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Jundiaí
quinta-feira, 28 março, 2024

Assistência, mesmo em tempos de crise

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Não existe gesto de amor maior do que se dedicar a mitigar o sofrimento do próximo. As instituições funcionam em sua maioria com voluntários; outras, devido à complexidade dos tratamentos, mantêm profissionais contratados. O medo causado pela pandemia da covid afastou as pessoas do convívio social e as doações, importantes para todas, diminuiram. Mesmo assim o trabalho não parou. A Urbem Magazine escolheu quatro instituições para mostrar seu trabalho. São as que mais se destacaram  nos últimos anos, e fazem um trabalho sério e responsável.

São elas: o Grendacc (Grupo em Defesa da Criança com Câncer), a Amarati (Associação de Educação Terapêutica Amarati), a Bem-Te-Vi (Centro de Atendimento à Síndrome de Down Bem-Te-Vi) e a Ateal (Associação Terapêutica de Estimulação Auditiva e Linguagem).

Ateal

A Ateal- Associação Terapêutica de Estimulação Auditiva e Linguagem – foi fundada em Jundiaí em 1982. É uma associação civil, assistencial e de pesquisa, sem fins econômicos, que conta com a atuação de uma diretoria voluntária. Presta serviços na área de atenção especializada para deficiência auditiva e fala. 

É credenciada pelo Ministério da Saúde para atendimento na Rede de Saúde Auditiva e conveniada com a Secretaria de Saúde de Jundiaí para atender ao Sistema Único de Saúde (SUS), aos pacientes de Jundiaí e mais 18 cidades da região, abrangendo uma população de 1.400.000 pessoas.

A deficiência auditiva é um campo de preocupação e discussão no âmbito das Políticas Públicas e, nessa direção, o desenvolvimento de ações que envolvam as áreas de saúde, educação e assistência social se tornam necessárias para que o deficiente auditivo construa sua vida para a inclusão cidadã.

Os programas e serviços desenvolvidos pela Ateal  têm caráter social e de interlocução entre os segmentos que dizem respeito às necessidades públicas. Essa comunicação tem aprimorado as práticas de gestão, diagnóstico, controle e atividades de monitoramento, avaliação dos programas encaminhados e sugeridos pelas Secretarias envolvidas. 

A Ateal se baseia nos seguintes indicadores: Trabalhar com dados epidemiológicos para diminuir as incidências das patologias; priorizar o atendimento de crianças e adolescentes para potencializar suas habilidades com vista na inclusão social, escolar e laboral; desenvolver novas metodologias e materiais para aplicação em reabilitação; promover intercâmbio e conhecimento técnico científico; desenvolver projetos com incentivos fiscais junto à sociedade civil e empresas, criando novas oportunidades de inclusão aos deficientes auditivos e pessoas com distúrbios de comunicação; inovar ao criar indicadores, técnicas e tecnologia para audição e comunicação; promover capacitações e aprimoramento; organizar sistemas de informações para visibilidade e transparência das ações; atuar na aplicação social de pesquisa, tornando-as propriedade pública e contribuir para formulação de políticas públicas. O resultado tem sido um trabalho de excelência nos atendimentos ofertados, bem como a publicação de pesquisas em revistas científicas e apresentações de trabalhos em Congressos Nacionais e Internacionais.

Os colaboradores internos contratados CLT somam 86, terceirizados 14, residentes/estagiários 8  e voluntários 28. O número médio de pessoas atendidas mensalmente é de 2.400 para uma demanda de dez mil procedimentos, entre eles exames audiológicos, consultas médicas, avaliação e terapias multidisciplinares, processo de seleção, indicação e adaptação de aparelhos auditivos e os testes da orelhinha (TANU) nos hospitais.

Sua principal atividade é prestar serviços em saúde auditiva e da comunicação, por meio de exames, avaliações, diagnósticos, seleção, indicação, adaptação de aparelhos auditivos e acompanhamento der seus usuários, terapias reabilitadoras e pesquisa, visando o bem-estar e a inclusão das pessoas. Também desenvolve projetos sociais financiados por empresas via incentivo fiscal, para o desenvolvimento e inclusão de crianças, adolescentes e idosos.Como entidade do terceiro setor, estatutariamente a Ateal elege o Conselho Administrativo para o mandato de  três anos, e dentre seus membros elege uma Diretoria Executiva, um Conselho Fiscal e um Conselho Técnico, com função de assessorar, orientar, auxiliar e aconselhar na elaboração do planejamento estratégicos e pareceres no que diz respeito aos programas da Instituição. A diretoria é composta  por profissionais voluntários, experientes, qualificados e especializados que fazem processo de mentoria, tendo como objetivo identificar as melhores práticas para a gestão e administração, definir estratégias e verificar o engajamento da equipe de trabalho.

Grendacc

O Grendacc (Grupo em Defesa da Criança com Câncer) é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, fundada em 18 de julho de 1995, que visa oferecer um atendimento humanizado e de qualidade para crianças e adolescentes com doenças oncológicas e hematológicas.  Está instalado na avenida Olívio Boa 99, Parque da Represa, em Jundiaí.

Atualmente conta com 152 funcionários e com 230 voluntários. Mas todo o trabalho voluntário da instituição está suspenso por conta da pandemia causada pelo coronavírus. Em média o Grendacc atende 500 pessoas por mês nas mais diversas especialidades.

A principal atividade do Hospital da Criança do Grendacc é o atendimento de crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas, mas atende também outras especialidades, como nefrologia, cardiologia, cirurgia pediátrica, neurologia, além do laboratório de análises clínicas, nutrição, psicologia e fisioterapia. A diretora presidente é Verci Andreo Butalo. Atualmente aposentada (promotora de vendas).

Amarati

A Amarati é entidade filantrópica sem fins lucrativos, contando com diretoria voluntária, que há mais de 35 anos atende a pessoas com deficiências de Jundiaí e região, implantando nova perspectiva para as pessoas com lesões neurológicas, doenças neuromusculares degenerativas, mielomeningoceles e síndromes, associadas ou não a outras deficiências, contribuindo para a qualidade de vida dos seus usuários e promovendo ações para modificar a visão social a respeito das deficiências. Presta, portanto, atendimento a assistidos com graves comprometimentos neuromotores e em geral, com quadro clínico bastante delicado.

 Iniciou suas atividades em 1982 com apenas sete assistidos. Atualmente possui capacidade de atender 200 assistidos, em prédio construído com apoio da comunidade em área concedida pela Prefeitura de Jundiaí, contando com equipe qualificada, multidisciplinar, na área de reabilitação neurológica.

São 42 colaboradores e diversos voluntários. Além disso, sua diretoria e conselho é formada igualmente por voluntários que se dedicam a causa. O diretor-presidente atual é o advogado Jonathas Augusto Busanelli, sendo a diretoria composta por vice-presidente Cássio Marcelo Cubero, 1º tesoureiro Adriano Aparecido de Moraes, 2º tesoureiro Alessandra de Almeida M. da Silva, 1º secretário Luciane Cristina L. Luiz Del Roy, e 2º secretário Edimilson Roncoletta 

Em 1999 foi selecionada pela Kanitz & Associados como uma das 50 entidades do Brasil melhor administradas. Foi avaliada segundo seus resultados organizacionais, financeiros e operacionais, sua transparência e impacto social, pelos padrões internacionais na área de beneficência. Em 13 de maio de 2003 recebeu pela segunda vez o Prêmio Bem Eficiente da Fundação Kanitz, confirmando a qualidade dos serviços prestados.  

Em 2000, a Amarati recebeu Menção Honrosa por Ideia Inovadora através do Prêmio Empreendedor Social organizado pela Ashoka (organização internacional atuante em 35 países e que trabalha visando o desenvolvimento e a profissionalização do 3º Setor: Ong’s, Institutos, Fundações, etc., através da disseminação do conceito de empreendedorismo social) e pela McKinsey & Co. (empresa internacional de consultoria em alta gestão), que destacou um dos projetos da Amarati como sendo projeto social inovador e de grande impacto.

Bem-Te-Vi

O Centro de Atendimento à Síndrome de Down Bem Te Vi, fundada 13 de dezembro de 1990 por um grupo de pais, presta atendimento para pessoas com síndrome de Down, desde o nascimento até o envelhecimento. Atualmente está localizada na rua Paulo Eiró 21 – Vila Santana II, em Jundiaí, aberta de segunda à sexta das 8 às 17 horas.

Presta atendimento nas áreas Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Psicologia, Psicopedagoga, Médico, Serviço Social e também Apoio pedagógico e aulas de dança-terapia. Os assistidos pela Bem-Te-Vi também recebem alimentação, almoço e lanche.A  equipe é formada por 21 funcionários, e conta também com alguns voluntários. Atualmente atende 118 assistidos e seus familiares e há uma fila de espera de 50 assistidos. Mensalmente tem em média 1.600 atendimentos.
Tem Diretoria composta de pessoas voluntárias, que são os responsáveis legais da Instituição, mas para esclarecer qualquer dúvida, ou mesmo conhecer a Bem-Te-Vi, o contato pode ser com com a coordenadora administrativa Cristiane Kroneis, formada em Direito, e que está na Instituição há mais de 10 anos.

As entrevistas

A Urbem Magazine entrevistou os responsáveis pelas quatro instituições. As perguntas, todas com o mesmo teor, foram respondidas por: Mariza Pomilio, pela Ateal; Cassiana Griesius, coordenadora administrativa, pela Amarati; Cristiane Kroneis, pela Bem-Te-Vi, Isabela Bastos Cardoso (vice-presidente), Katia Franciosi (gerente adjunta), Arianne Christina Pereira Casarim (oncologista pediátrica) pelo Grendacc.

A instituição obtém seus recursos como?

Ateal: A Ateal obtém seus recursos pela prestação de serviços no atendimento ao deficiente auditivo e pessoas com distúrbios de fala de Jundiaí e região. As receitas Institucional provem: 49% dos convênios ou contratos com prefeituras (sendo de Jundiaí Saúde-SUS prefeituras de Atibaia, Campo Limpo, Cabreúva, Cajamar, Jarinu e Bom Jesus dos Perdões); 19% da área de projetos PRONAS, Rotary, empenhos parlamentares, secretarias de Educação de Jundiai e Itupeva e 32% dos atendimentos particulares, serviços em empresas, Nota Fiscal Paulista, bazares, Ação entre Amigos, corrida, doações de Pessoas Físicas e Jurídicas e cursos. Todas as informações e prestação de contas estão na aba transparência, balanço social 2019, no site www.atea.org.br    e publicado na imprensa oficial em 3 de abril passado.

Grendacc: Recebemos doações da sociedade, que muito tem nos ajudado nesses 25 anos de luta contra o câncer. Também contamos com o repasse do SUS através de contratos/convênios de prestação de serviços. Além de Jundiaí, o Grendacc tem convênios firmados com Campo Limpo, Varzea Paulista, Itupeva, Louveira, Jarinú, Cabreúva e Cajamar, além de consultas particulares e consultas a apreço popular.
Por conta da pandemia causada pelo coronavírus tanto o nosso Bazar Permanente quanto os bazares de marca foram suspensos por tempo indeterminado o que causou redução de 25% em nossa renda mensal. Por isso, no mês de agosto, criamos o nosso Bazar Virtual, para tentar recupar parte desta renda com vendas on-line.
Também realizamos promoções como rifas e temos os nossos produtos institucionais – camisetas, agendas, chinelos, canecas – à venda tanto pelo Telemarketing como no aplicativo DoarFácil.

Amarati: A Amarati tem como fonte de recursos convênios firmados com entes públicos, dos quais, o maior, relativo à prestação de serviços de saúde, cuja maior do escopo tem como referência a Tabela SUS, além de termos de colaboração nas áreas de assistência social e educação. Como cediço e se encontra no portal da transparência da Amarati, os valores repassados pelos órgãos públicos são aquém do custo das atividades contratadas, razão pela qual a Amarati conta com o apoio voluntario da comunidade e empresas parceiras a fim de manter suas atividades que são focadas em população de baixa renda, atendendo, assim, de forma gratuita.

A Amarati atua de forma ampla; realiza atendimentona área de saúde, por meio de atendimento individual e/ou grupo, nas áreas de Neurologia, Odontologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Psicologia e Fonoaudiologia; realiza apoio ao processo de inclusão escolar através de atendimentos complementares e suplementares, por meio de ações em Pedagogia; realiza incentivo à cultura, ao esporte, lazer e mercado de trabalho visando a inclusão social em todos os segmentos da sociedade, por meio de ações de Dança terapia (há mais de vinte anos com um festival anual de dança adaptada), Grupos de inclusão para o trabalho, Exposições e Bazares e realiza ações de assistência social, mediante inclusão e proteção social às pessoas com deficiência e suas famílias, visando apoio, defesa e garantia de seus direitos sociais.

Bem-Te-Vi: Os recursos são provenientes da realização de eventos, tais como almoços, jantares, pizzas, bazares;  atualmente, devido à condição da pandemia, esses eventos foram suspensos, sendo assim tivemos de buscar uma alternativa para o não fechamento da instituição, que são as vendas de marmitex, na própria entidade. Recebemos um auxílio da Prefeitura, mas que cobre somente 35% das despesas da Instituição. Também contamos com as doações de empresas, pessoas físicas, anônimos, doações de alguns pais.

Com a pandemia, desde março o país vive situação atípica. Isso afetou o trabalho da instituição?

Ateal: A Ateal não interrompeu seu atendimento em nenhum momento; como serviço essencial, se manteve pronta respondendo às necessidades e buscando soluções para a demanda externa, ao mesmo tempo em que respondia à demanda interna dos profissionais que precisavam de acolhimento e escuta. Aprendemos rapidamente a ressignificar conceitos, ideologias, valores, parcerias, e a capacidade de perguntar e responder aos sistemas sociais se aquilo que propomos é o que podemos fazer de melhor para nós todos. Tivemos custos aumentados para adequação ao “novo normal” com aquisição de EPIs e adequação dos ambientes para continuidade aos atendimentos. Paralelamente  ao aumento de custo, ocorreu a diminuição de receita com não renovação de alguns convênios/contratos e impossibilidade de realização de eventos que auxiliavam na manutenção da Instituição.

Grendacc: Mesmo não sendo um centro de tratamento de Covid precisamos nos adequar aos protocolos de segurança, investir em EPIs.

Amarati: Com certeza, dado o alto grau de risco e vulnerabilidade de nossa clientela, a Amarati. além de adoção de todos os protocolos sanitários, tem sofrido com a pouca possibilidade de atendimentos presenciais. Mesmo assim, além dos atendimentos mais emergenciais, toda a equipe se desdobrou para formular e adaptar o conteúdo dos seus programas para a forma remota.

Bem-Te-Vi: Afetou muito, devido ao cancelamento dos nossos eventos, que mantém o funcionamento da Instituição, gerou um déficit financeiro gravíssimo, comprometendo assim a existência da Bem-Te- Vi; estamos lutando para manter os atendimentos tão importantes para essas pessoas.

O que mais ficou prejudicado com a pandemia?

Ateal: A pandemia paralisou os planos de curto prazo. O que mais impactou neste período foi a impossibilidade de realização dos eventos que estavam programados no planejamento anual para arrecadação de receitas. A instabilidade, os desafios e superação é a lição do dia a dia nesta pandemia.

Grendacc: Os recursos obtidos através dos bazares e eventos, além da diminuição de procedimentos eletivos, resultando em queda de arrecadação e faturamento.

Amarati: Dois pontos em relação a atendimentos: 1) alguns atendimentos terapêuticos que são basicamente presenciais sofreram um bom revés. Mas diante da vulnerabilidade física de boa parte de nossos assistidos em que uma contaminação pela covid-19 poderia ter um efeito bastante sério, é natural que neste momento excepcional em uma análise de risco, algumas famílias optem por não comparecer a atendimentos presenciais, salvo casos de imperiosa necessidade; 2) o convívio social dos assistidos e familiares no âmbito da Amarati que, em regra, acaba sendo uma segunda casa para a maioria. No mais, sentimos muito a questão do apoio financeiro, já que empresas que colaboravam tiveram sensível impacto econômico. Além disso os eventos que fazíamos para arrecadar recursos também não podem ser realizados. Então o impacto foi grande.

Bem-Te-Vi: Financeiro, não gerando recursos para manter todos os atendimentos, tivemos de cortar muitas despesas essenciais.

Levando-se em conta as projeções e estatísticas nacionais, no tocante a Jundiaí, é possível estimar a porcentagem de pessoas com alguma deficiência auditiva?

Ateal: Estudo feito em conjunto pelo Instituto Locomotivo e a Semana da Acessibilidade Surda (setembro/2019), revelaram a existência no Brasil de 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva. Desse total 2,3 milhões têm deficiência severa. A predominância para surdez está na faixa de 60 anos, com indicador de 57%. Outro indicador significativo é o de nascimento – estima-se que a cada mil nascimentos três crianças nasçam com algum comprometimento auditivo (dados da National Center for Hearing Assessment and Management -NCHAM).

Considerando a estimativa do IBGE/ 2019, a população de Jundiaí possui 403.769 mil pessoas, das quais 67 mil são acima de 60 anos e um total de 4 mil nascimentos/ano. Com base nestes números, podemos estimar uma população de idosos ensurdecidos em mais de 30 mil pessoas e uma média de 12 bebês nascidos anualmente com algum comprometimento auditivo. A realidade institucional demostra para os 18 municípios da região um movimento médio mensal de 1.240 pessoas e a Ateal possui 70.846 pacientes ativos. O número de pessoas em espera por aparelho auditivo é de 2.989.

Em Jundiaí há uma média de 70 pessoas/mês que entram para fila para receberem pelo SUS aparelhos auditivos, sendo disponibilizada 34 vagas/mês, o que acarreta hoje um número em espera de 707 pessoas, resultando num tempo em média de 1 ano e 8 meses para ser atendido. Em 2019, foram doados 2.739 aparelhos para 1.469 pessoas. Destes, 1.666 aparelhos vieram pelo Sistema Único de Saúde e 1.073 por projetos, convênios e doações de pessoas jurídicas e físicas.

Grendacc: A prevalência do câncer infanto-juvenil na cidade de Jundiaí é semelhante a do Brasil. Estima-se 8.400 novos casos em 2020 em todo o Brasil. O câncer infantil é a primeira causa de óbito por doença dos 1-19 anos. A taxa de cura é de aproximadamente 80%. 

Amarati: Sim, é possível traçar uma estimativa estatística. Mas lembramos que a Amarati tem uma clientela de assistência bem específica, o que já dificulta ter um número seguro nesses termos. Em regra, as estatísticas trabalham com nichos maiores, tais como deficientes físicos ou auditivos e não com seguimentos tão específicos como o da Amarati.

Bem-Te-Vi: Sim, de acordo com o IBGE, no Brasil em torno de 24% da população possui algum tipo de deficiência. Em relação às pessoas com síndrome de Down, no Brasil 1 a cada 691 nascimentos possui síndrome de Down. A cada ano de 3 mil à 5 mil pessoas nascem com síndrome de Down.

No seu entender, deveria haver uma política pública mais aprimorada para tratar com esse tipo de caso?

Ateal: Quando se fala em política pública, existem reflexões a serem feitas, a primeira considero como sendo a situação de vulnerabilidade da pessoa surda que vai muito além de uma política instalada. É necessária a adoção de medidas empoderadoras aos cidadãos surdos para que estes não se sintam incapazes de realizar suas atividades, se sintam realmente incluídos e, principalmente, para que façam parte das decisões de acessibilidade das comunidades, uma vez que a construção coletiva impacta diretamente sobre suas vivências e experiências. 

Um bom exemplo de construção coletiva, foi a Lei Brasileira de Inclusão, que em 2020 completou cinco anos; foi uma articulação e conquista que não se encerraram com a aprovação; pós-lei, ficou a responsabilidade para a pessoa com deficiência ser o protagonista e que assuma os espaços de acessibilidade.

As políticas públicas são necessárias para efetivação de garantia de direitos e, essas serão efetivas quando iniciadas por pesquisas referentes às situações enfrentadas pelo cidadão ou grupo a quem se destina. Nesse contexto, entender a deficiência não apenas no aspecto biológico, uma vez que a luta da inclusão das pessoas com surdez perpassa pela vida social e cultural das comunidades e trazem o espelhamento da opressão e rejeição. Sabemos, vivenciamos e acreditamos que o controle social deve ser exercido por uma sociedade participativa, só assim teremos políticas públicas bem formuladas, implementadas e avaliadas. O que falta é uma politica pública instalada que leve em consideração o real empoderamento da condição do surdo.

Grendacc: Em centros especializados para tratamento do câncer temos equipe multidisciplinar qualificada, porém a dificuldade está no diagnóstico precoce e encaminhamento rápido ao serviço de referência, no caso de Jundiaí, o Hospital da Crianaç do Grendacc. Muitas vezes há demora para o paciente chegar ao Grendacc.

Amarati: Nos últimos anos houve grande avanço em geral no que se refere a politica de pessoas com deficiências. O maior problema ainda é que, como visto, dentro do espectro pessoas portadoras de algum tipo de deficiência há uma enorme gama de síndromes ou particularidades que as vezes não são bem compreendidas ou mesmo assimiladas pelo Poder Público em geral. As discussões e propostas legislativas tratam os casos como todos sendo de mero acessibilidade a cadeirantes ou questões similares, não havendo uma abordagem ou politica mais clara em relação a casos mais específicos e complexos. Mas o Brasil tem caminhado, às vezes aos trancos e barrancos, mas tem caminhado em uma evolução e cremos que a tendência é de melhora neste segmento.

Bem-Te-Vi: Com certeza! Partindo do princípio que todos são iguais perante a Lei, o Estado junto com o município deveriam oferecer essas condições aprimoradas. Porém devido essa carência na política pública as pessoas com síndrome de Down estão vulneráveis. Precisando assim, que as organizações façam este serviço buscando voluntários que abracem juntos essa causa nobre.

Há casos de recuperação praticamente total na instituição?

Ateal: Temos muitos casos de sucesso e alguns insucessos. O desenvolvimento de cada criança é único e dependerá do contexto social, familiar e cultural onde ela está inserida. Quando o diagnóstico é feito ainda no berçário e acompanhado no seu processo de desenvolvimento cognitivo, com foco nas habilidades sensoriais do ouvir e falar, podemos afirmar que o sucesso é promissor e real.

Na Ateal, fazemos a triagem auditiva neonatal (teste da orelhinha) no berçário do Hospital Universitário e em casos de “falha” nesse exame, ou seja, suspeita de alteração auditiva, automaticamente há o agendamento para exames de diagnóstico na Ateal, e conforme os resultados as devidas condutas são tomadas como por exemplo orientação familiar, reabilitação para indicação de prótese auditiva ou implante coclear e para estimulação sensorial para ouvir e falar. Um conjunto de conhecimentos técnico, social, emocional e científico que se entrelaçam para se obter o melhor resultado. Sabemos que em recém-nascidos se não houver o diagnóstico da perda auditiva durante os primeiros anos de vida, pode afetar de maneira permanente as habilidades cognitivas e linguísticas assim como seu desempenho social e emocional.

Grendacc: Sim, a grande maioria dos pacientes são curados.

Amarati: Como já falamos, em se tratando de lesão neurológica na maioria dos casos o que ocorre devido a neuroplasticidade cerebral é uma reorganização das funcionalidades, as quais acontecem através da atuação da equipe técnica.

Bem-Te-Vi: A síndrome de Down é uma condição genética, e não uma doença, sendo assim, elas necessitam não somente de fisioterapia, mas de Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Psicologia, hidroterapia, acompanhamento médico, e acompanhamento pedagógico, durante toda a vida. Sem esses atendimentos os indivíduos não conseguem evoluir, tendo muitas dificuldades, tanto na parte motora, quanto cognitiva, os atendimentos servem para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.

Há cirurgias para reverter o processo de deficiência?

Ateal: Sim, há o implante coclear recomendado para crianças e adultos que possuam perda auditiva neurossensorial severa/profunda. O implante coclear é uma prótese eletrônica introduzida cirurgicamente na orelha interna, que capta a onda sonora e transforma em impulso elétrico estimulando diretamente o nervo coclear. O primeiro implante ocorreu em 1977 e desde essa data a evolução tem sido grandiosa, sua indicação é feita por uma equipe multidisciplinar e disponibilizado pelo SUS e alguns seguros de saúde.

A cirurgia é apenas uma etapa de todo o processo de reabilitação auditiva. Após 30 ou 40 dias após a operação, é feita a ativação, o aparelho é ligado e se passa a ouvir os sons, o paciente inicia um processo contínuo de reabilitação para treinar as habilidades em ouvir e o feedback auditivo que são essenciais para adquirir a fala. Pós-implante se observa, na maioria dos casos, melhora na habilidade de localização do som, dos ruídos, sons ambientais, no reconhecimento de fala, no desenvolvimento da linguagem oral, no ritmo e prosódia. As pesquisas científicas caminham em direção a “cura da surdez”, quem sabe poderemos usufruir dos resultados num futuro de médio prazo, entretanto, isso não significa que as pessoas com deficiências auditivas devam esperar, o que podemos fazer agora é apresentar soluções imediatas para melhorar a qualidade de vida.

Grendacc: O câncer infanto-juvenil abrange diversos tipos de doença, como leucemias, tumores de sistema nervoso central, linfomas, entre outros. Atualmente, a taxa de cura é mais de 80%. Há cirurgias para isso, dependendo do tipo de câncer. Os tumores sólidos geralmente precisam de cirurgia para ressecção do tumor, juntamente com quimioterapia e/ou radioterapia. 

Amarati: No caso de uma lesão neurológica, não podemos falar em recuperação total, mas sim de uma reabilitação com aquisições próximas a normalidade, podendo variar imensamente conforme o diagnóstico, lembrando que muitos casos se referem a patologias de nascença e algumas progressivas. Importante ressaltar que não só a fisioterapia é um recurso no tratamento destas lesões, oferecemos atendimento multidisciplinar humanizado. Há cirurgias não para reverter, mas sim para dar maior funcionalidade, independência e qualidade de vida. 

Bem-Te-Vi: A síndrome de Down é uma condição genética, e não uma doença, sendo assim, elas necessitam não somente de fisioterapia, mas de Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Psicologia, hidroterapia, acompanhamento médico, e acompanhamento pedagógico, durante toda a vida. Sem esses atendimentos os indivíduos não conseguem evoluir, tendo muitas dificuldades, tanto na parte motora, quanto cognitiva, os atendimentos servem para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.

A instituição recebe pacientes de quais cidades?

Ateal: Através do Sistema Único de Saúde (SUS) a Ateal é referência para atendimento na área de saúde auditiva para as cidades de Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Cabreúva, Campo Limpo Paulista, Itatiba, Itupeva, Jarinu, Jundiai, Joanópolis, Louveira, Morungaba, Nazaré Paulista, Pedra Bela, Pinhalzinho, Piracaia, Tuiuti, Vargem Grande, Várzea Paulista, totalizando mais de 1.400.000 pessoas. Cabe informar que o encaminhamento para atendimento na Ateal sempre deverá ser feito via Secretaria de Saúde de cada cidade.

Grendacc: Recebemos pacientes de Jundiaí e região – Jarinu, Louveira, Itupeva, Itativa, Campo Limpo Paullista, Várzea Paulista, Cabreúva.

Amarati: A Amarati atende majoritariamente assistidos de Jundiaí, mas possui, via parcerias, atendimentos com os municípios de Jarinu e Franco da Rocha além de alguns atendimentos particulares.

Bem-Te-Vi: A Bem Te Vi, recebe paciente de Jundiaí, via porta de entrada SUS. Os pacientes de outras regiões também podem ser atendidos, mas com outras condições.

Prefeituras ajudam?

Ateal: Na verdade, a “ajuda” ocorre através de contratos e convênios para prestação de serviços aos munícipes. Atualmente os contratos vigentes são com as prefeituras de Jundiaí, Campo Limpo, Cajamar, Cabreúva, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões e Jarinu.

Grendacc: O que temos com as prefeituras são convênios/contratos de prestação de serviços.

Amarati: Sim, conforme consta nas informações em nosso portal da transparência. Contudo, os valores repassados são insuficientes para a manutenção das atividades da Amarati conforme previsão orçamentária ali publicada, no qual se aponta déficit previsto.Bem-Te-Vi: A  Prefeitura de Jundiaí oferece uma pequena ajuda para os atendimentos, por meio de convênio.

Como ajudar

Ateal

Participação da corrida virtual 2020 – Acesse: https://minhasinscricoes.com.br/evento/ATRun; participação no programa da Nota Fiscal Paulista, para Cadastro no programa  em prol da Ateal (CNPJ: 51.910.842/0001-11) ou captação e digitação de cupons fiscais; contribuição com R$20 para manter os serviços e concorrer à um Kwid 0 KM – informações e aquisição: ateal@ateal.org.br; doação espontânea – informações: ateal@ateal.org.br; aquisição dos produtos sociais da linha Ateal Social- produtos disponíveis na recepção da Ateal ou informações por e-mail: ateal@ateal.org.br; e como voluntários, solicitando sua inscrição  pelo e-mail: rh@ateal.org.br.

Grendacc

A população pode ajudar por meio de doações em vários canais, desde depósito em uma de nossas contas bancárias, pelo Telemarketing (11 4815-8440 – opção 4), baixando o aplicativo DoarFácil, pela Vakinha, ou participando de ações, como as rifas, por exemplo. Também é possível doar a Nota Fiscal Paulista, seja pelo próprio aplicativo do Grendacc, o NotaBê, ou direto na Receita Federal.

Amarati

Existem várias formas, seja por campanhas especificas seja como doador regular. A ideia é que mais e mais pessoas possam colaborar, ainda que com valores reduzidos, mensalmente, de forma a permitir que a pulverizações de contribuições possam auxiliar a cobrir o orçamento. A Amarati está para lançar uma campanha especifica neste sentido via mídias sociais. Para informações: www.amarati.org.br ou 11 3378-5800.

Bem-Te-Vi

Doando alimentos, produtos de higiene e limpeza, roupas para a realização dos bazares. Qualquer quantia em dinheiro: Banco Itaú – agência 0026 – CC 08382-4 – CNPJ. 59.035.642/0001-79 – favorecido: Centro de Atendimento à Síndrome de Down Bem Te Vi. Outras informações: (11) 4526-9446, down@bemtevi.org.br, https://www.facebook.com/bemtevi.jundiai e https://instagram.com/bem.tevijundiai?igshid=18nkai46ua4qy.

Urbem
Urbemhttps://novodia.digital/urbem
A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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