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sexta-feira, 29 março, 2024

Elize Matsunaga, Netflix e a Espetacularização do Crime

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Na última semana estreou na Netflix o documentário “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime”, conforme anunciado pelo Novo Dia Geek #24, apresentado pelo meu amigo Felipe Gonçalves.

Para quem não se lembra do caso, Elize Matsunaga foi a júri popular por ter confessado matar e esquartejar seu marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro das empresas do grupo Yoki, no ano de 2012.

A série documental de quatro episódios mostra detalhes da investigação que levou à prisão da acusada, bem como entrevista advogados, jornalistas, o promotor do caso, e familiares e amigos de Elize.

À época do assassinato do empresário e do julgamento de Elize, a mídia pareceu ter esgotado tudo o que havia para falar sobre o caso, e temos a sensação de que o documentário não traz qualquer informação nova ao espectador.

E o trunfo da produção está justamente em contar uma história já conhecida, mas vista por uma nova perspectiva: a de quem cometeu o crime.

Embora o gênero “true crime”, que explora histórias reais de crimes e criminosos, não seja novidade, sendo que a própria Netflix ostenta um catálogo imenso de títulos com essa temática, a grande maioria das produções traz apenas a visão de policiais, da mídia e de membros do sistema judiciário.

Aventuras na História · Internautas comentam o que acharam da série  documental 'Elize Matsunaga: Era uma vez um crime', da Netflix
Elize Matsunaga em um dos depoimentos prestados ao documentário da Netflix, em uma de suas “saidinhas” em 2019.

Já o documentário sobre o caso Yoki vai além, mostrando não só o lado de uma Elize que passou por abusos na infância e sofreu com um casamento conturbado, mas evidenciando o machismo enraizado no nosso meio social, e como ele é utilizado como estratégia processual.

No caso de Elize, as condições de mulher e, principalmente, de garota de programa, foram utilizadas pela acusação para que seu depoimento fosse desacreditado. De acordo com familiares e amigos de Marcos, Elize foi “salva” da prostituição e vivia “como uma princesa”, mas seu casamento estava fadado à ruína em razão de sua vida pregressa.

De outro lado, a defesa argumentou que Marcos (tratado por sua família como “um marido que toda mulher gostaria de ter”) era assíduo frequentador de sites de prostituição e, além de trair, praticava violência física e psicológica contra a esposa.

Não há dúvidas de que o documentário cumpre o papel pretendido, que é fazer com que o público crie empatia com Elize, que, aliás, só pôde participar das gravações em razão da concessão do benefício da saída temporária, permitida a condenados que estejam cumprindo pena no regime semiaberto e que atinjam alguns requisitos, incluindo o bom comportamento.

Mas, para muitos, essa espetacularização do crime, além de transformar (ainda mais) criminosos em celebridades, leva famílias de vítimas a reviverem situações que, muito provavelmente, gostariam de deixar no passado.

E existem aqueles que defendem que essas produções podem servir para escancarar falhas do sistema judiciário e dos métodos policiais de investigação, assim como mostrar que toda história tem outro lado.

Há, ainda, a possibilidade de que um novo olhar sobre um crime possa, finalmente, resolvê-lo.

Foi o que aconteceu na Inglaterra em 2016, quando o caso da garota Elsie Frost foi reaberto após um documentário da BBC, levando à prisão do assassino 50 anos após o crime.

E independentemente de que lado você esteja, livros, filmes, séries e podcasts sobre crimes reais têm se mostrado bastante lucrativos, e devem ser explorados ainda por um bom tempo.

Fábio Juliate Lopes é advogado criminalista e especialista em Ilícitos Cibernéticos

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