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sexta-feira, 19 abril, 2024

Todos concordam: é preciso comemorar

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No Dia do Professor, embora as aulas tenham mudado de lugar (e só agora voltando às salas), professores têm motivos de sobra para comemorar

No país dos absurdos, onde a Educação não tem a importância que deveria, um abnegado grupo de profissionais se esforça diariamente para transmitir conhecimento. Não é fácil.

Muitos dão aulas em mais de uma escola, desdobrando-se para cumprir horários e currículo, na esperança que jovens de hoje sejam realmente homens e mulheres do amanhã. Esperança, por sinal, é a palavra-chave da profissão que eles abraçaram, motivados por exemplos e ideais.

A Urbem Magazine entrevistou quatro professores. Eles falaram sobre a vida que levam, a batalha diária para ensinar e os motivos para comemorar seu dia. São eles: Gabriela Salustiano, de 26 anos, solteira, formada pela Universidade Paulista (Unip), com aulas na Escola de Educação Infantil Magia do Saber e Colégio Saber, com Educação Infantil e Ensino Fundamental; Ivan Guize Fontan, de 39 anos casado, e ainda sem filhos, formado em Publicidade e Mídia pela Faculdade Luiz Rosa, com especialização em Marketing Digital na Faculdade Esamc, e atualmente fazendo mais um MBA, sobre Gestão de Impacto Sócio Ambiental, lecionando no Rosa há 11 anos e na Faculdade Esamc há três; Ana Clara Grossi Martins, solteira, formada em História na unicamp, lecionando História e Filosofia na Escola Luiz Rosa para os ensinos Fundamental e Médio, e Soraya Fátima Orsaneli, formada em Letras (Português e Inglês) pela Unianchieta, com especialização em Fonética e pós-graduação em Gestão de Pessoas, lecionando há 27 anos na Escola Luiz Rosa – até 1995 também em escola pública.

A tecnologia atual ajuda no Ensino? Ou os alunos se distraem mais com celulares e computadores do que realmente aprendem?

Ivan: Eu tenho que falar que sim prontamente, ainda mais no momento que estamos passando, as adaptações que fizemos e as que ainda iremos fazer. Dito isso, em alguns pontos há uma fuga de atenção sim, o aprender contornar isso faz parte da nossa profissão e ensinar ao aluno que há uma hora e local pra tudo é essencial.

Gabriela: A tecnologia tem a capacidade de auxiliar muitas atividades e o estudo com certeza é uma delas, mas a internet é uma ferramenta que também precisa ser ensinada a utilizar; os alunos precisam de direcionamento pois ela pode nos levar a infinitos caminhos e se nesse momento o aluno são souber filtrar, e selecionar o que importa, se torna uma distração.

Ana Clara: A tecnologia foi uma aliada, porém, funcionou como reparadora de danos, ela contribui muito com as aulas on line, no processo de pesquisas, atividades e seu lado positivo e por termos o acesso facilitado a informações, porém, as estratégias de aulas precisaram ser repensadas para chamar atenção dos alunos e evitar a distração, pois o ambiente de casa e estar sempre nos celulares e computadores facilitam a distração.

Soraya: A tecnologia é um comportamento individual. As pessoas fazem uso da tecnologia considerando que isso é favorável a elas. Quanto aos jovens, acredito que eles dependem muito da orientação, do estímulo que têm em família. Havendo estímulo, a tecnologia vai ser apenas mais uma ferramenta para ensino, ou seja, o jovem não vai ser escravo dessa ferramenta.

A pandemia (e o consequente isolamento social) comprometeu o aprendizado até que ponto? Ou as aulas remotas cumpriram realmente seu papel?

Ivan: Esse ponto é muito delicado; estamos passando por uma situação impar, nunca vivida, nunca programada e a adaptação que foi gerada causou grandes mudanças. Os professores criaram suas novas ferramentas se dividiram em novas tecnologias e tentamos passar para o aluno algo extremamente natural. Um dos maiores ruídos foram as novas salas de aula, aonde dependemos 100% da tecnologia e dos acessórios pra isso e nisso houve diversos problemas que tivemos que aprender a entender, como falta de internet , fone de ouvido ou microfone para as aulas, sem contar as câmeras dificilmente abertas, hoje damos aula para quadradinhos. E nesse ponto sentimos dificuldade maior em passar o conhecimento e até identificar como foi feito, ainda bem que no Rosa temos uma equipe complementar que dá exatamente essa base, vai atrás das informações perdidas pelos alunos e nos dão feedbacks diários; assim conseguimos ajustar e continuar. As aulas remotas cumpriram o seu papel sim, e digo mais demos aula sobre isso.

Gabriela: Acredito que o aprendizado institucionalizado; escola-aluno pode ter se comprometido no que tange a sociabilização; a aprendizagem está diretamente relacionada à rotina dessa convivência escolar; o ser humano foi feito pra viver em sociedade e em todas as nossa trocas há um aprendizado. Olhando por outra vertente a pandemia também nos possibilitou enxergar novos alunos, em um novo ambiente, a própria casa. Muitos se revelaram ótimos escritores e artistas, pois foi a maneira que encontraram para externar os seus sentimentos, e nós, professores, tivemos o prazer de ser espectadores de tantas outras formas de aprendizagem não convencionais, que talvez a sala de aula não nos permitiria. O balanço que eu faço então é bastante positivo, pois, aqueles que tiveram a oportunidade das aulas remotas puderam se adaptar a novas situações e são nesses momentos em que somos tirados da zona de conforto, que o aprendizado acontece. A aula remota cumpriu o seu papel e mais ainda, aproximou a família da escola, revelando ou fortalecendo essa parceria tão necessária

Ana Clara: A pandemia afetou muito o processo de aprendizagem dos alunos, pois além das mudanças em relação a estrutura das aulas, existe a questão da saúde mental, da privação da socialização; embora as aulas contribuiram para a continuidade do aprendizado, funcionou como forma de reparar danos, visto que nada substitui o ambiente escolar no processo de aprendiagem; as aulas cumpriram seu papel pelo trabalho de professores e gestores (repensar métodos) e alunos.

Soraya: A pandemia comprometeu todas as ações humanas. Ela teve e tem consequências que só poderão ser avaliadas quando a vida retornar ao seu ciclo normal. E obviamente, com essa gama de situações insólitas, inesperadas, e principalmente desconhecidas, é claro que ela teve repercussão negativa e considerável no aprendizado. As relações humanas precisam de contato e afeto. Sem isso, é impossível ensinar de fato.

Ser professor nos dias atuais é mais uma questão de sobrevivência ou de idealismo?

Ivan: É amor puro, por tudo; talvez respondendo assim pareça idealismo, mas é mais que isso, tanto pro lado pessoal quanto pro lado profissional. Não há profissão que eu conheça que consiga lhe dar um feedback tão dinâmico e tão direto; isso faz muito bem pro pessoal, você sabe na hora se está passando a informação correta e da forma correta. E profissionalmente é melhor ainda; você vê a mudança que a educação e o conhecimento fazem na vida do aluno, a transformação é real.
Gabriela: Todo professor é um cultivador de esperanças, pois sempre acredita que algo pode ser feito, ninguém está perdido para um professor. É uma questão de idealismo, porque em algum momento de nossas vidas, resolvemos assumir como nossa a responsabilidade por esse desafio tão grande que é a educação.
Ana Clara: Ser professor atualmente é uma questão de idealismo, pois o papel do professor é mais além de apenas o ensinar; é ouvir, aprender, trocar experiências e acreditar na mudança do ser humano; por isso, ser professor é uma ideologia.
Soraya: Ser professor é uma questão de escolha, porque a vida é feita de escolhas. Poderíamos ter outras profissões, mas a escolha nos fez professores.

O professor é valorizado?

Ivan: Por pessoas que você faz a diferença? 100% . Para pessoas que você impacta? 100%. E é isso que importa.

Gabriela: O valor de nós, professores, está na importância do trabalho que realizamos e de uma maneira geral o Brasil parece não compreender essa importância; a desvalorização é a consequência, pois em um país em que muitos estão preocupados em ter o que comer, a educação não é vista como prioridade.

Ana Clara: Infelizmente não; em especial no Brasil, o professor e muito desvalorizado, desde ascondicões de trabalho, baixos salários e desprestígio social, altas cargas horarias de trabalho e muitas vezes o professor é invisibilizado e seu trabalho visto como simples ou fácil.

Soraya: É importante que o professor se pergunte: valorizado em qual sentido? Obviamente, estamos muito aquém de sermos remunerados justamente. Eu me sinto valorizada no processo, quando percebo que faço diferença na vida das pessoas, quando eu contribuo para que as pessoas pensem numa maneira diferente. Quando me escolhi professora, o fiz primeiro porque eu queria contribuir com a mudança na vida das pessoas, e depois percebi que queria me eternizar na vida de alguém. Sempre a gente vai ter na vida um professor que fez diferença, positiva ou negativa.

Há estudos provando que muitos chegam ao Enem sem saber Matemática e muito menos a Língua Portuguesa. Essa deficiência tem conserto? Ou isso só acontece em escolas públicas?

Ivan: Não tenho domínio sobre o assunto, mas vou dar alguns pontos de vistas meus. Tem conserto sim, o modelo que é ensinado é que faz a diferença; quando eu era aluno tinha de decorar, simples assim e achava isso pesado demais; a frase utilizada até como piada era “é difícil, num é pra mim” e esse processo ficava recorrente na família; o erro está exatamente aí. É por essa batalha que esses professores passam diariamente e a beleza de não se dar aula no sistema decoreba é essa – o português flui, a matemática flui. As faculdades hoje fazem uma normalização e quando os alunos entram no primeiro ano, há ajustes. Que o peso é maior para as escolas públicas, acredito que sim, mas muito mais pelos números já estudados, do que ter vivido isso de perto.

Gabriela: A educação no formato que existe no Brasil, burocrática e curricular, faz com que a aprendizagem não seja de interesse do aluno. Há um currículo pronto que deve ser executado e cumprido, ou seja, o aluno não é protagonista na formação desse currículo. Ninguém pergunta ao aluno o que ele deseja estudar, a aprendizagem não soa familiar, não nasce das vivências, das curiosidades e das necessidades dos alunos, não há vínculo afetivo com esse currículo; portanto, o desinteresse é recorrente. Isso não é um problema da escola pública ou privada, é da educação brasileira. O maior desafio do professor é tornar o aluno protagonista de um currículo que lhe é imposto, com muito jogo de cintura, estudo e técnicas; a função do professor tem sido transpor esse currículo para a realidade do aluno, mas nem sempre a tarefa é fácil. Imagine um professor que trabalha em período integral, numa escola sem recursos? O resultado é o que vemos por ai – muitos chegam ao ensino médio sem saber ler e escrever.

Ana Clara: As dificuldades de aprendizagem acontecem em escolas particulares, porem, infelizmente, nas públicas as lacunas sao maiores, pela progressão automática, carência de professores, salas superlotadas e ausência de equipes de psicólogos e pedagogos para auxiliarem a detectar as dificuldades e elaborarem atividades específicas para soluciona-las. Acredito que sim, essas deficiências têm conserto, porém é um trabalho conjunto; deve-se repensar práticas e metodologias mais contextualizadas ao ambiente dos alunos, os conteúdos devem ser aplicáveis na prática e as avaliações devem ser pensadas para desenvolver competências, ao invés de simplesmente atribuir uma nota, além da necessidade de uma rede de apoio escolar (gestão, psicólogos , famílias e pedagogos), contribuindo para detectar dificuldades e pensar formas para soluciona-las.

Soraya: Penso que tudo tem conserto. Até para a morte. E qual o conserto da morte? É a reprodução, é aparecerem outras vidas. Agora, quanto ao ensino, o tempo que isso levará para ser consertado é uma coisa que não sabemos. Nós temos uma lacuna muito grande de educação, de interpretação de texto. E quando não se interpreta texto, não se save Matemática, não se sabe Geografia, não se sabe absolutamente nada. A diversidade e as adversidades são inúmeras. Penso também que isso é muito individual. Quando alguém tem sede de aprendizado, não importa onde esteja.

O professor tem motivos para comemorar o seu dia? Ou é um dia de lamúrias?

Ivan: 100% de comemoração. E essa temporada aqui nos dá mais razões do que nunca para isso. Essa é uma profissão que sempre deve estar atualizada e essa pandemia mostrou exatamente isso e conseguimos. Tem de comemorar, e muito, fazer a diferença na vida de uma pessoa não é fácil e a gente faz, não em todas, mas faz.

Gabriela: Um professor sempre encontra motivos para comemorar; no nosso dia dia recebemos muitas gotas de alegria, de superação e de esperança. Ajudar na construção de vidas, por mais árdua que seja, deve ser sempre um motivo de comemoração.

Ana Clara: O professor tem motivos para comemorar seu dia e se orgulhar de seu papel, pois somos responsáveis por transformar individuos que podem melhorar e transformar a sociedade, além de proporcionar a autonomia através do conhecimento; devemos nos orgulhar, comemorar e sempre lembrar que educar é um ato de amor e vai além da sala de aula. O dia 15 de outubro deve ser celebrado em especial neste ano, no qual todos os professores se reinventaram , ampliaram sua carga de trabalho por acreditarem em sua profissão. Ser professor é um ato de amor, resistência e resiliência.

Soraya: A vida já é um grande motivo para comemorar. Não sei se é um dia de lamúrias. Mas será um dia atípico, diferente dos que tivemos a vida toda, porque não haverá contato humano, que é o que nos move. Talvez as lamúrias venham, do excesso de trabalho, do cansaço que é extremo. Mas esse Dia do Professor será um dia diferente. Mas nós estamos num ano diferente.

Urbem
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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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