O número oficial é de 611 incidentes com violência só nos primeiros seis meses da pandemia. Isso em 40 países. Mas o número pode ser bem maior – há quem prefira deixar de lado tais incidentes. Esses incidentes envolveram médicos e outros profissionais de saúde, além de hospitais e clínicas, todos relacionados com o tratamento da covic-19. Mais de 20% são agressões físicas, 15% tiveram como motivo a discriminação por causa do medo e 15% foram agressões verbais ou ameaças.
A divulgação desses dados aconteceu no dia 19 passado, o Dia Mundial do Humanitário, data em que se recordam os profissionais humanitários mortos ou feridos enquanto prestavam assistência e homenageiam os profissionais de saúde que prestam apoio vital e proteção para as pessoas que mais precisam.
Quando os incidentes foram cometidos por membros da comunidade, o medo de que a covid se espalhasse desempenhou um papel significante. Quando os pacientes ou os seus familiares estavam por trás dos atos, ofensas relacionadas com a morte de um familiar ou medo da morte foram os principais motivos. A impossibilidade de realizar rituais funerários devido às restrições causadas pela pandemia também levou alguns familiares a cometerem atos agressivos contra os profissionais ou estabelecimentos de saúde.
“Esta crise coloca os profissionais de saúde em risco quando são mais necessários. Muitos deles foram insultados, assediados ou sofreram violência física. Esse ambiente de medo, que quase sempre se soma à falta de equipamento de proteção individual, gera aumento significativo do estresse para a saúde física e mental dos profissionais e das suas famílias, afirma o chefe da iniciativa Assistência à Saúde em Perigo do CICV, Maciej Polkowski. Esses ataques têm um impacto devastador no acesso e na prestação de assistência à saúde em lugares onde muitos sistemas de saúde estão saturados”.
Alguns dos casos registrados pelo CICV:
No Afeganistão, o principal centro de isolamento relacionado com a covid-19 foi fechado por meio dia devido a um desentendimento físico entre familiares de um paciente que tinha morrido e profissionais de saúde. Em Bangladesh, foram lançados tijolos na casa de um médico depois que o resultado do seu teste de covid-19 deu positivo em tentativa de obrigá-lo a abandonar a área junto com a sua família.
Na República Centro-Africana, a frustação dos familiares de uma pessoa que morreu em decorrência da covid-19 levou a que agredissem fisicamente alguns profissionais de saúde por não poderem recuperar o corpo do seu ente querido devido às restrições impostas pela pandemia. Na Colômbia, moradores impediram que ambulâncias entrassem na cidade para identificar casos de covid e verificarem os prontuários médicos confidenciais e os nomes dos profissionais da equipe de saúde.
No Paquistão, médicos em um hospital foram agredidos física e verbalmente depois da morte de um paciente por causa da covid-19. Os familiares entraram em uma área de alto risco gritando que o coronavírus era uma farsa. Nas Filipinas, um profissional de saúde e os seus filhos foram obrigados a abandonar a casa onde moravam depois de serem assediados, discriminados e de que vizinhos cortassem a sua luz.Entre os incidentes contra pessoas, 67% atacaram profissionais de saúde, 22.5% atacaram pessoas feridas ou doentes (incluindo pacientes com suspeita de covid-19), e 5% atacaram pessoas deslocadas internamente ou refugiadas. Os 611 casos de violência, assédio e estigmatização ocorreram entre 1.º de fevereiro e 31 de julho de 2020. Esse número se baseia em relatos reunidos pelo CICV, dados de outras organizações que monitoram os incidentes relacionados com a assistência à saúde, e o acompanhamento de notícias e redes sociais em 40 países na África, Américas, Ásia e Oriente Próximo e Médio. As informações estão em http://www.cicv.org.br.