Quando surgiram os primeiros computadores, essas máquinas não eram assim chamadas. Eram tratadas como “Cérebro Eletrônico”. Com o passar dos anos, e sua crescente popularização, criou-se o mundo digital. E pelo jeito, quem deixou o cérebro de lado foi o humano. Hoje tudo é digital, virtual, em nome do progresso. Até dá para aceitar, mas há exageros.
Os tais seres do mundo digital precisam entender que no País há uma considerável fatia de população formada por idosos. E idosos não se habituaram a tanta modernidade. Idosos têm dificuldades para usar sites e aplicativos. Estão acostumados ao papel, ao atendimento presencial, ao contato humano. Alguns ainda falam e lembram do cérebro eletrônico. Ou do cérebro que falta às pessoas de hoje.
As empresas, em nome da economia, jogaram toda a responsabilidade de atendimento aos computadores. O Detran, por exemplo, é o símbolo da complicação. Licenciamento de carro, só por meio digital. Renovação de carteira de motorista precisa marcar dia e hora por aplicativo – o interessado só vai ao Perdetempo para tirar fotografia. Fodam-se os velhinhos.
E quando idosos tentam argumentar com os mal preparados atendentes do Perdetempo, ouvem respostas que soam como sarcasmo. Esse é o mundo digital. Digital, desumano e mal educado. Mas os velhinhos são como crianças. Sabem ser maldosos.
E o que esses velhinhos desejam de coração é que no futuro, quando essa molecada digital tiver seus 60, 70 anos (se é que vão viver tanto tempo assim), tudo tenha mudado. Que programadores e cientistas tenham inventado uma coisa mais lazarenta do que site e aplicativos. E que eles, os jovens digitais de hoje, daqui a alguns anos, sejam os velhinhos. E que se fodam bastante quando tiverem de mexer nessas geringonças.
ANSELMO BROMBAL
Jornalista
