o tratamento com o remédio Paxlovid. O indivíduo é asmático — uma condição que pode facilitar a evolução da doença para a forma grave — e já tinha recebido o reforço da vacina contra a covid-19.
A medicação da Pfizer foi iniciada nos primeiros dias do disgnóstico e o paciente relata que os sintomas passaram. No entanto, “no dia 9, ainda em isolamento, ele desenvolveu sintomas típicos de resfriado com rinorreia [secreção nasal], dor de garganta, coriza e asma; estes atingiram o pico no dia 10 e foram resolvidos no dia 12”, detalham os pesquisadores.
As amostras do paciente passaram pelo sequenciamento genético e foi possível comprovar que o caso não se tratava de reinfecção do coronavírus. Além disso, testes para outros vírus respiratórios foram feitos, mas ele estava infectado apenas pelo vírus da covid-19.
“São necessários mais trabalhos para determinar a frequência, duração e espectro dos sintomas do rebote”, explicam os autores do estudo. Além disso, não é possível saber se a condição ocorre com mais frequência durante o tratamento com o remédio da Pfizer do que em pacientes não tratados com o antiviral.
Pfizer explica que casos são raros
Após os relatos, a porta-voz da Pfizer, Kit Longley, explicou que a empresa continua “monitorando dados de nossos estudos clínicos em andamento de Paxlovid, bem como evidências do mundo real” relacionados a casos de recaída pós-Paxlovid, segundo o canal NBC News.
Inclusive, alguns raros casos do efeito rebote da medicação foram identificados durante o estudo clínico, controlado por placebo. A tendência era maior entre os dias 10 e 14 do início dos sintomas da covid-19. No entanto, a taxa era similar com a daqueles que receberam placebo.
“Não vimos uma associação entre o aumento observado da carga viral e a doença grave subsequente”, explica Longley. “Embora seja muito cedo para determinar a causa, isso sugere que é improvável que o aumento observado na carga viral esteja relacionado ao Paxlovid”, completa.