Os chamados CACs já tiveram 840 armas de fogo roubadas ou extraviadas apenas neste ano; Bolsonaro ampliou quantidade de armas e munição que esses atiradores podem comprar
Apenas neste ano, 840 armas de fogo de caçadores, atiradores e colecionadores foram roubadas ou extraviadas no Brasil. O número representa cerca de três armas perdidas por dia. Os dados, obtidos pela Agência Pública junto ao Comando do Exército via Lei de Acesso à Informação, revelam que o total de armas “perdidas” até setembro de 2021 já supera o de todo o ano de 2020 e o de 2019.
A maior parte dessas armas foi levada em roubos ou furtos: 692 neste ano, uma média de 2,5 por dia. O número é maior que em 2020 e em 2019. A legislação estabelece que no caso de arma roubada ou extraviada, um CAC deve procurar uma unidade policial local para fazer um boletim de ocorrência e levar uma série de documentos para comunicar à Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados.
Foi esse o caso relatado por um dono de fuzil, que teve a arma furtada enquanto se hospedava em um apartamento em Brasília. Segundo reportagem do Globo, o fuzil com mil cartuchos de munição foi levado do apartamento, mas localizado pela Polícia Militar.
A maior quantidade de armas roubadas ou extraviadas no Brasil foi registrada na região militar correspondente ao estado de São Paulo: foram 380 apenas em 2021. São Paulo é justamente a região com mais registros de CACs em todo o país. São mais de 104.000 pessoas físicas com registro ativo, informados pelo Exército em setembro de 2021.
O aumento no número de armas perdidas ocorre junto à alteração dos mecanismos de controle, como o rastreamento, marcação e identificação. Em abril do ano passado, Bolsonaro revogou três portarias do Comando Logístico do Exército (Colog) que tratavam, dentre outros, da identificação e marcação das armas e munições fabricadas no país exportadas ou importadas. A justificativa, segundo escreveu o presidente no Twitter, foi de que as regras não se adequavam às suas diretrizes definidas em decretos. Na época, o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) comemorou a revogação, chamando o pai de 1ª “presidente não desarmamentista”. Em setembro deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes suspendeu a portaria de Bolsonaro que revogava as normas do Colog.
O Brasil registrou uma explosão de registros de CACs no país com o governo Bolsonaro. Em 2020, houve um recorde de certificados concedidos: mais de 100.000, um aumento de mais de 40% em relação ao ano anterior — que já havia marcado um recorde histórico.
Antes de Bolsonaro, a média de certificados de CAC concedidos por ano era de cerca de 15 mil. Em 2019 e 2020, essa média ficou em 89.000. Somente até abril de 2021, já foram mais de 48 mil registros, o que levou o total de CACs para mais de 362.000 no país.
Dentre os CACs, são os atiradores —quem se registra no Exército como praticante habitual de tiro como esporte— os que possuem mais armas no país. Já são mais de meio milhão de armas na mão de atiradores, a maior parte de pistolas, seguidas de fuzis e revólveres. E a maior parte das armas registradas por CACs estão nas mãos de civis: militares têm pouco mais de 6.800.