“É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação.” Tem lógica? Sim. A consciência é como uma árvore e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela; a árvore é a coisa real. Com a reputação apenas você pode intimidar e vencer; um deslize, entretanto, e você fica vulnerável e será atacado por todos os lados.
Certa vez, uma empresa estava com sérios problemas de qualidade e produtividade. Nem todas as áreas estavam contribuindo para isso, mas todos os executivos responsáveis e suas equipes estavam ameaçados de demissão.
Nenhuma motivação pairava no ambiente; áreas de marketing e vendas não focavam mais em crescimentos da receita e satisfação do consumidor; financeiro e operacional não sentiam prazer em produzir resultados satisfatórios, pois a alegria de bem cumprir a missão tinha desaparecido da empresa.
Em uma reunião, o presidente CEO, chamado de “Wine” tomou a palavra dizendo: “caros, que o mais incompetente se apresente e deixe esta empresa para o bem comum, pois a história nos ensina que nestas crises devemos fazer sacrifícios. Sem ilusões e com olhar severo, examinemos nossas consciências. Conforme recordo, tomei decisões equivocadas. Se necessário for, portanto, pedirei para me retirar do cargo. Mas, suspeito que outros foram mais incompetentes. É justo que encontremos o mais culpado disso.“Senhor, o senhor é um excelente CEO”, começou o chefe do marketing, CMO, “em sã consciência eu juro que gastei nosso orçamento de forma correta, isso é errado? Não, senhor, basta ver a reputação dos executivos concorrentes. Eles não merecem o cargo.” Assim falou o CMO, e aplausos bajuladores se fizeram ouvir sonoros, enquanto ninguém ousava olhar friamente para as desculpas esfarrapadas do chefe do financeiro, CFO, do chefe de operações, COO, do chefe de relações com investidores, RI e do chefe da TI, CIO.
Ninguém queria se queimar. Cada um deles, não importa de qual área, tinha reputação ilibada, todos concordavam. A única pessoa na mesa de reunião que podia ameaçar a todos era a secretaria do CEO. Ela conhecia todos os “podres” dos executivos e era inimiga mortal de alguns. Se ela os denunciasse, demissão na certa.
A secretaria fazia a ata da reunião e de repente pediu a palavra: “permita-me Senhor “Wine”, estou com um peso na consciência e me lembro de uma vez estar digitando os relatórios em um calor infernal, o ar-condicionado estava quebrado, quando senti sede, bebidas no frigobar em abundância e, ademais, não tenho dúvida, um ímpeto de ganância tomara conta de mim e eu arranquei a tampa daquela garrafa de vinho do Porto geladinha a qual francamente eu não tinha nenhum direito e degustei alguns goles.”
Sem demora, todos os seus inimigos marcaram cerrada perseguição a secretaria: “que arrogante, é a garrafa de vinho do CEO”, disse o CMO; “preguiçosa, não chamou a manutenção para arrumar o ar-condicionado”, afirma o CFO; “santinha do pau oco, o design é inspirado numa garrafa original de 1905 da qual existe apenas um exemplar”, diz o COO; “a garrafa foi comprada, em Hong Kong pelo valor de 1.000 euros”, grita irado o RI; “consumindo álcool em serviço, merece ser demitida”, esbraveja o CIO. Diante de tantos ataques, ninguém quis saber mais dos problemas internos.
A situação ficou insustentável para secretaria que foi demitida pelo RH. O CEO ficou com a reputação arranhada e foi demitido pelo conselho. Os demais executivos lá se encontram ainda.
Esta fabula confirma que você deve tornar a sua reputação inexpugnável. Estar alerta aos ataques em potencial e frustrá-los antes que aconteçam. Aprender a destruir seus inimigos minando as suas próprias reputações. Depois, afaste-se e deixe quem decide acabar com eles. Lógica do Poder!
Nélio Fernando dos Reis
Professor