No próximo mês teríamos carnaval, não fosse a pandemia. Economizaremos alguns dias de ócio a favor de coisas mais úteis. Não se discutirá que a escola de samba X foi melhor ou pior que a escola de samba Y. Emissoras de TV precisarão encontrar alternativas para preencher suas programações, uma vez que horas e horas de intermináveis desfiles não irão existir.
Mas haverá lamentações, como sempre. Carnavalescos poderão afirmar que é culpa do governo – não importa qual – essa morte temporária da cultura popular. Alguns economistas – sempre há economistas dando palpites errados – dirão que a não realização do carnaval vai produzir resultados negativos na economia do país. Talvez não faltem também os chamados “especialistas” afirmando que a suspensão do carnaval é um crime contra o povo brasileiro.
Mas o âmago da questão é outro. Seja no carnaval seja no futebol, há um grupo enorme de pessoas ganhando dinheiro. Emissoras de TV não transmitem jogos por amor – ganham rios de dinheiro fazendo isso. Quem cuida de carnaval, como costureiras, figurinistas, carnavalescos, ganha muito dinheiro também. E emissoras de TV também não mostram o carnaval à toa. Recebem muito para fazê-lo.
Na realidade, tudo gira em torno do dinheiro. Em qualquer entrevista, atletas “amadores” se queixam da falta de apoio. Traduzindo: apoio = patrocínio = dinheiro. Clubes de futebol estavam acostumados a receber dinheiro de estatais para ostentarem seu nome em sua camisa. Como se estatal, normalmente dona do monopólio, precisasse de publicidade. Cartas são entregues somente pelos Correios, combustíveis, somente pela Petrobras. E a Caixa também, pois ficou com o osso, enquanto os bancos privados ganharam o filé mignon.
Desde o início da pandemia não há torcida nos jogos de futebol. No máximo transmissão pela TV, patrocinada. E todos nós sobrevivemos sem precisar ir ao estádio. Com o carnaval, será o mesmo. No que seria a quarta-feira de cinzas, talvez descubramos que podemos passar o ano sem carnaval. Sem perder sono. Sem ouvir batuque, e sem ficar ouvindo comentários idiotas na TV.
Como tudo na vida, a pandemia tem seu lado bom.