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quinta-feira, 25 abril, 2024

E Santos Dumont não é o Pai da Aviação

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Em 23 de outubro, o Brasil comemora o Dia do Aviador, em referência à data do vôo do 14-Bis de Santos Dumont, ocorrido em 1906

Certamente todos os brasileiros aprendem na escola que o inventor do avião é o Alberto Santos Dumont. Por isso, aqui – e somente aqui – ele é o Pai da Aviação. Também se ensina que Santos Dumont morreu de desgosto, deprimido, por ver seu invento usado na guerra.

Tudo cascata e patriotada. Santos Dumont não inventou o avião, não é o Pai da Aviação, e sua depressão tem outros motivos.

Fala-se, na melhor das hipóteses, que há uma polêmica sobre a invenção do avião. Mas não é polêmica também. Os fatos mostram que não há motivo para isso. Na realidade, anos antes de Santos Dumont fazer seu vôo de 220 metros no Campo de Bagatelle, em Paris, os irmãos Wilbur e Orville Wright já tinham voado nos Estados Unidos, e muito mais que Santos Dumont.

O vôo de Santos Dumont foi assistido por milhares de pessoas. Os vôos dos irmãos Wright foram segredo durante alguns anos – eles não davam publicidade aos vôos porque queriam que o governo americano patenteasse sua invenção. Ao contrário dos americanos, Santos Dumont corria atrás dos prêmios em dinheiro oferecidos na França: o Prêmio Archdeacon e o Prêmio do Aeroclube da França.

O 14-Bis de Dumont, também conhecido como Oiseau de Proie (ave de rapina, em francês) era uma geringonça com aerodinâmica quase impossível. Elevava-se do chão e voava poucos metros em linha reta, logo perdendo a sustentação. Durava um ou dois minutos, e para decolar, fazia aos saltos. O avião dos irmãos Wright voavam mais, e podiam ir em qualquer direção. Um dos vôos levou 39 minutos sobre uma fazenda, e Wilbur e Orville fizeram todas as manobras possíveis – as mesmas, basicamente, de um avião atual.

Os Wright voaram pela primeira vez em 1903 e continuaram voando até 1905. Alega-se que eles usaram uma catapulta para decolar, o que é verdade. Mas essa catapulta era só para diminuir o tempo de decolagem. O princípio é tão bom que é usado até hoje nos porta-aviões. Os americanos não tiveram a patente, mas o governo dos Estados Unidos passou a comprar aviões dos dois irmãos inventores. E ninguém comprou os aviões de Santos Dumont.

Com a 1ª Guerra Mundial, os aviões passaram a ser usados primeiro para observar tropas inimigas, e depois para nelas jogar suas bombas. A guerra durou de 1914 a 1918, e à essa altura Santos Dumont já havia voltado para o Brasil. Mais um detalhe: Santos Dumont era gay, e ser gay, naquela época, era um absurdo. Ele mantinha um caso com um sobrinho, que depois o abandonou.

Ninguém nega a genialidade de Santos Dumont – uma de suas criações foi o relógio de pulso, em parceria com o joalheiro Cartier. Os franceses louvavam Santos Dumont por ignorância – na época, a comunicação era complicada, e as notícias levavam meses para chegar. Quando chegavam. E só para constar: em 23 de outubro de 1906 voou sessenta metros a uma altura de dois a três metros com o 14-Bis no Campo de Bagatelle. Os Wright voaram quilômetros anos antes.

Santos Dumont se enforcou em 1932 no Guarujá. A história oficial é que ele estava deprimido por causa do uso dos aviões na guerra. Estava deprimido por outros motivos. O sobrinho-caso o abandonara, os americanos vendiam seus aviões e ele não tinha mais nada a apresentar como novidade. Depois de sua morte, um gesto de patriotada lhe deu o título de Pai da Aviação. Mas se fosse mesmo para dar um título desses, teria de ser a Leonardo da Vinci, que séculos antes já projetara o helicóptero.

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