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sexta-feira, 29 março, 2024

Brasil já teve campos de concentração

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Sempre que se fala em campos de concentração, a lembrança é dos nazistas, onde milhões de judeus, principalmente, perderam parte ou sua vida toda. Os campos de concentração foram a solução que os alemães nazistas encontraram a princípio para confinar os inimigos de Hitler. Depois, fora da Alemanha, construíram os campos de extermínio. Mas isso não foi exclusividade alemã durante a 2ª Guerra Mundial. O Brasil teve onze campos de concentração.

A perseguição a imigrantes e descendentes de alemães, japoneses italianos começou após 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo e se aliou aos americanos, franceses e ingleses. A perseguição terminou confinando essa gente. A alegação era que eles poderiam ser agentes infiltrados e passar informações aos seus países de origem. Um dos campos brasileiros foi montado no Pará, e para lá levados japoneses. O campo de Tomé Açu tinha regras severas, racionamento de energia elétrica, toque de recolher e censura de correspondência.

A japonesada da região vivia de agricultura, principalmente de arroz e hortaliças, e estava habitando as margens do Rio Acará. Eles haviam chegado em 1929 e instalados em terras da Companhia Nipônica de Plantação (Nantaku). Seis anos depois, fundaram a Cooperativa Agrícola de Acará. Os negócios iam bem, até que o Brasil resolveu entrar na guerra. E o Japão era inimigo.

Em abril de 1942 o governo brasileiro (Getúlio Vargas) tirou dos japoneses o direito de posse de tudo o que tivessem. Boa parte das 49 famílias que vivia na região na época, era de agricultores, e tinha pouco conhecimento sobre os combates que ocorriam em sua terra natal. Mesmo assim, foram considerados prisioneiros de guerra, termo geralmente usado para militares apreendidos em combate, mas que, naquele momento, também foi usado para civis. Os números são imprecisos, porém estima-se que durante os três anos de existência do campo, 480 famílias de japoneses, 32 de alemães e alguns italianos foram parar ali. Uma grande parte veio da capital Belém.

“Na capital paraense, a vida dos japoneses não era fácil. Em Belém, brasileiros saqueavam, queimavam as lojas, as casas dos japoneses. Muitos ficaram sem ter onde morar”, conta Hajime Yamada, de 94 anos, que chegou à região do Acará em 1929, na primeira leva de imigrantes, quando tinha 2 anos. Desde então, vive em Tomé-Açu, e presenciou os anos de dificuldades.

Muitos japoneses também foram trazidos do Amazonas, inclusive de Manaus, a 1.300 km de Tomé-Açu. Os dirigentes da Companhia Industrial Amazonense foram levados ao campo, e a imprensa local passou a denominá-los de quinta coluna”, termo utilizado, em contexto de guerra, para designar espiões, sabotadores e traidores a serviço de outro país.

Ao longo da história, campos de concentração assumiram diversas formas. No caso de Tomé-Açu, a colônia de imigrantes foi isolada dentro do perímetro do campo. As casas, o hospital e outras construções comunitárias foram, do dia para noite, subordinados ao poder do Estado. Como era um vilarejo praticamente perdido na Amazônia, cujo único acesso era feito por barco, no momento em que o Estado controlou a embarcação, a comunidade acabou ficando isolada.

Muitos dos imigrantes forçados a se deslocar não eram obrigados a ficar reclusos em celas, porém também não tinham onde se alojar ou se alimentar. Yamada conta que pelo menos duas famílias ficaram em sua propriedade até o fim da guerra. “Aqui em casa ficaram as famílias Takashima e Watabi. Passaram um ano e pouco, até terminar a guerra. Nós conseguimos armar uma barraca rapidamente, porque vieram lá de Belém sem casa, sem nada, só com a roupa do corpo. Todo mundo deu apoio”, afirma.

Assim, o campo se estruturou como uma verdadeira cidade. A vigilância e a segurança eram garantidas por um destacamento militar, sob a administração de um capitão do Exército. A rotina no campo de Tomé-Açu era de privações, apesar de não se comparar à dos campos de extermínio da Alemanha nazista, a começar pelo confisco de bens dos imigrantes. Livros, aparelhos de rádio, armas e embarcações foram levados por autoridades brasileiras, que, por vezes, usufruiam desses bens em benefício próprio.

Cortar a comunicação dos imigrantes com o mundo exterior era uma prioridade do governo brasileiro. Correspondências eram censuradas nas agências de correio de Belém e, se havia denúncia de que alguém estava ouvindo a rádio do Japão, por exemplo, a polícia bateria na porta daquelas pessoas e elas teriam sérios problemas. Também não era permitido se reunir com outros habitantes do campo. Se a polícia visse, levava todos presos.

Com o fim da guerra, em 1945, os campos foram extintos, mas as perseguições continuaram. Japoneses, principalmente, tinham dificuldade de conseguir trabalho. Acabaram se mudando para outros estados. Hoje, aproximadamente mil descendentes de japoneses vivem em Tomé-Açu.

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