“Devo ocultar minhas intenções.” Tem lógica? Sim. Mantenha as pessoas na dúvida e no escuro, jamais revelando o propósito de seus atos. Não sabendo o que você pretende, não podem preparar uma defesa. Leve-as pelo caminho errado até bem longe, envolva-as em bastante fumaça e, quando elas perceberem as suas intenções, será tarde demais.
Certa vez, um jovem executivo, chamado de “Fumaça”, passava por um momento decisivo na sua carreira. Os assuntos do dia era o prejuízo reiterado da empresa de educação onde trabalhava. A empresa tinha escolas por todo país.
O executivo mais sênior, chamado de “Sinceridade”, era o próximo na linha de sucessão da função de CEO, era a favor de reduzir os cursos presenciais e atuar em Ensino à Distância – EaD – e o comitê executivo cerrava fileira em torno da causa, preparado para apoiar o reposicionamento da empresa em um novo campo de ensino.
Os únicos contrários ao EaD eram a atual CEO, chamada de “Babalu” e o conselho de administração da empresa que preferia contentar os professores e não reduzir os custos, sob pena de ter evasão em massa por parte dos estudantes que eram influenciados pelos mesmos.
“Fumaça” era defensor ferrenho de EaD, no auge da internet, mas fez um discurso no conselho que deixou todos atônitos. “Desgraçado o executivo que quer mandar embora os professores das salas de aula para vender cursos pela internet, precarizar a qualidade e lucrar com capital especulativo na bolsa”, disse ele. Terão coragem de recorrer ao pobre ex-professor para que indique nossos cursos de forma online? Terão coragem de atravessar uma ponte construída por um engenheiro formado à distância? Terão coragem de receber dinheiro de capitalistas selvagens e perderem o controle acionário da escola?
Isto era o contrário de tudo que ele havia defendido. As consequências foram imediatas. “Fumaça” era contra EaD – o que significava isso? Os conselheiros estavam confusos, vários mudaram seus votos. No final a CEO “Babalu” e os conselheiros ganharam, e evitou-se entrar na guerra de cursos online. Pouco depois do notório discurso de “Fumaça”, a CEO, agradecida por ele ter defendido não atuar em EaD, indicou-o como seu sucessor e o conselho aprovou. Passados alguns meses ele se tornou o novo CEO da empresa.
Neste papel, ele conduziu sua empresa a um reposicionamento jamais visto, mandando embora todos aqueles que o ameaçavam e também aqueles que não acreditavam em EaD, investindo em tecnologia e reduzindo os custos com prédios e professores. Montou estúdio de televisão, abriu polos EaD por todo país. Investiu pesado em comunicação. Abriu capital na bolsa de valores e manteve como majoritários os conselheiros. Sucesso total. Lucratividade altíssima. Ficou rico com as ações da empresa.
Interpretação. Na época do seu discurso “Fumaça fez vários cálculos. Primeiro, ele percebeu que EaD era promissor. Segundo, se ele reposicionasse a empresa e ela continuasse no prejuízo, sua carreira estaria gravemente ameaçada. Terceiro, se abrisse capital na bolsa e as ações se valorizassem, ficaria rico. A “Babalu” e seus executivos queriam ensino presencial; “Fumaça” queria o poder.
Se ele tivesse anunciado suas verdadeiras intenções, argumentando que era melhor o EaD, não teria ganhado a discussão. Se tivesse bajulado “Babalu” e o conselho, pedindo para ser nomeado sucessor em troca do apoio ao ensino presencial, também não teria tido sucesso: a CEO teria desconfiado da sua ambição e duvidado de sua intenção.
Sendo totalmente insincero e enviando sinais falso, entretanto, ele enganou todo mundo, escondeu seus propósitos e conseguiu tudo que queria. Tal é o poder de se ocultar intenções. As pessoas na sua maioria são como um livro aberto. Elas dizem o que sentem, não perdem oportunidade de deixar escapar opiniões e, consequentemente, revelam seus planos e intenções.
A honestidade é na verdade uma faca sem fio, mais sangra do que corta. A sua honestidade provavelmente vai ofender os outros; é muito mais prudente medir as suas palavras, dizer às pessoas o que elas querem ouvir, em vez da verdade nua e crua que é o que você sente ou pensa.
Mais importante, sendo despudoradamente franco você se torna tão previsível e familiar que é quase impossível inspirar respeito ou temor, e a pessoa que não desperta esses sentimentos não acumula poder. Domine a arte e você prevalecerá sempre. Lógica do Poder!
Nélio Fernando dos Reis – Professor