“Diga sempre menos do que o necessário.” Tem lógica? Sim. Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.
Certa vez, um experiente gerente, conhecido como “Fala Muito”, gozava de um prestígio incomensurável em uma empresa multinacional. Como passava a maior parte do tempo viajando para reestruturar as filiais deficitárias, a diretoria não o conhecia pessoalmente, o que o tornava, portanto, uma espécie de figura lendária.
Ao surgir uma vaga na diretoria, “Fala Muito” decidiu que era hora de explorar a sua reputação e se candidatar a vaga. Tradicionalmente, os candidatos a este cargo faziam duas apresentações orais, e na primeira apresentação, ao aparecer diante dos executivos, ele projetou as fotos de todas as unidades que havia recuperado. Poucos ouviram a fala que prosseguiu; aquelas fotos, provas de valor e competência, comoveram os diretores. A vaga parecia certa.
Na segunda apresentação para os conselheiros de administração da empresa, “Fala Muito” começou dirigindo-se principalmente aos diretores que o acompanhavam. Suas palavras foram arrogantes e insolentes. Afirmando a certeza de ser promovido a diretor, ele se vangloriou das suas proezas, fez piadas impertinentes que agradaram apenas a alguns diretores, pronunciou acusações iradas contra seus adversários internos e especulou sobre corrupção no conselho. Desta vez os executivos o escutaram: não tinham percebido que o lendário gerente era também um fanfarrão comum. Foi demitido, imediatamente! O conselho apoio a decisão.
Antes de se candidatar a vaga na diretoria, o nome de “Fala Muito” evocava respeito. Seus feitos mostravam sua competência. Como ele era pouco conhecido pela diretoria lendas de todos os tipos foram sendo acrescentadas ao seu nome. Mas assim que ele apareceu diante dos executivos, manifestando suas opiniões, toda essa grandeza e mistério se foi.
Ele se gabava e esbravejava como um funcionário comum. Insultava e injuriava o conselho, como se se sentisse ameaçado e inseguro. De repente, ele não era aquilo que os executivos imaginavam. A discrepância entre a lenda e a realidade foi uma decepção muito grande para os que gostariam de acreditar nele como um futuro diretor competente. Quanto mais “Fala Muito” falava, menos poderoso parecia – a pessoa que não consegue controlar suas palavras mostra que não tem controle sobre si mesma e não merece respeito.
Se “Fala Muito” tivesse falado menos, o conselho e a diretoria não teriam tido motivo para se ofender, jamais teriam conhecido os seus verdadeiros sentimentos. Ele teria conservado a sua aura poderosa, teria certamente sido promovido a diretor. Mas a língua humana é um animal selvagem que poucos conseguem dominar. Está sempre se esforçando para sair da jaula e, se não for domesticado, vira uma fera e vai lhe dar problemas. Não acumula poder quem joga fora a riqueza de suas palavras. Lógica do Poder!
Nélio Fernando dos Reis – Professor