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sexta-feira, 22 novembro, 2024

Três a cada quatro brasileiros estão endividados, mostra pesquisa

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Indicador de endividamento, em setembro, ficou 6,8 pontos percentuais acima do registrado no mesmo período do ano passado, segundo estudo da CNC

O total de brasileiros endividados chegou a 74% da população em setembro, 1,1 ponto percentual (p.p.) acima do verificado em agosto, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Na comparação com setembro de 2020, o nível de endividamento da população ficou 6,8 p.p. acima.
Com a alta de setembro, o indicador renovou o nível recorde, mas houve queda na inadimplência, o que sinaliza um quadro menos negativo — a Peic mede todos os tipos de endividamento, incluindo cartão de crédito, e o crescimento das dívidas não implica, necessariamente, contas em atraso. As obrigações das famílias, levantadas pela pesquisa, incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestações de carro e de casa própria.
O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,5% do total, 0,1 p.p. abaixo do nível de agosto, e 1 ponto abaixo do apurado em setembro de 2020. Foi o segundo mês seguido de queda da inadimplência, segundo o estudo, apesar das recentes altas dos juros e do recorde no endividamento. Além disso, de acordo com a pesquisa, a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso caiu 0,4 ponto, para 10,3%. Na comparação com setembro de 2020, o recuo foi de 1,3 ponto percentual.
Para a CNC, a diminuição da inadimplência “tende a se consolidar ao longo do ano, mostrando o esforço das famílias para manter seus compromissos financeiros em dia, seja por meio da renegociação das dívidas, seja por maior controle dos gastos ou evitando o consumo de produtos supérfluos”.
Por outro lado, o ciclo de alta dos juros básicos conduzido pelo Banco Central (BC) poderá ser um obstáculo para a continuidade da queda da inadimplência, já que “tende a encarecer as dívidas e demais despesas em aberto”, pondera a entidade representativa do comércio. “O recente aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mesmo que temporário, acirra ainda mais esse custo”, diz a nota divulgada pela CNC.
Por grupos de renda, as tendências permanecem as mesmas desde abril, segundo a Agência Brasil. Entre as famílias que recebem até 10 salários mínimos, o endividamento passou de 74,2% para 75%, nova máxima histórica. Em setembro de 2020, eram 69% das famílias nessa faixa de renda endividadas. A inadimplência desse grupo, porém, diminuiu de 28,8% para 28,6%, ante 30% em setembro de 2020.
Para as famílias que têm renda acima de 10 salários mínimos, o endividamento foi de 67,6%, em agosto, para 68,9% em setembro, depois dos 59% registrados em setembro do ano passado. Segundo a CNC, o endividamento desse grupo vem registrando patamares recordes mensais desde fevereiro, mas o percentual de inadimplência caiu de 11,8% para 11,7% na passagem mensal, a menor proporção desde fevereiro.
O governo federal continua quebrando a cabeça para encontrar uma forma de segurar os altos preços dos combustíveis. Ontem (4), em evento do Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que discute a criação de um fundo de estabilização dos valores de comercialização desses produtos. A ideia é utilizar ações de empresas estatais para essa finalidade.
“Podemos integralizar esse fundo de estabilização com ações da PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.), com ações que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tenha da Petrobras”, disse Guedes. O comentário foi feito enquanto o ministro fazia questionamentos sobre o teto de gastos adotado no Brasil. Para Guedes, a medida de restrição impede que o país consiga integralizar o dinheiro do fundo.
“Nós definimos teto de um jeito equivocado, no qual o governo tem que gerar superavit, gastar espaço de teto para comprar reservas que ele já tem”, explicou. A ideia de um fundo de estabilização já havia surgido em 2018, quando Henrique Meirelles era ministro da Fazenda, durante o governo de Michel Temer.
Os números mostram que a conta não é tão simples como Paulo Guedes fez parecer. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), os brasileiros consumiram 131,7 bilhões de litros de combustível no ano passado, o menor patamar desde 2012. Com a volta do trabalho e das atividades econômicas, o total deve ser bem maior neste ano.
O professor do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec) William Baghdassarian explicou que, apesar da “boa intenção”, a ideia de Guedes pode não funcionar na prática. “Só de gasolina foram consumidos quase 36 bilhões de litros (35,8 bilhões, segundo a ANP), e se o governo fosse subsidiar, por exemplo, R$ 0,50 por litro, não aliviaria tanto no bolso do consumidor, pois o preço da gasolina continuaria muito alto e o governo teria um gasto de R$ 18 bilhões, o que seria uma boa parte do Auxílio Brasil que o Planalto tanto quer viabilizar”, comparou.
Outro problema, segundo Baghdassarian, é que o governo faria uma distribuição de renda às avessas. “Se o governo usasse esses R$ 18 bilhões para subsidiar o combustível, deixaria de colocar esse dinheiro nos mais pobres e daria para camadas mais ricas ou para a classe média, que têm acesso ao combustível”, explicou.
A inflação chegou ao seu maior nível em setembro e, a partir de agora, deve recuar para fechar 2021 em 8,5% ao ano. A estimativa é do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento on-line promovido pelo jornal Valor Econômico. A previsão está em linha com a do mercado, que aponta para 8,51%. “Setembro teve o nível mais alto em 12 meses (10,05%)”, disse Campos. No encontro, o presidente do BC reafirmou que subirá os juros até onde for preciso para segurar a inflação, que, segundo ele, fechará próximo da meta de 3,5% em 2022.

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