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sábado, 20 abril, 2024

Chifre trocado não dói

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Toninho e Escolástica estavam casados há quase dez anos quando tiveram a primeira briga pra valer. Escolástica detestava seu nome, e sempre se apresentava – e assim era chamada – como Lorena. Toninho não entendia porque era Toninho, apesar de seu metro e oitenta de altura. Para a vizinhança, um exemplo de casal feliz, e por isso foi um choque quando a gritaria começou na casa dos dois. Uma hora depois da troca de xingamentos, Lorena saiu com uma mala prometendo nunca mais voltar.

Uma semana depois, Toninho foi buscar Lorena na casa da mãe dela. Ficaram trancados o dia todo, e a vizinhança, curiosa, não ouvia discussão. O que aconteceu é que os dois se acertaram e resolveram tocar a vida debaixo do mesmo teto. Os dias foram passando, e o casal parecia viver de novo a antiga felicidade. E Lorena confidenciou a uma amiga o motivo da encrenca: chifre. E a amiga, que sempre tem também uma amiga de confiança, passou a história pra frente.

Aconselhada pela amiga, resolveu dar o troco e se abiscatar. Toninho, ficou-se sabendo, tinha passado o rodo na escola onde fazia supletivo. Faltava às aulas e comia suas colegas. Às vezes numa pensão barata perto da estação; noutras, no banco de trás de seu Fusca. A putaria ia bem – quem dava pra ele comentava com outras colegas. E o cara era bom, satisfazia. Não dava dinheiro nem presentes, mas como essas coleguinhas eram mal amadas, um PA (pau amigo) era suficiente. E assim, sua fama de bom comedor se espalhou.

Até que chegou aos ouvidos de Lorena, que resolveu passar a história a limpo. No começo Toninho negou, mas era batom na cueca. Lorena, naquela manhã, resolveu limpar o Fusca de Toninho e encontrou brinco desemparceirado, pulseira, calcinha e até embalagem vazia de camisinha. Toninho admitiu, pediu perdão, mas não adiantou. Naquele dia ela estava puta da vida e por isso foi embora. Só voltou porque Toninho garantiu que ela teria os mesmos direitos – principalmente o de cornear.

E com o conselho da amiga, entrou de cabeça nesse negócio de chifre. O primeiro foi o dono de uma escolinha infantil. Foi na casa dele, na ausência da mulher. O segundo foi um mecânico, amigo de Toninho, que teve o capricho de se perfumar com Alfazema antes do encontro. Passaram a tarde juntos e ao se despedir o mecânico lhe deu dinheiro suficiente para uma ida ao salão de beleza, onde a fofoca corria solta.

Depois Lorena perdeu a conta, e Toninho ficou sabendo das aventuras de sua mulher. Como trato é trato, não falava nada. Abusada, Lorena passou a sair à noite também. Duas ou três vezes dormiu fora de casa. E Toninho quieto. A vizinhança estranou o comportamento dos dois. Os vizinhos perguntavam a ele se não desconfiava de nada. Ele respondia que não, que tinha certeza. As vizinhas se reuniam às vezes com Lorena para ouvir suas histórias de cama. E Lorena nomeava seus amantes, elogiando uns e criticando outros.

Soube-se também, que tempos depois, o casal conversava abertamente sobre suas traições. Curioso, Toninho perguntava se fulano deu conta ou se brochava. E ela não escondia, e também perguntava a ele sobre as mulheres que ele havia traçado. Vez ou outra os dois davam uma trepada, como que lembrando dos velhos tempos. Lorena só ficou preocupada quando Toninho lhe contou que havia comido a Júlia, da casa da frente – Lorena sabia que Júlia sofria com corrimento na vagina.

Quando Toninho se aposentou e recebeu indenização da empresa, o casal resolveu se mudar de cidade. Foram para um lugar próximo, junto com o caminhão de mudança. Venderam a casa e compraram outra, mobiliada ao gosto de Lorena. A nova casa tinha três quartos, e combinaram que num dormiriam juntos, no outro, uma espécie de depósito, e no terceiro, colocaram outra cama de casal, caso não tivessem onde levar seus parceiros. Toninho chegou a servir café para um dos amantes de Lorena, e ela ficou amiga de várias amantes de Toninho.

Não se tem mais notícias do casal. Hoje devem estar em torno dos 70, 75 anos. E há vizinhos ainda imaginando como devem ser as recordações de Toninho e Lorena. Ela contando pra quem deu, ele contando quem comeu. Valeu a máxima, que chifre trocado não dói.

CHICO MALVADEZA

Urbem
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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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