A nota com a imagem do lobo-guará, de R$ 200, ainda é rara. Muitos brasileiros sequer tiveram um modelo destas em mãos, em parte devido à digitalização da economia com a pandemia e ferramentas como Pix, em parte pela crise mesmo. Mas a cédula lançada em setembro do ano passado é cada vez mais alvo de golpistas e aparece com frequência crescente nos processos de verificação de notas falsas do Banco Central.
Em salas espalhadas pelas dez unidades do BC ao redor do país, 30 servidores especializados têm uma tarefa principal: analisar as cédulas que são enviadas à instituição sob suspeita de falsificação ou em estado de conservação tão ruim que, às vezes, precisam da análise de um especialista para atestar o seu valor.
Desde o ano passado, essas salas estão cheias de notas de R$ 200, dando um trabalho extra aos profissionais do BC. Até novembro deste ano, a autoridade monetária já reteve 39,2 mil unidades falsas de R$ 200, o equivalente a R$ 7,84 milhões.
Com esse registro, a nota de R$ 200 se torna a segunda cédula mais falsificada no país, atrás apenas da de R$ 100. No mesmo período, o BC reteve 206,1 mil notas falsas da cédula ilustrada pela garoupa, o que daria R$ 20,61 milhões. “As cédulas de maior valor são em geral as mais visadas pelos falsários; e, após o lançamento de uma nova denominação, é comum encontrar tentativas de falsificação em circulação”, explica o BC, em nota.
De janeiro até 26 de novembro deste ano, o BC examinou 380 mil cédulas, das quais 182 mil eram falsas. As cédulas são enviadas pelos bancos quando há suspeita de falsificação, para que o BC comprove a autenticidade ou indique o valor no caso de unidades muito deterioradas.
O desconhecimento de boa parte da população em relação a uma nova cédula, particularmente de valor alto, é um dos principais incentivos aos criminosos. Como ainda circula pouco, o lobo-guará não é íntimo de muitos brasileiros, que têm dificuldades para identificar sinais de falsificação.
Segundo o BC, são apenas 89,8 milhões cédulas de R$ 200 em circulação, contra 1,8 bilhão de cédulas de R$ 100 e R$ 2,1 bilhões de R$ 50. Assim, muitos comerciantes acabam tentando evitar a nota ou passam mais tempo que o normal “olhando” a cédula contra a luz para tentar assegurar a autenticidade na hora de receber. Hábito, aliás, recomendado pelo BC para não ficar no prejuízo.
Para identificar as cédulas falsas, os técnicos do BC avaliam manualmente os elementos de segurança, como os microtextos (número 200) em torno do lobo-guará, que só podem ser vistos com lupa, e os elementos fluorescentes que ficam visíveis somente sob luz ultravioleta. “(A análise) é feita de forma manual e individual, por funcionários com experiência nesse trabalho, que envolve conhecimentos técnicos sobre os itens de segurança das cédulas legítimas e métodos de falsificação”, explica o BC.
Os dados do BC apontam que o estado com mais cédulas falsas retidas até novembro deste ano é São Paulo, maior economia do país, com 81,6 mil notas de todos os valores, seguido de Minas Gerais, com 25,3 mil e Paraná, com 20,8 mil. Considerando a população em cada estado, o Distrito Federal é o lugar onde o BC mais reteve cédulas falsas neste ano proporcionalmente, seguido de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.