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quinta-feira, 28 março, 2024

Bregas e intelectuais

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Passei mais de 50 anos de minha vida ouvindo muitas das músicas de Roberto Carlos. Brega para uns, profundo demais para outros. Não que não tenha dado atenção e valor a outros cantores e compositores. Sempre admirei a voz de Gal Costa, mas tenho restrições a 99% de suas músicas. Caetano Veloso? Bom com sua participação num festival da Record, com “Alegria, Alegria”. E nada mais. O mesmo com Gilberto Gil, que, pra mim, não passou do “Domingo no Parque” e “Aquele Abraço”.

Roberto Carlos sempre teve seu lugar. Músicas melosas numa hora, inocentes demais em outra. Mas sempre agradou. “O Calhambeque” fez parte da inocência, assim como “Pega Ladrão”, ou “Namoradinha de um amigo meu”. Na mesma época, outros cantores optaram pela música de protesto, como se cantar conseguisse derrubar um governo. Reclamam até hoje do exílio de luxo que viveram em Londres e Paris. Roberto Carlos nunca precisou sair do Brasil.

Ele faz parte de uma casta de compositores iluminados. Algumas de suas músicas têm tudo para se tornarem praticamente eternas. O que dizer de “Cavalgada”? O que dizer de “Emoções”? O que dizer de “Amada Amante”?

Bregas? Melosas? Que alguém procure entre outros compositores de sua época músicas com tamanho significado. Antes dele houve outros bons compositores – que se ouça Silvio Caldas cantando “Chão de Estrelas”. Ou Elis Regina cantando “Fascinação”. Ou Nelson Gonçalves cantando “Caminhemos”. E depois disso, o que tivemos?

Nada relevante a não ser Roberto Carlos. Nos dias de hoje empurram-nos Pablo Vittar e Anitta. Nos fazem engolir o alarido do chamado sertanejo universitário – ou sertanojo. Nos inundam com funks grosseiros e desprovidos de qualquer sentimento, a não ser o instinto por sexo e gandaia.

Não cheguemos a tanto, mas a boa música permanece para sempre. Mozart, Beethoven, Richard Wagner, Tchaikovski, só para citar alguns, têm composições centenários que são tocadas até hoje. A 5ª Sinfonia de Beethoven, por exemplo, foi composta entre 1804 e 1808 e é sucesso até hoje. 1812, de Tchaikovski, foi apresentada pela primeira vez em 1882.  E daqui a 200 anos, alguém vai se lembrar de Anitta? Mas certamente alguns de nossos netos ou bisnetos mais saudosistas terão em seus pen-drives ou CDs alguma coisa como “Cavalgada”. E talvez até cantem para suas namoradas “Amada Amante”. Não viveremos para ver e ouvir tudo isso. Mas temos certeza desse futuro.

ANSELMO BROMBAL
Jornalista

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