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quinta-feira, 25 abril, 2024

Um dia de reflexão sobre raça. E os outros dias?

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O 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. Apesar do combate, o racismo ainda resiste em muitos lugares, mostrando toda a estupidez humana

Em 2003 foi criado o Dia da Consciência Negra no Brasil, a ser lembrado todo 20 de novmebro. A ocasião é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares em 1695, um dos maiores líderes negros do Brasil que lutou pela libertação do povo contra o sistema escravista. O Dia da Consciência Negra é considerado importante no reconhecimento dos descendentes africanos e da construção da sociedade brasileira. A data, dentre outras coisas, suscita questões sobre racismo, discriminação, igualdade social, inclusão de negros na sociedade e a cultura afro-brasileira,assim como a promoção de fóruns, debates e outras atividades que valorizam a cultura africana.

No contexto histórico, as celebrações do 20 de novembro surgiram na segunda metade dos anos 1970, no âmbito das lutas dos movimentos sociais contra o racismo. Em um sábado de 1970, um grupo de negros no Rio Grande do Sul escolheu o dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. O idealizador foi o poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira. Silveira foi um dos fundadores do Grupo Palmares, associação que reunia militantes e pesquisadores da cultura negra brasileira, em Porto Alegre. Em 1971, ano da fundação do grupo, ele propôs uma data que comemorasse o valor da comunidade negra e sua fundamental contribuição ao país.

A época era de regime militar. O AI-5 havia endurecido ainda mais o regime, três anos antes. Quando uma nota foi publicada no jornal, com o título Zumbi – A homenagem dos negros do teatro, para anunciar o ato evocativo programado para o dia 20, o nome do grupo (Grupo Palmares), talvez confundido com a organização armada VAR-Palmares, chamou a atenção. O grupo foi intimado pela Polícia Federal. Para serem liberados pela censura, tiveram de descrever todo o roteiro do encontro e convencer os agentes de que não eram subversivos.

Em 2003, o Dia da Consciência Negra entrou no calendário escolar com a lei que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Oito anos depois, o governo oficializou a data como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

Números expõem desigualdade racial no Brasil

Negros ainda são minoria em posições de liderança do mercado de trabalho. São também a maior parte entre as vítimas de homicídio e formam 60% da população carcerária do Brasil

O p0rcentual de pessoas que se declaram negras no Brasil é de 56,1%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. Dos 209,2 milhões de habitantes, 19,2 milhões se assumem como pretos, enquanto 89,7 milhões se declaram pardos. Os negros – que o IBGE conceitua como a soma de pretos e pardos – são portanto a maioria da população. A superioridade nos números não se reflete na sociedade brasileira.

Embora os negros sejam maioria no ensino superior público brasileiro, eles ainda são minoria nas posições de liderança no mercado de trabalho e entre os representantes políticos no Legislativo. Também são uma parte ínfima da magistratura brasileira. Entre aqueles que não têm emprego ou estão subocupados, negros são a maior parte. Também são a maior parte entre as vítimas de homicídio e compõem mais de 60% da população carcerária do país. Negros também são sub-representados no cinema, sendo minoria entre os vencedores e os integrantes de júris de premiações.

Em 2018, os negros eram a maior parte da força de trabalho no Brasil – 54,9%. A proporção de pretos e pardos entre as pessoas desocupadas e subocupadas, porém, é muito maior. No ano passado, eles correspondiam a dois terços das pessoas que não tinham emprego – 64,2% – e das que trabalhavam menos horas do que gostariam ou poderiam – 66,1%. Os dados são do estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE.

Os negros também são os que mais sofrem com a informalidade, que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Em 2018, 47,3% das pessoas ocupadas pretas ou pardas estavam em trabalhos informais, segundo o estudo do IBGE. Entre os brancos, o percentual de pessoas em ocupações informais era menor: 34,6%.

Uma pesquisa do Instituto Ethos mostrou que os negros ocupam apenas 4,9% das cadeiras nos Conselhos de Administração das 500 empresas de maior faturamento do Brasil. Entre os quadros executivos, eles são 4,7%. Na gerência, apenas 6,3% dos trabalhadores são negros.

Os negros ganham menos no Brasil do que os brancos. Segundo o IBGE, o rendimento médio domiciliar per capita de pretos e pardos era de R$ 934 em 2018. No mesmo ano, os brancos ganhavam, em média, R$ 1.846 – quase o dobro. Entre os 10% da população brasileira que têm os maiores rendimentos do país, só 27,7% são negros.

As taxas de pobreza e de pobreza extrema são maiores entre a população negra. Em 2018, 15,4% dos brancos viviam com menos de US$ 5,50 por dia no Brasil – valor adotado pelo Banco Mundial para indicar a linha de pobreza em economias médias, como a brasileira. Entre pretos e pardos, o percentual era maior: chegava a 32,9% da população. A pobreza extrema – quando a pessoa vive com menos de US$ 1,90 por dia – atinge 8,8% da população negra no Brasil e 3,6% da população branca, segundo dados do IBGE.

Pardos e pretos são minoria no Poder Legislativo, apesar de esta representação ser vital para a construção de debates e projetos que diminuam a desigualdade no Brasil. Negros são apenas 24,4% dos deputados federais e 28,9% dos deputados estaduais eleitos em 2018.

Nas eleições municipais de 2016, eles eram 42,1% dos vereadores eleitos. A diferença também aparece no Judiciário. Dados do Conselho Nacional de Justiça, mostram que havia 14,2% magistrados pardos e 1,4% magistrados pretos em 2013 – último ano com informações disponíveis. A imensa maioria dos magistrados é branca (83,8%).

Negros são as maiores vítimas de homicídios no Brasil. Segundo o Atlas da Violência, em 2017, 75,5% das pessoas assassinadas no país eram pretas ou pardas – o equivalente a 49.524 vítimas. A chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco. Em 10 anos – de 2007 a 2017 – o Brasil se tornou um país com mais potencial de morte para negros do que para não-negros. A taxa de homicídios de negros cresceu 33,1% no período, enquanto a de brancos aumentou 3,3%.

Ou seja, os negros são os que mais morrem e também são a população em que a taxa de mortes violentas mais cresce.

As mulheres negras são vítimas mais recorrentes de homicídios. Segundo o Atlas da Violência, a taxa de assassinatos dessas mulheres cresceu 29,9% de 2007 a 2017. No mesmo período, o índice de homicídio de mulheres não-negras cresceu 4,5%. As mulheres negras são o principal grupo de risco nos casos de feminicídio. Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 mostram que 61% das mulheres que sofreram feminicídio no Brasil eram negras.

A taxa de analfabetismo entre negros de 15 anos ou mais diminuiu nos últimos anos – de 9,8% em 2016 para 9,1% em 2018. Ainda assim, é maior do que o dobro da taxa de analfabetismo entre brancos da mesma idade, que ficou em 3,9% no ano passado, segundo o IBGE. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, organizado pela ONG Todos Pela Educação, a taxa de alfabetização que mais cresceu no período de 2012 a 2018 foi a de pretos. Em 2012, 87,7% deles estavam alfabetizados. Em 2018, a taxa subiu para 91%. Entre os pardos, o índice era de 88,1% em 2012 e passou a 90,9% em 2018. A erradicação do analfabetismo é uma das metas estabelecidas pelo Brasil no Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece 2024 como limite para a conclusão do objetivo.

Pela primeira vez, os negros são maioria no ensino superior público. Segundo o estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE, em 2018, 50,3% dos estudantes das instituições públicas eram pretos ou pardos. O número de pretos e pardos de 18 a 24 que estavam estudando também aumentou no ano passado, passando de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018. No entanto, ainda é menor do que o de estudantes brancos da mesma idade, que chegou a 78,8% em 2018.

De acordo com a Sinopse Estatística da Educação Superior de 2018, do Inep, a maioria dos negros que estão no ensino superior no Brasil estudam em universidades particulares. Naquele ano, dos 591 mil pretos que cursavam o ensino superior, 66,86% frequentavam instituições privadas. Entre os 2,4 milhões de pardos em instituições de ensino superior, 73,54% estavam em rede privada.

O movimento negro no Brasil

Em 2003 foi instituída a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, que tem como missão promover mecanismos de inclusão social para a população negra

O movimento negro é fenômeno utilizado em forma de diferentes organizações para reivindicar direitos para a população negra que sofre com o racismo. Na maioria dos países onde os negros foram escravizados houve sempre tentativa de mudar a situação aos quais estavam submetidos. Atualmente, o movimento negro é plural e reúne além das pautas como o combate ao racismo, diferentes vertentes como o feminismo, a luta pelos direitos LGBT e tolerância religiosa. O movimento negro no Brasil tem suas raízes na própria resistência à escravidão que se manifestava através de fugas, greves de fome e rebeliões.

Período colonial – Para escapar do trabalho forçado, os negros escravizados fugiam e se organizavam em quilombos. Ali viviam livres em comunidades que podiam abrigar desde poucas famílias a centenas de pessoas. O quilombo mais emblemático durante o período colonial foi o Quilombo dos Palmares. Ali se concentrava grande número de escravos fugidos que resistiram durante muito tempo às investidas militares portuguesas. Foi liderado durante alguns anos por Zumbi dos Palmares que se tornaria um símbolo para o movimento negro. Da mesma forma, os cativos se reuniam nas irmandades como as de Nossa Senhora do Rosário ou de São Benedito, para se ajudarem em caso de doença e garantir um enterro digno.

Além da religião católica é preciso ter em conta que o candomblé nunca deixou de ser praticado pelos negros. Assim, participar das cerimônias, muitas vezes de forma clandestina, era um modo de resistir às mudanças culturais trazidas com a escravidão.

Durante o século XIX, com o crescimento do movimento abolicionista, intelectuais negros passam a editar jornais e fundar associações culturais com o objetivo de reivindicar o fim da escravidão. Escritores como José do Patrocínio, Luís da Gama e as sociedades abolicionistas se organizam para exigir o fim do trabalho escravo no país.

Além disso, continuavam as fugas, as rebeliões e as associações de alforriados que juntavam dinheiro para comprar a liberdade daqueles que continuavam escravizados. Um dos quilombos que se destaca nesta época será o do Seixas que passará a história como Quilombo do Leblon. Este reunia uma quantidade expressiva de escravos que cultivavam e faziam comércio com os habitantes locais. Uma de suas senhas de identidade eram as camélias, as quais rapidamente se tornaram um símbolo do abolicionismo.

Também havia escravizados que obtinham na justiça a sua liberdade provando que haviam chegado ao Brasil após a lei ou que haviam nascido após a lei do Ventre Livre. Em suma, o segundo reinado foi rico em movimentos de resistência negra frente à escravidão. A abolição da escravatura no Brasil veio de forma gradual e sem indenização para os proprietários de escravos. Tampouco houve qualquer compensação financeira para os libertos ou a inclusão social.

Primeira República – Durante a Primeira República, com o crescimento das cidades, os negros, se reuniram em associações de caráter cultural com o fim de manter suas tradições.

Elas sempre estiveram regulamentadas e eram vigiadas de perto pela polícia. Afinal, era preciso manter a ordem que a República apregoava e os negros eram o elemento que mais apresentava perigo para provocar a desordem. Um exemplo disso é o registro obrigatório para os terreiros e casas de candomblé. Ainda assim, as cerimônias podiam ser interrompidas e dispersas pela polícia com violência.

Era Vargas – A primeira organização de caráter exclusivamente político surgiu com a Frente Negra Brasileira. Fundada em 16 de setembro de 1931, em São Paulo, tinha como objetivo denunciar o racismo da sociedade. Editou o jornal A Voz da Raça e se transformou em partido político em 1936. Com o golpe de 1937, feito por Getúlio Vargas, foi extinto como todos os partidos políticos do período.

Década de 1950 – A história do negro passou a ser objeto de estudo acadêmico através das obras de Florestan Fernandes, que realizou contribuições para o entendimento do racismo no Brasil. A Lei Afonso Arinos foi promulgada em 1951. Pela primeira vez, a discriminação de raça ou de cor se tornava uma contravenção. Apesar da lei incluir somente os delitos cometidos em espaços públicos, a Lei Afonso Arinos mostrou o racismo escondido da sociedade brasileira. Nessa época, o movimento negro brasileiro foi influenciado pela luta dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Há figuras emblemáticas como Martin Luther King, que defendeu a inclusão do negro através da resistência pacífica.

O lema Black is Beautiful valorizava a estética negra em detrimento do modelo branco. Dessa forma, os negros e as negras pararam de alisar os cabelos, vestiram-se com motivos africanos e passaram a realçar seu fenótipo ao invés de escondê-los. Tudo isso influencia a moda e a percepção que os negros brasileiros tinham de si mesmos também. Por outro lado, líderes como Malcon X e o movimento dos Panteras Negras propunham o uso da violência como meio para alcançar mais participação na sociedade americana.

Década de 1970 – A década de 70 foi marcada pelo aumento da repressão aos grupos políticos de esquerda e a intensa propaganda política em torno do Milagre Econômico. No Rio de Janeiro, começam as discussões sobre questões raciais no Centro de Estudos Afro-Asiáticos, ligado à Universidade Cândido Mendes. Dali saem importantes grupos como a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África, o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras e o Movimento Negro Unificado. As discussões eram marcadas pela polaridade ideológica da época. Assim, os debates eram divididos entre as referências americanas do movimento negro e àqueles que defendiam uma aproximação com a África e sua luta de libertação colonial.

Em 1978, essas organizações deixam as discussões restritas aos seus membros para ganhar as ruas. Assim, em 7 de julho, surgiu o Movimento Negro Contra a Discriminação Racial, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. Esse movimento foi um marco para as organizações negras no Brasil, pois as aglutinou em torno de uma pauta única.

Desafiando o regime, os negros expuseram nas ruas o preconceito racial e social, a diferença salarial, e também demandas específicas das mulheres como o sexismo. Ainda que muitas rupturas tenham sido registradas entre seus membros, o Movimento Negro Unificado realizaria importantes manifestações a favor da igualdade racial. Através de sua mobilização conseguiria transformar várias reivindicações em leis como as da obrigatoriedade do ensino de História da África e a criminalização da discriminação racial.

Década de 1980 – Com o fim de promover a história e a memória dos negros foi criado o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros em 1981, por Abdias Nascimento. A missão do Instituto é valorizar e divulgar a história africana e dos negros nas escolas brasileiras produzindo material e suportes para professores e alunos.

Com a volta da democracia e a discussão de uma nova Constituição para o país, o movimento negro ganhou força. O governo também tinha interesse em promover estudos, institutos e leis que fomentem a igualdade racial ou ao menos diminuam a desigualdade entre brancos e negros. Em São Paulo, o governo do estado criou em 1984o primeiro Conselho de Participação da Comunidade Negra, pelo governador Franco Montoro. O governo federal instituiu a Fundação Cultural Palmares em 1988, ano significativo, pois foi comemorado o primeiro centenário da Lei Áurea.

Por iniciativa do Movimento Negro Unificado, em 1986, durante a Conferência Nacional do Negro em Brasília, foi concretizada a proposta de tornar crime o preconceito racial e étnico.

Em 1989 foi promulgada a lei que torna discriminação racial e étnica crime. Em 1997 e 2012, essa lei foi revista incorporando também a intolerância religiosa ou de procedência nacional como crime.

Século 21 – Além da consagração, em nível federal, da Leis de Cotas, o movimento negro nunca foi tão plural. Baseando-se na questão do combate ao racismo, outras discussões foram abertas como a do preconceito à mulher negra, ao homossexual negro, ao/a trans negro, etc.

Igualmente, surgem novas discussões como a apropriação cultural, o embranquecimento e a cristianização de tradições afro-brasileiras como a capoeira, que fazem os movimentos negros continuarem alertas para suas demandas. Outra discussão é o genocídio da população negra, especialmente os jovens, que são o alvo constante das batidas policiais.

Formação do povo brasileiro é marcado pela miscigenação

Indígenas, portugueses e africados são os principais grupos, e foram os primeiros a promover casamentos e uniões entre raças diferentes

O povo brasileiro é resultado da miscigenação de vários povos. Os indígenas, os portugueses e os africanos são os principais grupos. No entanto, há imigrantes europeus e asiáticos que vieram para o Brasil, especialmente a partir do século 19, que também contribuiram para a formação do povo brasileiro.

O território que se tornaria o Brasil registra a presença de humanos há 12 mil anos. Os indígenas ocupavam toda superfície, especialmente o litoral. Não se tratava de único povo, mas de várias tribos indígenas, cada uma com sua língua e costumes. A etnia mais numerosa era a dos tupis-guaranis, e foram com eles que os portugueses travaram contato.

Os tupis conheciam a natureza, tinham nomeado os montes, praias e rios, sabiam quais as ervas eram nocivas ou não. Tudo isso foi ensinado aos portugueses. Um dos exemplos mais claros da permanência da cultura indígena no Brasil pode-se comprovar através dos nomes próprios, como Itapoã, Piratininga, Pará, etc. Na culinária, destaca-se o uso intensivo da mandioca, planta que havia sido domesticada pelos indígenas e que é item obrigatório em vários pratos brasileiros.

O primeiro grupo europeu a aportar no Brasil foram os portugueses. Esses fizeram as viagens marítimas com vários objetivos: queriam metais preciosos, terras, expandir o cristianismo e glória nas batalhas. Motivos não faltaram para cruzar o Mar Oceano. Os portugueses introduziram novos conceitos de sociedade, economia e religião, diferentes aos costumes indígenas. Um dos exemplos é a economia: ao invés de plantar para subsistência, agora era preciso cultivar produtos em grande escala que pudessem ser vendidos no mercado europeu.

Também trouxeram sua religião e a impuseram aos indígenas. Através da crença, vieram as festas, o idioma (latim e o português) e nova filosofia de vida. Ao invés de vários deuses, agora, adorava-se somente uma divindade, havia um livro para seguir e uma hierarquia de sacerdotes. Além da religião, o português passou a ser o idioma do novo território, assim como a organização política e a economia capitalista.

Igualmente, durante o período colonial, há a influência dos holandeses, especialmente em Pernambuco. A chegada dos holandeses significou a vinda de nova religião, o calvinismo. No princípio, gerou vários conflitos de ordem religiosa com episódios de destruição de templos católicos. Os holandeses, também chamados de batavos, permaneceram vinte e quatro anos até serem expulsos por uma armada luso-espanhola.

Os africanos foram trazidos para serem escravos nas Américas. No entanto, cada indivíduo trouxe seu idioma, sua fé e suas habilidades. Dessa maneira, este saber foi se disseminando tanto nas fazendas onde trabalhavam como nos quilombos, que eram espaços de liberdade. Apesar de toda brutalidade da escravidão no Brasil, os africanos introduziram alimentos, como o feijão e o quiabo. Na música, sua influência daria a cadência e o ritmo sincopado próprio da música popular brasileira. Igualmente, na dança, verifica-se que o jeito de mover a cintura foi herdada dos africanos, o que originou uma infinidade de ritmos como o maxixe e o samba.

Os africanos, como os povos iorubás e jejes, trouxeram a religião e seus orixás, que foram misturados com a crença cristã. Isto deu origem aos terreiros de candomblé e posteriormente, à Umbanda no Brasil. Além disso, várias palavras africanas foram incorporadas ao português brasileiro, como quilombo, marimbondo, moleque, farofa, cochichar, quitute, etc.

Durante o século 19, após a vinda da corte portuguesa, os portos brasileiros foram abertos para o comércio com outras nações. Igualmente, pessoas de qualquer nacionalidade que desejavam fazer uma vida melhor, puderam se estabelecer no Brasil. Levas de italianos, alemães, suíços, poloneses, espanhóis e árabes de diversas procedências vieram ao Brasil.

Cada uma dessas ondas de imigrantes acrescentou sua cultura e seus costumes ao Brasil. Assim, há uma série de pratos, como o quibe e a esfilha, de origem árabe, bem como a introdução das massas e almôndegas pelos italianos, por exemplo.

No começo do século 20 a imigração japonesa foi estimulada pelos governos de ambos os países. Como consequência, o Brasil tem a maior população de descendentes de japoneses no mundo. A união entre os diferentes biotipos humanos acabou gerando indivíduos que não eram completamente indígenas, brancos ou negros, no que se refere ao aspecto genético. Este fenômeno é chamado de miscigenação ou mestiçagem e está muito presente na sociedade brasileira. Como essa era uma sociedade que se pautava sobretudo pela cor da pele, os novos tons ganharam nomes específicos.

O Brasil dos escravos negros e indígenas

A escravidão no Brasil foi uma instituição violenta e desumana que existiu durante mais de 300 anos e foi responsável pela escravização de milhões de indígenas e africanos

A escravidão foi uma instituição que se estabeleceu no Brasil por volta da década de 1530, quando as primeiras medidas efetivas de colonização foram implantadas pelos portugueses. Essa escravização ocorreu, a princípio, com os nativos, e, entre os séculos 16 e 17 foi sendo gradativamente substituída pela escravização dos africanos que chegavam no Brasil pelo tráfico negreiro.

A escravidão no Brasil atendia à demanda dos portugueses por trabalhadores braçais (tipo de trabalho que os portugueses desprezavam) e nos séculos 16 e 17 isso está relacionado principalmente, com o trabalho nas lavoluras. A princípio, a relação de trabalho utilizada pelos portugueses foi a do escambo com os indígenas, mas logo optaram por implantar a escravidão.

A escravidão no Brasil foi tão cruel e a quantidade de africanos que foram trazidos durante três séculos foi tão grande que a imagem do trabalhador escravo em nosso país associou-se com a cor de pele do africano. Um sintoma evidente do racismo que estava por trás da instituição da escravidão em nosso país.

A escravidão no Brasil foi cruel e desumana, e suas consequências, mesmo passados mais de 132 anos da abolição, ainda são perceptíveis. A pobreza, violência e a discriminação que afetam os negros no Brasil são um reflexo direto de um país que normalizou o preconceito contra esse grupo e o deixou à margem da sociedade.

Importante atentar que a escravidão também afetou milhões de indígenas e disseminou preconceitos contra esse grupo também. O reflexo direto disso, além do próprio preconceito contra os indígenas, foi a redução populacional desses povos que de milhões de habitantes, no século 16, passaram para 800 mil atualmente, segundo o IBGE.

A origem – A escravidão no Brasil foi implantada nas primeiras décadas da colonização e aconteceu na década de 1530, quando os portugueses implantaram o sistema das capitanias hereditárias e deram início ao processo de colonização da América Portuguesa. Até então, a relação de trabalho utilizada pelos portugueses baseavam-se no escambo com os indígenas na exploração do pau-brasil.

A partir de 1534, os portugueses implantaram as capitanias hereditárias, com isso, passaram a incentivar o cultivo de cana-de-açúcar e o desenvolvimento de engenhos para produzir açúcar. Como essa era uma atividade complexa e que necessitava de mão de obra, os portugueses encontraram na escravidão a saída para a falta de trabalhadores – já que eles próprios não queriam fazer o trabalho pesado. Assim, o primeiro grupo a sofrer com a escravização foram os indígenas.

Os indígenas foram a principal mão de obra escrava dos portugueses até meados do século 17, quando começaram a ser superados em números pelos escravos africanos. Escravizar um indígena, em comparação com um africano, era muito mais acessível para os colonos portugueses, mas uma série de questões tornavam essa prática mais problemática.
Primeiro, havia a questão cultural, uma vez que os índios não estavam familiarizados com a ideia de trabalho contínuo para produção de excedente, o que fazia parte da cultura europeia. Além disso, os indígenas eram vistos pelos padres jesuítas como rebanho em potencial para ser convertido ao catolicismo. Isso criava um impasse muito grande, porque os colonos queriam escravizar os indígenas irrestritamente, enquanto que os jesuítas criavam barreiras para isso.

Os conflitos entre colonos e jesuítas foram frequentes, e foi muito comum que bandeirantes atacassem missões jesuíticas para sequestrar os índios instalados lá e revendê-los como escravos. A pressão dos jesuítas contra a escravização dos indígenas poderia gerar inúmeros problemas jurídicos para os colonos que não os escravizavam em caso de “guerra justa”.

A pressão dos jesuítas sobre a Coroa para proibir a escravização dos indígenas resultou em uma lei proibindo a prática em 1570. Apesar da lei, os índios continuaram sendo escravizados, sobretudo em locais que não tinham economia tão próspera, e que a quantidade de africanos enviados era pequena. Outro obstáculo para a escravização dos indígenas era a suscetividade deles para doenças, como varíola, gripe, sarampo etc. A falta de defesa biológica foi algo marcante na história da colonização da América. Ao longo desse período, aconteceram inúmeras epidemias que mataram indígenas aos milhares. A mortalidade dos indígenas também ocorria por meio da guerra e da própria escravização.

Chamados de negros da terra, os indígenas eram até três vezes mais baratos que um escravo africano. O historiador Stuart Schwartz afirmou que na década de 1570, um escravo indígena custava 7 mil-réis, enquanto que um escravo africano custava 20 mil réis. E, nessa época, era necessário que um escravo africano trabalhasse de 13 a 16 meses para que o seu senhor recuperasse o valor gasto.

O tráfico negreiro foi responsável pelo desembarque de quase cinco milhões de africanos no Brasil durante três séculos de existência. Os primeiros africanos começaram a chegar no Brasil na década de 1550 e foram trazidos por meio do tráfico negreiro, negócio que fez fortunas ao longo de três séculos. Os portugueses tinham feitorias instaladas na costa africana, desde o século 15, e desde então, mantinham relações comerciais com reinos africanos, dos quais incluía a compra de escravos.

A medida que a colonização do Brasil se desenvolveu, a necessidade por trabalhadores era tão grande que fez que esse comércio prosperasse em larga escala. O sucesso do tráfico negreiro está relacionado com a necessidade da colônia por trabalhadores e esse negócio foi altamente lucrativo para os traficantes, assim como para a Coroa. Ao longo dos 300 anos de existência do tráfico negreiro, 4,8 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, o que significa que nosso país foi o que mais recebeu africanos para serem escravizados ao longo de três séculos em todo o continente americano.

O trabalho dos escravos africanos, a princípio, foi usado para atender as demandas da produção de açúcar nos engenhos. A vida de um escravo era dura e marcada pela violência dos senhores e das autoridades coloniais. A jornada diária de trabalho poderia se estender por até 20 horas e o trabalho no engenho era mais pesado e perigoso que trabalhar nas plantações. Nas moendas – local onde a cana era moída para extrair o seu caldo – eram comuns acidentes que faziam com que escravos perdessem mãos ou braços. Nas fornalhas e caldeiras – local de cozimento do caldo da cana – as queimaduras eram o acidente mais comum que atingia os escravos. Essa etapa do trabalho era tão dura que era reservada para os escravos mais rebeldes e fujões.

Engenhos grandes chegavam a possuir 100 escravos ou mais e, por isso, o senhor de escravos nem sempre tinha contato direto com todos eles. Os escravos dormiam no chão duro na senzala e lá eram monitorados para evitar que fugissem. A alimentação era pobre e insuficiente, e os escravos precisavam complementá-la com os alimentos obtidos de pequena lavoura que cultivavam aos domingos. Os escravos que trabalhavam na casa-grande, residência do senhor de escravos, eram mais bem tratados, mais bem alimentados e mais bem vestidos em relação aos escravos que trabalhavam na lavoura ou no engenho.

Existiam também escravos que trabalhavam nas cidades em ofícios dos mais variados.
Muitos dos escravos eram acorrentados para evitar que fugissem e outros utilizavam máscaras de ferros, como a máscara de flandres, utilizada para impedir os escravos de engolir diamantes (nas regiões mineradoras), ou para impedir que se embriagassem ou mesmo para impedir que cometessem suicídio por meio da ingestão de terra.

A violência praticada sistematicamente contra os escravos tinha o objetivo de incutir-lhes o temor de seus senhores e impedir que fugas e revoltas acontecessem. No caso das escravas, a violência ganhava outra dimensão, pois além de tudo que sofriam em relação ao trabalho, ainda eram vítimas de estupros frequentes praticados por seus senhores e feitores.

Os escravos rebeldes ou os que cometessem algum delito (por menor que fosse) poderiam receber punições pesadas. Entre as punições contra os escravos, pode ser destacado o açoitamento. Muitos dos escravos punidos com o açoite eram castigados com 300 ou mais chibatadas – o suficiente para levar um ser humano à morte. O historiador Thomas Skidmore resgatou um relato que afirma que “por ofensas insignificantes jogavam seus escravos vivos na fornalha, ou os matavam de várias maneiras bárbaras e desumanas”. A forca e o envenenamento também eram formas utilizadas para executar os escravos.

Os escravos africanos, porém, não aceitavam a escravização e a violência direcionadas a eles de maneira passiva. A história da escravização africana no Brasil é marcada pela resistência e luta dos africanos que fugiam, formavam quilombos, revoltavam-se, matavam seus feitores e senhores etc. Dois grandes episódios de resistência escrava foram a formação do Quilombo dos Palmares e a Revolta dos Malês.

O Brasil foi o último país do continente americano a abolir o trabalho escravo e isso ocorreu por meio da Lei Áurea, aprovada pelo Senado e assinada pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888. O fim da escravidão no Brasil não foi por um ato de bondade da monarquia brasileira, mas foi uma conquista por meio do engajamento popular e da resistência dos escravos.

O abolicionismo ganhou força em nosso país a partir da década de 1870, mas um ponto de partida importante a ser considerado foi a proibição do tráfico negreiro, que aconteceu por meio da Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Com essa lei, cortava-se a fonte que renovava os números de escravos no território brasileiro.

A força do abolicionismo em nosso país apresentou-se de diversas maneiras. Associações abolicionistas surgiram aos montes no país, conferências abolicionistas foram organizadas, eventos públicos realizados, levantaram-se fundos para pagar a alforria de escravos, advogados passaram a atuar efetivamente contra senhores de escravos, jornalistas publicavam textos defendendo a abolição e populares abrigavam escravos fugidos em suas casas.

Os escravos também atuaram na desestabilização da escravidão e realizavam fugas em massa ou fugas individuais, formavam quilombos que se tornavam centros de resistência, organizavam revoltas que resultavam na morte de seus senhores etc. A década de 1880 registrou inúmeros casos de revoltas e fugas de escravos.

A pressão feita pela população livre e pelos escravos era tamanha que o clima de desordem no final da década de 1880 era evidente: o Império não tinha mais o controle sobre a situação. Pressionado, o Império teve de agir, e dessa forma aprovou-se a Lei Áurea. A reação da população mediante a lei foi de festa, e as celebrações estenderam-se por dias. A abolição porém, não foi acompanhada por medidas de suporte aos negros libertos, e eles continuaram sendo vítimas do preconceito, violência e sofreram com a falta de acesso ao estudo e às boas oportunidades.

O legado dos negros na cultura brasileira

Uma das principais características da cultura afro-brasileira é que não há homogeneidade cultural em todo território nacional

A cultura afro-brasileira remonta ao período colonial, quando o tráfico de escravos forçou milhões africanos a virem para o Brasil. Assim, foi formada a maior população de origem africana fora da África. Essa cultura está marcada por sua relação com outras referências, sobretudo indígena e europeia que está em constante desenvolvimento no Brasil.

A origem distinta dos africanos trazidos ao Brasil forçou-os a apropriações e adaptações para que suas práticas e representações culturais sobrevivessem. Assim, é comum se encontrar a herança cultural africana representada em novas práticas culturais. As manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos. Só deixaram de ser perseguidos pela lei na década de 1930, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas.

Assim, elas passaram a ser celebradas e valorizadas, até que, em 2003, é promulgada a lei nº 10.639 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Essa lei exigiu que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio tenham em seus currículos o ensino da história e cultura afro-brasileira.

Os dois grupos de maior destaque e influência no Brasil são os Bantos, trazidos de Angola, Congo e Moçambique, e os Sudaneses, oriundos da África ocidental, Sudão e da Costa da Guiné. Ressalte-se que as regiões mais povoadas com a mão de obra africana foram Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul, devido à grande quantidade de escravos recebidos (região Nordeste) ou pela migração dos escravos após o término do ciclo da cana-de-açúcar (A cultura afro-brasileira é parte constituinte da memória e da história brasileira.

Ela compõe os costumes e as tradições, como a mitologia, o folclore, a língua (falada e escrita), a culinária, a música, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural brasileiro. O Carnaval, a maior festa popular brasileira, celebrada no início do ano; a Festa de São Benedito, principal festa do Congado (expressão da cultura afro-brasileira), comemorada no final de semana após a Páscoa, e a Festa de Yemanjá, no dia 2 de fevereiro.

A influência afro-brasileira está patente em expressões como Samba, Jongo, Carimbó, Maxixe, Maculelê, Maracatu. Eles utilizam instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Atabaque, Berimbau e Tambor. Essas expressões musicais são também corporais. Elas refletem nas formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação musical do samba. Há outras expressões de música e dança como as danças rituais, o tambor de crioula, e os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé baiano. Merece destaque especial a Capoeira. Ela é uma mistura de dança, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.

A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira. Ela introduziu as panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da culinária baiana, preparados com azeite de dendê e pimentas. Destacam-se Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque, além dos doces de pamonha e cocada.

O Candomblé é religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com o catolicismo, donde uniu aspectos do cristianismo às suas tradições religiosas. Isso ocorreu para que eles pudessem realizar as práticas religiosas africanas secretamente (associação de santos com orixás), uma vez que a conversão era apenas aparente. Assim, nasceram do sincretismo Batuque, Xambá, Macumba e Umbanda, enquanto se preservaram algumas variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé.

Brasil tem muitas personalidades negras de destaque

Muitos se destacaram em suas áreas e em seu tempo. Alguns, como Pelé, são acusados de se omitir na defesa da causa

Ao longo da história, o Brasil teve muitos negros que se destacaram e marcaram sua época. Não faltam exemplos, bons e maus. Pelé, considerado o maior jogador de todos os tempos e eleito o Atleta do Século (20), ainda hoje é visto como alguém alheio, se omitindo nos momentos em que a luta pela igualdade racial ganhava proporções maiores. Mas há muitas personalidades que se destacaram.

Zumbi do Palmares

Foi o símbolo da resistência dos escravos que conseguiam fugir das fazendas de Alagoas e arredores. Zumbi nasceu no Quilombo e portanto, livre. No entanto, numa das incursões contra o quilombo foi vendido para um padre e assim, estudou latim e português. Dessa forma, sabia das péssimas condições de vida que estavam submetidos os africanos que eram trazidos à força para trabalhar nos engenhos nordestinos.

Zumbi voltou ao Quilombo e quem o liderava era Ganga Zumba. Nessa época, o lugar já tinha população de 30 mil pessoas e representava ameaça ao governo português. Por isso, decidiram fazer uma oferta para que se entregassem sem violência. A proposta foi rejeitada por Zumbi que teria armado uma emboscada para Ganga Zumba ou o envenenado. Começou assim uma guerra entre os quilombolas, colonos e a Coroa portuguesa.

Liderando o Quilombo dos Palmares, seu exército foi derrotado, e Zumbi foi capturado e morto. Sua cabeça foi exposta em praça pública, mas seu exemplo de luta foi passado de geração em geração. A vida de Zumbi se tornou exemplo para o movimento negro atual.

Dandara

Os dados sobre a vida de Dandara são escassos e não há certeza se ela nasceu no Brasil ou na África. Sabe-se que ela foi a mulher de Zumbi e com ele teve três filhos. Além disso, participou da resistência contra o governo português lutando ao lado das tropas que defendiam o Quilombo dos Palmares. Igualmente, se opôs ao líder Ganga Zumba quando este quis realizar um pacto com o governo português. Derrotado o exército do Quilombo dos Palmares, para não ser pega pelos soldados coloniais, Dandara preferiu suicidar-se, atirando-se num precipício.

Aqualtune

Nascida no Reino do Congo, Aqualtune foi uma princesa que ocupou importante papel na sua terra natal. Comandou um exército de 10 mil homens contra o Reino de Portugal defendendo seu território. Derrotada, foi vendida como escrava e trazida para Alagoas. No engenho onde estava como escrava ficou sabendo da existência do Quilombo dos Palmares e fugiu para lá levando consigo vários companheiros.

Ali teve três filhos que se destacariam na luta contra a escravidão: Ganga Zumba e Gana, líderes no Quilombo dos Palmares; e Sabina, a mãe de Zumbi. A causa da sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia.

Tereza de Benguela

Foi a rainha do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso. Após a morte do companheiro, liderou a luta do quilombo contra os soldados portugueses. Sua inovação foi a instituição de um parlamento no quilombo onde se discutiam as normas que regulavam o funcionamento do lugar.

Após ter tido seu exército derrotado, Tereza de Benguela foi morta e decapitada com a cabeça exposta em praça pública. Desta maneira, o governo pretendia o castigo servisse de exemplo para que ninguém voltasse a desafiá-lo. Dia 25 de julho, data de sua morte, é celebrado o Dia da Mulher Negra no Brasil.

Aleijadinho

Filho de um arquiteto português e de sua escrava, Antônio Francisco de Lisboa, o Aleijadinho, foi alforriado pelo pai. Cresceu num ambiente de arte e pôde receber educação formal junto aos seus meios-irmãos. Sendo pardo ou mulato nem sempre recebia o que lhe correspondia por suas obras e muitas peças não podem ter a autoria confirmada por carecerem de contrato.

Mesmo assim foi encarregado de fazer várias peças importantes para as ordens religiosas mais ricas da região das Minas Gerais. Suas obras estão em cidades como Congonhas, Mariana e Sabará e em vários museus brasileiros. Desenvolveu uma doença degenerativa que o fez perder (ou paralisar) os dedos das mãos e dos pés. Mesmo enfermo não parou de trabalhar e imprimiu às suas criações um estilo inconfundível, sendo reconhecido como grande mestre barroco do período.

Padre José Maurício

Nascido no Rio de Janeiro, de pais libertos, José Maurício Nunes Garcia seguiu a carreira eclesiástica para ter educação formal. Além disso, estudou música, composição e regência, sendo exímio organista. Com a vinda da Família Real ao Brasil em 1808, a vida cultural do Rio de Janeiro sofreu incremento considerável.

O príncipe-regente Dom João, admirador da música, nomeou-o Mestre de Capela e o fez cavaleiro da Ordem de Cristo, uma das mais tradicionais ordens portuguesas. Compôs, sobretudo, músicas religiosas que refletem a transição do barroco para o classicismo pela qual passava a música europeia.

Com as comemorações do bicentenário da Família Real em 2008, a obra de José Maurício Nunes Garcia foi redescoberta. Assim surgiram várias gravações de orquestras brasileiras e internacionais que permitiram sua divulgação às novas gerações.

Maria Firmina

Nascida no Maranhão, Maria Firmina dos Reis pode ser considerada uma pioneira em vários campos. Foi a primeira mulher a passar para o concurso público como professora, a fundar uma escola mista e a escrever um romance, Úrsula . Este livro anteciparia o gênero de literatura abolicionista que seria moda com Escrava Isaura, de Bernado Guimarães. Publicou em 1871 um conto com a mesma temática A Escrava e reuiniu seus poemas na coletânea Cantos à beira-mar. Maria Firmina foi completamente esquecida e silenciada da História do Brasil, mas pesquisas recentes têm trazido luz sobre sua obra e vida.

André Rebouças

Nascido na Bahia, André Rebouças era filho de um conselheiro do Imperador Dom Pedro I e estudou engenharia no exterior. Construiu docas nos portos de Salvador, Rio de Janeiro e Recife. Propôs meios para melhorar o abastecimento de água da capital do Império e planejou linhas ferroviárias junto com seus irmãos Antônio e José.

Abolicionista, amigo da Família Imperial, foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. A princesa Isabel causou escândalo quando dançou com André Rebouças nos bailes da Corte deixando claro sua posição abolicionista. Monarquista, acompanhou a família imperial no seu exílio em Lisboa e dali partiu para Angola.

Machado de Assis

Nascido no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em família pobre. Desde pequeno, o menino se interessou pelos livros e aprendeu francês, idioma com o qual escreveria alguns poemas. Foi funcionário público em vários ministérios, enquanto desenvolvia sua atividade literária publicando crônicas e contos nos jornais.

Escreveu nove romances fundamentais para a literatura brasileira dentre os quais se destacam Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Além disso, fundou a Academia Brasileira de Letras, e foi seu primeiro presidente. A instituição ainda cumpre importante papel na divulgação da língua portuguesa e tem a sua sede no Rio de Janeiro.

Luís Gama

Nascido na Bahia de uma liberta e de um português empobrecido, Luís Gama nasceu livre, mas foi vendido como escravo pelo pai que estava endividado. Foi para São Paulo aos 10 anos e trabalhou como escravo doméstico. Aprendeu a ler aos 17 e nessa época, conseguiu provar junto aos tribunais que era mantido como escravo injustamente e que deveria ser posto em liberdade.

Um vez livre, Gama passou a atuar como rábula, um advogado sem diploma que pleiteava causas específicas. Luís Gama conseguiu libertar mais de 500 escravos alegando que todo negro chegado ao Brasil após 1831 deveria ser livre, tal como dizia a Lei Feijó. Escritor abolicionista, o enterro de Luís Gama foi um verdadeiro acontecimento em São Paulo acompanhado por quatro mil pessoas. Em 2015, a OAB – Ordem de Advogados do Brasil – lhe concedeu postumamente o título oficial de advogado.

José do Patrocínio

Nascido em Campo dos Goytacazes (Rio de Janeiro), José do Patrocínio foi para a capital do Império para estudar Farmácia enquanto trabalhava na Santa Casa de Misericórdia. No entanto, trocou o laboratório pela redação de jornais onde defendia ardorosamente o fim da escravidão.

Com Joaquim Nabuco, em 1880, fundou Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Além de comícios políticos, a organização arrecadava dinheiro para alforrias e facilitava fugas de escravos. Do mesmo modo, concorreu e ganhou a eleição para vereador do Rio de Janeiro em 1886. Assinada a Lei Áurea, em 1888, Patrocínio foi a Paris, de onde voltou com o primeiro automóvel da cidade do Rio de Janeiro. Investiu suas economias na fabricação de dirigíveis. Morreu de tuberculose aos 51 anos de idade.

Nilo Peçanha

Nilo Peçanha é considerado o primeiro presidente afro-descendente do Brasil, assumindo o cargo após a morte de Afonso Pena, em 1909. Naquela época, os vice-presidentes também eram votados pelos eleitores, de forma independente.

Apesar de seu governo ter durado somente um ano, durante seu mandato, Nilo Peçanha criou o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, o Serviço de Proteção aos Índios (antecessor da Funai), e inaugurou a primeira escola de ensino técnico no Brasil. Foi também governador do Rio de Janeiro em duas ocasiões, senador e ministro das Relações Exteriores.

Pixinguinha

Pixinguinha, apelido de Alfredo da Rocha Vianna Filho, é considerado o maior flautista brasileiro, e ainda tocava cavaquinho, piano e saxofone. Começou a aprender música em casa e aos 14 anos já se apresentava em casas noturnas. Na época do cinema mudo, os artistas negros não eram contratados para as orquestras que acompanhavam o filme, nem tocavam no hall do cinema.

No entanto, com a gripe espanhola, Pixinguinha conseguiu convencer um produtor a contratar o seu conjunto Os Oito Batutas , integrado somente por músicos negros. O grupo animaria os espectadores antes das projeções dos filmes. Mais tarde Os Oito Batutas excursionam pela Europa por seis meses e voltam triunfantes.

Pixinguinha foi para o rádio onde escreveu arranjos e conheceu os grandes cantores da época, como Orlando Silva, que gravaria Carinhoso. Suas músicas até hoje estão no repertório dos grupos de choro, samba e MPB, pois ele é considerado o fundador da moderna música brasileira.

Mãe Menininha do Gantois

Nascida na Bahia, Escolástica da Conceição de Nazaré era descendente de uma linhagem de Iyálorixás, líderes femininas que comandam um terreiro de Candomblé. Mãe Meninha do Gantois foi escolhida aos 28 anos para ser a dirigente do Gantois, terreiro que havia sido fundado por sua bisavó.

Na década de 1930, as celebrações de Candomblé ou Umbanda estavam proibidas por lei. Porém, ela se destacou em fazer que o Candomblé fosse conhecido por intelectuais e políticos. A legião de admiradores da mãe de santo incluíam nomes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, etc. Graças a sua sabedoria, a religião afro-brasileira ganhou mais visibilidade e respeito.

Adhemar Ferreira da Silva

Natural de São Paulo, Adhemar foi pioneiro do atletismo brasileiro na categoria de salto triplo. Defendeu as cores do São Paulo e do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro. Seu primeiro título foi o Troféu Brasil em 1947, e continuou a brilhar, sendo tricampeão pan-americano, sul-americano e quebrando vários recordes mundiais. Consagrado nas Olimpíadas de Helsinque (1952) e de Melbourne (1956) foi o primeiro atleta a ganhar uma medalha de ouro para o Brasil e ser bicampeão olímpico.

Além disso, foi escultor e participou do filme Orfeu Negro, agraciado com a Palma de Ouro em Cannes em 1959. Formou-se em Educação Física, Direito e Relações Públicas. Ainda foi designado adido cultural na Nigéria, onde atuou de 1964 a 1967.

Grande Otelo

Nascido em Uberlândia (Minas Gerais), Sebastião Bernardes de Souza Prata foi o primeiro ator negro brasileiro de projeção nacional e internacional. O apelido veio das aulas de canto, pois o professor previu que ele cantaria o papel de Otelo, de Verdi, quando crescesse.

A carreira artística começou nas ruas da cidade natal, quando o menino cantava e fazia graça para os transeuntes em busca de um trocado. Quando um circo chegou a cidade, Grande Otelo se apresentou com eles e seguiu viagem para São Paulo. Começava assim uma profícua carreira de ator de teatro e de cinema, especialmente em comédias ao lado de Oscarito.

Gravou também títulos com diretores do Cinema Novo como Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos e Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Foi também o primeiro ator negro a atuar no Cassino da Urca e, mais tarde, participou de vários programas de televisão. A Escola de Samba Estácio de Sá o homenageou em 1986 e a Escola de Samba Santa Cruz fez o mesmo em 2015. Ambas agremiações são do Rio de Janeiro.

Ruth de Souza

Natural do Rio de Janeiro, Ruth perdeu o pai aos nove anos e a mãe trabalhou como lavadeira para criar os três filhos. Cedo se interessou pelo teatro e ingressou no Teatro Experimental do Negro, de Abdias de Nascimento. Também gostava de ir ao cinema e escutar ópera junto com sua mãe.

Através do crítico Paschoal Carlos Magno, conseguiu uma bolsa para estudar atuação nos Estados Unidos. Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi também a primeira atriz negra a receber uma indicação de melhor atriz com seu papel no filme Sinhá Moça, no Festival de Internacional de Veneza, em 1954.

Atletas lutam contra o racismo há muito tempo

O mais destacado nos dias atuais é o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Mas o combate ao racismo começou há décadas em todo o mundo

A quantidade de protestos contra o racismo está aumentando no mundo todo. O esporte sempre foi uma espécie de ferramenta para negros conquistarem seu lugar e de lá iniciarem sua luta contra a discriminação. Muitos se destacaram. Alguns deles:

Jesse Owens

O atleta norte-americano foi o primeiro na história a conquistar quatro ouros numa mesma Olimpíada. Owens venceu os 100 e 200 metros rasos, o salto em distância e o revezamento 4×100. Isso aconteceu nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim da Alemanha nazista, e diante de Hitler, o que chocou não só os alemães, mas também os norte-americanos, que na época adotavam leis segregacionistas.

Aída dos Santos

Aída dos Santos era negra, pobre, moradora da comunidade Morro do Arroz, em Niterói. Aída foi a única mulher na delegação brasileira e única do atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 – uma pioneira. Sozinha, não tinha treinador, não tinha uniforme e nem material para competir. Apesar disso, a atleta se classificou para a final e terminou na quarta colocação do salto em altura, sendo a melhor colocação de uma mulher brasileira em uma prova individual da Olimpíada até o ouro de Maurren Maggi em 2008. Aída ainda disputou os Jogos de 1968, na Cidade do México, desta vez no pentatlo. É mãe de Valeskinha, que conquistou o ouro em Pequim-2008 com a seleção feminina de vôlei.

Lewis Hamilton

Primeiro e único corredor negro na Fórmula 1, e nada menos do que seis vezes campeão mundial na categoria. O inglês Hamilton já está entre os maiores nomes do automobilismo.

É também o segundo piloto mais jovem a se tornar campeão do mundo na categoria. Na última renovação de contrato, em 2018, Hamilton se tornou o piloto mais bem pago da história da Fórmula 1.

O inglês já sofreu alguns casos de racismo durante a carreira e questiona a diferença de tratamento dada pela imprensa inglesa a ele e a outros pilotos conterrâneos. Hamilton também já criticou várias vezes a falta de diversidade no grid da F1. Após a morte de George Floyd, foi às redes sociais cobrar maior posicionamento dos outros pilotos nas questões raciais, visto que era o único que tinha se manifestado sobre a violência policial.

“A injustiça que vemos com nossos irmãos e irmãs de todo o mundo, o tempo todo, é desprezível e precisa parar”, diz ele.

Muhammad Ali

Considerado por muitos o maior boxeador de todos os tempos. Ali foi campeão mundial na categoria peso-pesado, campeão Olímpico na categoria meio-pesado e, no boxe profissional, fez um total de 61 lutas com 56 vitórias e apenas 5 derrotas.

Nascido Cassius Clay, o atleta se tornou Muhammad Ali ao se converter ao islamismo. O boxeador se filiou à organização conhecida como Islâmicos Negros, que lutava pelos direitos dos negros norte-americanos. Em 1967, Muhammad Ali se recusou a lutar na Guerra do Vietnã, ficou impedido de competir no boxe por três anos e teve retirado seu título dos pesos-pesados.

Serena Williams

Aug 29, 2018; New York, NY, USA; Serena Williams of the USA hits to Carina Witthoeft of Germany in a second round match on day three of the 2018 U.S. Open tennis tournament at USTA Billie Jean King National Tennis Center. Mandatory Credit: Robert Deutsch-USA TODAY Sports

Serena é, dentre todos e todas as tenistas em atividade, a atleta que detém mais Grand Slams somando simples, duplas e duplas mistas. É também a terceira tenista a permanecer por mais semanas na liderança do ranking mundial.

Além disso, conquistou quatro ouros Olímpicos, três nas duplas e um no simples. Serena Williams é a tenista feminina que mais arrecadou em prêmios na história. Ela possui aproveitamento de 85% de vitórias na carreira, tendo jogado mais de 1.200 partidas. Serena é ativista de várias iniciativas junto às comunidades negras e apoia o movimento Black Lives Matter.

LeBron James

Atualmente, o principal nome da NBA. Considerado por muitos como o sucessor de Michael Jordan, LeBron é influente na liga de basquete desde a sua estreia em 2003. Dono de três títulos de campeão da NBA e dois ouros Olímpicos, James coleciona feitos dentro e fora das quadras.

LeBron foi o primeiro negro, e terceiro homem na história, a ser capa da revista Vogue. O atleta possui uma fundação chamada LeBron James Family Foundation, sediada em Akron, Cleveland. Em 2015 firmou uma parceria com a Universidade de Akron para prover bolsas de estudos para até 2.300 jovens a partir de 2021. Em 2018, a fundação, junto com a prefeitura de Akron, criou a I Promise School, uma escola que além de ensinar, ajuda a combater a evasão escolar. De acordo com Lebron, a criação da escola foi a maior conquista de sua vida. O jogador já afirmou em diversas ocasiões que acredita ser necessário usar de seu status para se posicionar e atrair olhares para as causas raciais e humanitárias.

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