Os homens representam mais de 62% dos casos da infecção sexualmente transmissível
64.300 casos de sífilis adquirida foram registrados no Brasil somente no primeiro semestre de 2021, segundo dados atualizados do Ministério da Saúde. O número é 16 vezes maior do que em todo o ano de 2010, quando 3.936 pessoas foram diagnosticadas com a doença.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e pode ser passada para o bebê durante a gestação ou parto. Quando há a infecção, vários sintomas podem surgir, incluindo manchas no corpo e feridas no local de entrada da bactéria que podem desaparecer sozinhas, o que dificulta o diagnóstico.
Os homens representam mais de 62% dos casos de disseminação da bactéria chamada Treponema pallidum. A médica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Cecília Roteli, afirma que a causa do aumento expressivo da sífilis é a falta de tratamento adequado, além da falta do uso de preservativo.
“Na realidade, todas as doenças infecciosamente transmissíveis têm como motivo a falta de tratamento, porque sem ele a circulação da bactéria é muito maior. Os homens geralmente têm mais receio de ir ao médico do que a mulher e isso influencia para o maior número de casos. Não diria que essa explosão de sífilis é uma alteração de comportamento dos brasileiros”, afirma a ginecologista.
Levantamento feito pela CNN mostra que o Sudeste representa cerca de 45% dos casos. Em seguida, aparecem o Sul (22%), Nordeste (16,5%), Norte (8%) e, por último, o Centro-Oeste (7%). A ginecologista ressalta que a pandemia da Covid influenciou na alta de casos, já que a população ficou afastada dos postos de saúde.
Somente nos seis primeiros meses deste ano, quase 11 mil (10.968) crianças menores de um ano de idade tiveram sífilis congênita, ou seja, quando é transmitida pela mãe. Quase todas elas (96,2%) receberam o diagnóstico positivo para a doença com até uma semana de vida. As mães podem ter diversas complicações sérias por causa da sífilis, como aborto espontâneo, parto prematuro e o feto ainda pode sofrer com malformação ou cegueira.
No primeiro semestre deste ano, foram registrados 330 abortos em decorrência da sífilis, enquanto houve o registro de 267 natimortos, quando o feto não resiste após 20 semanas de gestação. Em todo o Brasil, 27.213 mulheres tiveram sífilis durante a gravidez, a maior parte tinha entre 20 e 29 anos e mais de 66% eram pardas ou negras.
Ainda segundo dados do Ministério da Saúde, 23,1% dessas mulheres completaram o ensino médio e somente 1,4% terminaram a faculdade. A ginecologista Cecília Roteli, no entanto, ressalta que o aumento de transmissões em classes mais altas também é uma realidade entre os brasileiros.