Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, feminicídios aumentaram 2% no primeiro semestre deste ano
No primeiro semestre deste ano, os feminicídios aumentaram 2% no país em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O relatório é produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a partir de dados fornecidos por secretarias estaduais. De janeiro a julho, 648 mulheres foram assassinadas no Brasil em episódios classificados como feminicídio — quando o crime é motivado por violência doméstica ou discriminação por gênero.
Para especialistas e profissionais que atuam no combate a esse tipo de crime, o isolamento social fez aumentar os delitos cometidos dentro de casa, como agressões, abusos e assassinatos. Isso teria ocorrido por causa de maior proximidade entre vítimas e agressores, além de maior dificuldade de fazer denúncias.
Mas outros tipos de crimes também foram influenciados pela pandemia, segundo o relatório. Alguns deles, como roubos, diminuíram consideravelmente. Já outros, como homicídios, voltaram a crescer depois de um período em queda.
Feminicídio em alta, registros de violência doméstica em queda
Os dados de violência doméstica parecem contraditórios. Enquanto os feminicídios aumentaram 2% e as chamadas de emergência subiram 3,8%, os registros de agressões feitos em delegacias diminuíram 10% no primeiro semestre deste ano.
“É preciso tomar muito cuidado ao analisar esses dados, porque eles indicam claramente que houve um aumento da violência doméstica durante a pandemia, mas também um crescimento da subnotificação”, explica Silvia Chakian, promotora de Justiça na área de violência doméstica contra mulher do Ministério Público de São Paulo.
Segundo ela, a alta de assassinatos de mulheres e ligações de emergência à polícia indicam uma intensificação das agressões. “Normalmente, a vítima ou alguma testemunha liga para a polícia quando a situação fica violenta. No caso do feminicídio, é mais difícil haver subnotificação, embora em alguns lugares a polícia ainda tenha dificuldade para classificar esse crime”, diz.Por outro lado, a queda dos boletins de ocorrência apontam dificuldade maior das vítimas em conseguir formalizar uma denúncia à polícia, segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Antes da pandemia, as ocorrências só eram produzidas pessoalmente, na delegacia. Em alguns Estados, isso continua.
Para Silvia Chakian, medidas como boletins de ocorrência produzidos pela internet facilitam as denúncias. “Na pandemia, o Estado de São Paulo abriu a possibilidade de BO online, mas essa não é uma realidade no país inteiro. As pessoas não conseguem denunciar. É preciso fortalecer esses canais para facilitar que mulheres em situação de violência possam pedir ajuda”, diz.
Homicídios voltaram a crescer
Nos últimos dois anos, o número de crimes contra a vida no Brasil estava em queda. As mortes violentas intencionais, por exemplo, tinham caído 17,7% no ano passado, em comparação com 2018 — no total, 47.773 pessoas foram assassinadas no país em 2019.
Mas agora o cenário se inverteu. Esse tipo de crime cresceu 7,1% nos primeiros seis meses de 2020, quando 25.712 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais — uma morte a cada 10 minutos. Em parte, o crescimento foi puxado pelo Ceará, que registrou 96,6% de alta em relação ao ano anterior. O estado viveu, no início do ano, uma grave crise de segurança pública, quando policiais militares ficaram em greve durante 13 dias.
Por outro lado, as mortes em decorrência de operações policiais também cresceram — 6% nos primeiros seis meses do ano, com 3.181 vítimas. Os policiais também morreram mais neste período — foram 110 novas mortes, alta de 19,6%.
Menos assaltos a casas e comércio
Os crimes contra o patrimônio tiveram uma queda considerável no primeiro semestre deste ano. Roubos a pedestres, por exemplo, diminuíram 34%, segundo o Anuário da Segurança Pública. Assaltos a carros caíram 22,5%, e roubos de cargas, 25,7%. Já os assaltos a residências registraram uma queda de 16%, enquanto houve 18,8% menos roubos ao comércio.
Polícia rodoviária apreendeu mais drogas
Outra estatística possivelmente afetada pela pandemia de covid-19 foi a apreensão de drogas ilegais. A Polícia Federal, que fiscaliza aeroportos, fez menos apreensões de drogas, provavelmente por causa da diminuição do número de vôos. Porém, o volume de maconha apreendido quase dobrou em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a 217 toneladas. Em relação à cocaína, houve queda de 2,3%.
Já a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que atua em estradas e rodovias, aumentou bastante suas apreensões. No primeiro semestre, o volume de cocaína apreendida pela PRF cresceu 56,7%, atingindo 14 toneladas. Já a quantidade maconha presa por ela aumentou 128%, chegando a 316 toneladas.