Promotores de eventos, como jantares, baladas e encontros, estão sem trabalhar há quase um ano. E cada um está se virando como pode
Desde março do ano passado o Brasil inteiro parou por causa da pandemia. Fetas, baladas, jantares, bailes, tudo foi cancelado para evitar aglomerações. Seus promotores foram os primeiros a parar, e deverão ser os últimos a voltar às atividades. Nesse quase um ano parados, já teve quem fechou as portas, como a Chácara dos Sonhos, no Medeiros – a área foi vendida para uma construtora; os que não fecharam estão se virando como podem.
A Leds Eventos, de Várzea Paulista, completa oito anos em maio. No dia 14 de março do ano passado promoveu sua última noitada. Seu salão, de quase 900 metros quadrados, recebia público médio de 300 pessoas. As baladas, com temas variados, aconteciam de quinta a domingo, e empregavam 14 pessoas, a maioria free-lancers. “O prejuízo com a paralisação passa de 200 mil reais, conta Paulo César Capreti, dono da Leds. Mas acredito que em setembro voltaremos à normalidade”.
Até lá, Paulinho vai continuar trabalhando em farmácia, para onde voltou desde que se instalou a pandemia. Farmácia não é novidade para ele – começou no balcão de uma aos 10 anos, e foi o fundador da Aprofarma-Jundiaí, a associação que reúne os proprietários de farmácia. “Com a vacina, acredito que o fim da pandemia está próximo”, arremata.
Outro que está parado é Adlei Peres, do Vitrola Anos 80. Adlei é formado em Publicidade, com pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, e em Rádio, pelo Senac. Já passou pela Jovem Pan, privilégio da voz herdada do pai, o também radialista Armando Peres, que morreu em 2013. Adlei também trabalhou em TV, com Gugu Liberato, no quadro Telegrama Legal. Em 2016, após perder o emprego, e enfrentando problemas com sua saúde, relembrou um sonho de infância e juventude – os bailinhos que aconteciam nas casas dos amigos. Criou o Vitrola Anos 80.
“Foi uma época difícil, conta ele. Perdi meu pai em 2013, minha irmã em 2015 e minha mãe em 2017. Mas não deixei a depressão e o desânimo tomar conta de mim. Fui pra luta”. E que luta. Seu primeiro evento aconteceu no antigo Boliche Bonanza, na Vila Arens. Foram sete pessoas. O segundo, no Villa Music Bar, na Nove de Julho, 12 pessoas. Mas três meses depois o público melhorou, e seu terceiro evento recebeu 80 pessoas. “Na época o Facebook não tinha a força que tem hoje, se bem que o Instagram parece ter mais”, explica ele.
Adlei tem vários formatos de eventos – discoteca, festa, show. Na Capital, promoveu um show e levou o ex-Menudo Roy; noutro, Paulo Ricardo, co RPM – ambos com milhares de pessoas. Em Itatiba, em gtrês dias de evento, reuniu nove mil pessoas. Depois ficou quase um ano promovendo o Vitrola no Ibis Hotel, em Jundiaí – o último encontro foi no dia 25 de janeiro de 2020. Seus eventos eram a cada dois meses, mas já se programava para fazê-los mensalmente.
“Traballho desde os meus nove anos, e nunca vi uma crise desse tamanho, diz ele. Só não entendo uma coisa – não podemos promover eventos, porque causa aglomeração, concordo. Mas, e os trens, o Metrô, os ônibus, não aglomeram muita gente? Também queria entender o sentido da proibição de eventos noturnos. Tenho a impressão que o coronavírus é um boêmio, só sai à noite. Mas nos meus 46 anos de vida também nunca vi um governo, como o atual, que deu o auxílio emergencial a quem precisou”.
Durante esse tempo parado, Adlei promoveu somente uma inauguração, e bem restrita. Faz bicos (trabalhos ocasionais), como uma festa de aniversário de casamento, também restrita, e foi “queimando as reservas”. Acredita que com a vacinação, as coisas vão melhorar. “Além do perigo do coronavírus, há o terrorismo promovido pela mídia, que incute medo nas pessoas, mas acho que a gente precisa se cuidar sempre, não só em época de pandemia”, finaliza.
Aguinaldo de Castro, o Guina, é o responsável pela Fantasy, que existe há 35 anos no ramo de eventos. Sem pandemia, Guina fazia 15 eventos corporativos por mês, e nos finais de ano, praticamente um por dia. Na Quaresma, sempre parado. Para facilitar a vida, Guina terceirizava muitas coisas, como banda, garçons etc. Seu último evento seria no dia 15 de março do ano passado. Seria.
“Fui contratado pela Cervejaria Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, para um evento no dia 15 de março, conta ele. No dia 14, véspera, estava com quase tudo montado, uns 80% do evento. Nesse dia recebi uma ligação da cervejaria cancelando tudo. Foi a última vez que ouvi falar em festa”. De lá para cá, Guina chegou a vender alguns equipamentos da Fantasy parqa sobreviver. “Nunca passei por uma crise como essa”, afirma.
Ele acredita que quando 70 ou 80% das pessoas estiverem vacinadas, os eventos devem voltar à normalidade, e isso poderá acontecer em outubro ou novembro deste ano. “Mas a vacinação está muito devagar, apenas 5% da população vacinada”, conclui.
Outro que precisou parar foi Valdomiro Longo, dono do Miro´s Bufê. A empresa está no ramo desde 1985 e tem dois salões de festas – um no Caxambu e outro na AA Primavera. Empregava uma média de 40 pessoas, fazendo oito eventos por mês. “Dos 40 que eu empregava, sobraram dois, explica. Além disso, deixei de comprar muita coisa, o que certamente afetou os fornecedores”. E nesse tempo parado ele acredita ter tido prejuízo de 350 mil reais. “Tudo o que eu havia guardado já era”, diz sem perder o bom humor. Moro acredita que com a vacinação, vai melhorar. “Mas vai levar uns dois anos para voltarmos ao ritmo normal”, conclui.
Setor de serviços registra queda e fica cada vez mais distante do nível pré-pandemia
Segundo Robson Gonçalves, professor de Economia, os segmentos relacionados ao convívio e contato serão os últimos a sair da crise
O volume de serviços prestados no Brasil teve quedas recordes durante a pandemia, com perdas generalizadas em todas as atividades. Segundo o Índice de Confiança de Serviços (ICS), da Fundação Getulio Vargas, o setor começou 2021 recuando mais 0,7 ponto, se distanciando ainda mais do nível pré-pandemia. Os serviços prestados às famílias são os que mais registraram queda, 25,5% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE.
“A pandemia revelou que o setor de serviços é o mais sensível ao isolamento social, e dentro dele alguns segmentos mais ainda, como o do entretenimento. Embora seja possível oferecer algumas alternativas à distância, no ambiente online, são apenas paliativos”, conta Robson Gonçalves, professor de Economia. O especialista aponta também o segmento dos cuidados pessoais, como salões de beleza e barbearias, como um dos mais prejudicados. “Infelizmente os segmentos relacionados ao convívio e contato serão os últimos a sair da crise”, afirma.
Mesmo com os baixos índices, alguns setores foram capazes de se adaptar e fugir da crise, como o da educação. “O ensino online e à distância já existia em diversas instituições, mesmo que embrionariamente, o que facilitou a inovação do setor”, explica. Atividades como coleta de lixo, rede de esgoto e serviços financeiros auxiliares, por exemplo, já se firmaram e, hoje, encontram-se 1,6% acima do patamar de fevereiro. “As demais áreas de serviços precisam da superação definitiva da questão de saúde. Elas respiraram nos meses que houve afrouxamento do isolamento, mas voltaram a ter novas quedas com o fim e início de ano. O que nos resta é esperar o avanço mais rápido possível do ritmo de vacinação”, complementa Robson.